O Estado de São Paulo (2020-04-05)

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H14 Especial DOMINGO, 5 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

Igor Macário

O Learmousine é um veículo pa-
ra lá de diferente. Trata-se de
uma limusine feita a partir de
um jato Learjet 45 que estava
fora de operação. O “carro”,
com nada menos que 12 metros
de comprimento, será leiloado
em breve nos EUA.
O jato começou a ser transfor-
mado em limusine em 2005 – a
preparação da estrutura levou
dois anos para ficar pronta. A
suspensão e o sistema elétrico
foram feitos sob medida para a
Learmousine. O projeto só foi
concluído após 13 anos.
A cabine, originalmente pro-
jetada para acomodar o piloto,
teve de ser totalmente retraba-
lhada para receber os novos co-
mandos, semelhantes ao de car-
ros. O painel veio de uma pica-
pe Chevrolet Silverado e há vá-
rias telas que mostram imagens
das câmeras instaladas ao redor
da fuselagem.
A área reservada aos passagei-
ros também foi totalmente re-
feita. O acabamento mistura
elementos de automóveis de lu-
xo e aviões. Há assentos (reves-

tidos de couro) para nada me-

nos que 18 pessoas, que podem

assistir toda sorte de vídeos em

uma TV de 42 polegadas. Esse

espaço também conta com bar

e um completo sistema de som

e de iluminação.

‘Motorzão’. Para mover a enor-

me limusine há um motor V8 de

8,1 litros da Chevrolet instalado

no centro do veículo. Não há

qualquer infor-

mação sobre co-

mo é dirigir o

exótico veículo.

Aliás, quem ar-

rematar a Lear-

mousine no lei-

lão, que deve

ocorrer em maio,

levará também uma Chevrolet

Silverado 2500 HD de 2015. A

picape recebeu adaptações pa-

ra poder rebocar o “carrão”.

Diversidade. A Learmousine

não é o único veículo, digamos,

diferente feito nos EUA. Os nor-

te-americanos são bastante

criativos e não é raro aparece-

rem notícias sobre modelos um

tanto “excêntricos”.

É o caso do Wienermobile, da

marca de embutidos Oscar Ma-

yer. O furgão transformado em

uma espécie de cachorro-quen-

te gigante é um clássico da em-

presa. O primeiro exemplar foi

criado em 1936 pelo fundador

da Oscar Mayer, Carl Mayer.

O modelo tem motor V8 de 6

litros e 340 cv de potência. A em-

presa mantém uma frota com

outros Wienermobile de vários

tamanhos, incluindo um basea-

do em um Mini Cooper.

Já quem gosta de barcos e car-

ros poderá se inte-

ressar pelo Boat-

Car (à direita).

Trata-se de uma

lancha Sea Ray de

24 pés montado

sobre o chassi de

um furgão Ford

E-350.

O motor V8 foi mantido e o

veículo pode rodar como um car-

ro. No entanto, por causa da

adaptações, sua parte “barco”

deixou de ser utilizável. Na práti-

ca, se for colocado na água, o

BoatCar certamente irá afundar.

E, para quem deseja fazer a

“última viagem” com estilo, um

carro funerário japonês pode

ser a pedida. O modelo foi feito

sobre um Toyota Crown 1991 e

traz uma réplica de um templo

na traseira. O motor é um seis-

cilindros de parcos 2 litros.

JornaldoCarro

N

o dia da Queda da Bastilha

(14 de julho de 1789), o rei

Louis XVI da França voltou

à sua casa, Versailles, depois de

uma caçada matinal, tomou (pre-

sumivelmente nessa ordem) um

banho e seu café, e abriu o diário

em que anotava os principais acon-

tecimentos do dia, todos os dias.

Na falta de um acontecimento no-

tável, Louis XVI escrevia um pen-

samento e, na falta de um pensamen-

to, recorria a trivialidades, como o

número de animais abatidos no bos-

que do castelo, ou alguma observa-

ção de Maria Antonieta sobre os mo-

dos da corte, ou uma indisposição

digestiva do próprio rei. Naquele

dia, nem detalhes da caçada, nem in-

trigas da corte e nem cólicas merece-

ram uma citação real. Depois de enca-

rar a página em branco do diário por

alguns instante, com um certo tédio,

Louis XVI escreveu:

“Rien”.

*

“Rien”, “rien” de “rien”! A história

do mundo chegava a um dos seus co-

tovelos, quando tudo muda de dire-

ção, e Louis XVI não julgou o fato

digno de nota. Mas esta crônica não é

sobre a insensibilidade dos reis ou

sobre a importância da eterna vigi-

lância em quem não quer ser pego de

surpresa pela História, e muito me-

nos sobre a incompetência de quem

deveria, pelo menos, manter o rei

bem informado. Esta crônica é uma

proclamação de inveja. Imagine-se

morando em Versailles, onde as notí-

cias do mundo real custam a chegar.

Imagine-se um Louis XVI desobriga-

do de saber o pior, abençoado pela

ignorância.

*

Imagine poder escrever “rien” em

todas as páginas do seu diário, hipo-

tético ou não, que tratariam da pan-

demia dos coronavírus e seus estra-

gos se não tivéssemos renunciado

à vida real ou assumido a incons-

ciência de um rei de França, que

inveja. Como não podemos nos

fingir de Louis XVI, também não

podemos exigir os privilégios do

seu trono e estamos condenados

ao assunto único, esperando que o

leitor entenda.

*

Se o assunto inescapável é repe-

titivo e trágico, acompanha-o um

circo: um governo, pior do que

sem cabeça, com muitas cabeças

se batendo no picadeiro. Nin-

guém está rindo.

Verissimo

LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE

ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

PARA CHAMAR PARA CHAMAR

A ATENÇÃOA ATENÇÃO

EBAY

l]

Rien

LEARMOUSINE TEM

12 METROS, MOTOR

V8 DE 8,1 LITROS E

LEVA 18 PASSAGEIROS

MOTOEXOTICA OSCAR MAYER/DIVULGAÇÃO

Limusine feita a partir de jato, barco sobre rodas, furgão

em forma de cachorro-quente e até um templo japonês são

algumas das criações curiosas feitas por fãs de veículos

‘Limujato’.

Foram

necessários

13 anos para

transformar

o Learjet 45,

que estava

fora de uso

‘Carsicha’.

Frota de

marca de

embutidos

tem carros

como este

furgão Ford

adaptado

BoatCar.

Lancha foi

montada

sobre chassi

de furgão

grande da

Ford, tem

motor V8 e

pode rodar

nas ruas,

mas deixou

de flutuar

Funerária.
Modelo feito
sobre um
sedã Toyota
traz réplica
de templo
japonês
na traseira

FOTOS: MECUM/DIVULGAÇÃO

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