O Estado de São Paulo (2020-04-05)

(Antfer) #1

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A4 DOMINGO, 5 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Marta Suplicy,
ex-prefeita de
São Paulo

»Raios. Há, claro, várias
pedras no caminho que le-
va até 2022. Uma delas
Mandetta já nomeou (Bolso-
naro), a outra, muito
maior, é a covid-19: nin-
guém é capaz de saber se
algum agente público sairá
forte politicamente ao final
da grande tempestade.

»Trovões. No próprio
DEM, partido de Mandetta,
há resistência quanto ao
assunto, ainda que ele te-
nha se reaproximado da cú-
pula dirigente com a crise.
Enquanto isso, setores do
PSDB crescem o olho na
direção do ministro.

»Porta. Comandar o com-
bate à pandemia em São
Paulo, o Estado mais afeta-
do até agora, seria uma saí-
da para Mandetta, caso ele
venha a ser demitido por
Jair Bolsonaro na crise.

»Trincou. A despeito da
resiliência de Bolsonaro em
alguns cenários das recen-
tes pesquisas de avaliação,
marqueteiros experientes
acham que ela já dá sinais
de estar com dias contados.

»Trincou 2. Começaram a
surgir as primeiras rachadu-
ras no bloco dos que consi-
deram o governo Bolsonaro
ótimo ou bom, o famoso
“um terço” da população
fidelíssimo ao presidente.

»Trincou 3. Se as fissuras
se ampliarem, restará a Bol-
sonaro dobrar a aposta na
radicalização ou dar um ca-
valo de pau rumo à concilia-
ção, avaliam os analistas.
Ambas opções são de risco.

»Dureza. A Casa Civil tem
se esforçado para concen-
trar no presidente o anún-
cio dos programas de com-
bate à covid-19, mas a tare-
fa não é fácil: Paulo Guedes
anunciou o projeto do “pas-
saporte da imunidade”, que
seria apresentado em pri-
meira mão por Bolsonaro.

»Eu quero... A chegada de
Marta Suplicy ao Solidarie-
dade fez um perspicaz ana-
lista do cenário eleitoral
paulistano se lembrar do
famoso funk de Ludmilla:
“cheguei chegando, bagun-
çando a zorra toda”.

»...mais é... Se decidir pela
candidatura própria, Marta
cria um problema para a
esquerda: congestiona a pis-
ta canhota, que já tem Már-
cio França, PSOL e PT.

»...que se exploda. À direi-
ta, Marta força Bruno Co-
vas a escolher um vice con-
servador. Ou seja, deu ruim
para Alexandre Youssef.

»Rating. O governo de São
Paulo obteve no Supremo
liminar revertendo decisão
do Tesouro Nacional de re-
baixar a nota de crédito do
Estado e de suspender a
sua Capacidade de Paga-
mento (Capag).

»Rating 2. O rebaixamen-
to havia paralisado pedidos
de empréstimos feitos pelo
Estado no valor de R$ 4,
bilhões de reais. A vitória
da Procuradoria-Geral pau-
lista abre precedente para
os outros Estados e pode
abrir um precedente para o
relator do Plano Mansueto,
o deputado Pedro Paulo
(DEM-RJ).

COM MARIANNA HOLANDA
E MARIANA HAUBERT.

O


bom desempenho de Luiz Henrique Mandetta em
pesquisas sobre a crise do coronavírus faz o entor-
no dele sonhar alto. Os bolsonaristas, do outro la-
do, querem ver o ministro picado pela “mosca azul”. Se há
pouco tempo a prefeitura de Campo Grande era a opção
preferencial de destino político para o titular da Saúde, o
DEM já fala no governo de MS, no Senado e até no Planal-
to. Mandetta desconversa: não quer dar a Jair Bolsonaro a
chance de acusá-lo, a exemplo do que o presidente fez
com João Doria, de usar a crise como palanque eleitoral.

Mandetta e a ‘mosca


azul’ das pesquisas


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Igrejas ocupam 663
imóveis da União.

Pág. A


Propriedades


Estados e municípios


gastam mais com o SUS


Desde 2002, unidades da Federação concentram o financiamento de ações do Sistema


Único de Saúde; União arcava com 52% das contas e hoje responde por 43% do total


Adriana Ferraz

A queda de braço travada pe-
lo presidente Jair Bolsonaro
com governadores e prefei-
tos pela prerrogativa de defi-
nir as medidas necessárias pa-
ra combater o novo coronaví-
rus não encontra equilíbrio
nas contas da saúde pública.
A fatia assumida pelo gover-
no federal no financiamento
de ações do Sistema Único de
Saúde (SUS) caiu de 2002 pra
cá. No início da série históri-
ca, a União arcava com 52%
das contas, hoje paga 43%.
Apesar de na média nacional
o governo federal ainda ser o
maior patrocinador do sistema,
o que se observa é uma crescen-
te participação dos demais en-
tes federativos. São 11 os Esta-
dos que já superam a União nas
contas da saúde pública, de
acordo com dados de 2017 do
Ministério da Saúde. No Acre,
por exemplo, a parcela estadual
per capita é de 56%, enquanto a
do governo federal fica em 30%.
Não por acaso, o governador
Gladson Cameli (PP) ignorou
os apelos de Bolsonaro, de quem
é aliado político, para ir contra
as determinações médicas e dei-
xar o comércio aberto. Aconse-
lhado pelo ministro da Saúde,
Luiz Henrique Mandetta, deter-
minou o isolamento social e afir-
mou que, entre salvar vidas e a
economia, fez a sua escolha.
Cameli também é um dos 24
governadores signatários de
uma carta enviada ao presidente
no fim de março, cobrando de
Bolsonaro a defesa do distancia-
mento social e a implementação
de ações fiscais de socorro a Esta-
dos, como a suspensão do paga-
mento das dívidas com a União.
Governador do Espírito San-
to, Renato Casagrande (PSB)
disse que a redução da participa-
ção federal levou o governo a am-
pliar para 18% da receita os inves-
timentos na saúde, quando a
Constituição estabelece 12%.
“Tivemos de aumentar nosso or-
çamento em saúde para fazer
frente a essa postura federal,
que nem é de responsabilidade
do governo de Jair Bolsonaro. Is-
so vem de anos já”, ressaltou.
Casagrande afirma que a co-
vid-19 escancara essa diferença
e deve levar a União a rever es-
ses repasses. “Vão ter que au-
mentar sua parcela. Há Estados
que não têm como financiar um
sistema que bloqueie o vírus.”
O governo de São Paulo infor-
mou que tem pleiteado recor-
rentemente recursos ao Minis-

tério da Saúde. Até o momento,
o governo federal publicou
duas portarias que destinam R$
222 milhões ao SUS do Estado.
Conforme o Palácio dos Bandei-
rantes, deste total, R$ 147 mi-
lhões foram repassados às pre-
feituras, incluindo R$ 28 mi-
lhões em insumos.
O governador João Doria
(PSDB), que há semanas vem
travando um embate com o pre-
sidente Bolsonaro por causa da
condução da crise, afirmou ao
Estado que irá ao Supremo Tri-
bunal Federal se o governo fede-
ral “romper o pacto federativo e
de respeito à proporcionalida-
de” na divisão de verbas.
O economista Rudi Rocha,
da escola de administração da
FGV-SP, ressalta que o aumen-
to da participação de Estados e
municípios ao longo da última
década no bolo do SUS não sig-
nifica que inexista escassez de
recursos, pelo contrário.
“O subfinanciamento é crôni-
co e vem de longa data. Frente à

atual crise, nunca na história do
SUS foi necessária tanta coorde-
nação de ações e tanta rapidez
na mobilização de recursos. As
prerrogativas de quem manda
no sistema deveriam ficar de la-
do. Como seu próprio nome
diz, o sistema é único”, disse.
Em meio a esse cabo de guer-
ra, o governador de Goiás, Ro-
naldo Caiado (DEM), que é
médico e até então aliado de Bol-
sonaro, rompeu com o Planalto
e criticou declarações do presi-
dente sobre medidas de comba-
te ao vírus – como os questiona-
mentos ao isolamento social da
população e a defesa da reaber-
tura do comércio para proteger
a economia. Caiado foi um dos
responsáveis pela indicação de
Mandetta, ministro que está
também no centro do embate
de Bolsonaro com os governa-
dores e que passou a ser alvo
direto do presidente.
Na semana passada, a briga
entre os chefes dos Executivos
estaduais e Bolsonaro transcen-
deu o Palácio do Planalto. O pre-
sidente do Banco do Brasil, Ru-
bem Novaes, afirmou que os
“governadores e prefeitos impe-
dem a atividade econômica e
oferecem esmolas, com o di-
nheiro alheio, em troca”.
“Independentemente de
quem paga a conta, a crise atual
nos mostra como saúde custa ca-
ro e como ela é importante. Acho
que este será um legado, e espero
que a sociedade brasileira incor-
pore mais recursos e mais solida-

riedade ao SUS. Caso contrário,
acredito que as tensões distribu-
tivas tenderão aumentar, em par-
ticular entre entes da Federa-
ção”, observou Rocha.

Repasses. Em nota, o Ministé-
rio da Saúde afirmou que, desde
2000, quando foi aprovada emen-
da constitucional que definiu um
mínimo a ser aplicado por Esta-
dos (12% da receita) e municípios
(15%), era natural que, a partir de
então, de forma gradativa, fosse
ampliada a parcela dos gastos dos
demais entes da Federação.
“Contudo, em nenhum mo-
mento, o governo federal dimi-
nuiu a verba empregada em
ações e serviços públicos de saú-
de. Em 2019, a participação da
União (43% – R$ 122,2 bilhões)
continuou representando
maior porcentual de gastos em
saúde do que o gasto pelos Esta-
dos (27% – R$ 75,8 bilhões) e o
conjunto dos municípios (30%


  • R$ 84,8 bilhões). Para este
    ano, o orçamento atual do Mi-
    nistério da Saúde em ações e ser-
    viços públicos de saúde é de R$
    135,9 bilhões, sendo R$ 10,8 bi-
    lhões superior ao orçamento de
    2019”, diz o texto.


l Legado

Vinicius Poit

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Valor por ano

● Gasto público em ações e serviços públicos voltados à área da Saúde

REPASSES

FONTE: SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE ORÇAMENTOS PÚBLICOS EM SAÚDE (SIOPS) / TASSIA HOLGUIN , ECONOMISTA DA UFRJ INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM BILHÕES DE REAIS

*VALORES ATUALIZADOS

Valor por ente federativo
EM PORCENTAGEM UNIÃO ESTADOS E MUNICÍPIOS

40

45

50

55

60

43

57

2002 2019

100

150

200

250

300
283

2002 2019

“A crise atual nos mostra
como saúde custa caro e
como ela é importante.
Acho que este será um
legado, e espero que a
sociedade brasileira
incorpore mais recursos e
mais solidariedade ao SUS.”
Rudi Rocha
ECONOMISTA DA FGV-SP

PRONTO, FALEI!

FELIPE RAU/ESTADÃO – 5/3/

MARCELLO CASAL JR./AGENCIA BRASIL–6/10/

Planejamento. Nunca na história do SUS foi necessária tanta coordenação de ações e rapidez na mobilização de recursos

“É inacreditável ver os que não querem abrir mão
do ‘fundão’ boicotarem a emenda do Novo que auto-
rizava a doação de R$ 2 bilhões para salvar vidas.”

Deputado federal (Novo-SP)

»CLICK. O prefeito ACM
Neto recebe a bênção so-
lene na Colina Sagrada.
A imagem do Senhor do
Bonfim percorreu as
ruas de Salvador, em pro-
cissão na sexta-feira.

TWITTER/ACM NETO

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Portal. Análises
sobre a saúde
pública e o SUS

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