ligação, para eles devia ser apenas uma cena corriqueira do dia a dia, como dois rapazes
brigando por futebol até que alguém intervenha, referência a cena inicial de Romeu e Julieta.
Após esse processo de conhecimento do texto através de leituras e improvisos, eles
estavam prontos para identificar na peça, todas as relações sociais que eles julgassem válidas
no texto. Neste momento era primordial que eles tivessem autonomia para identificar
situações que os incomodavam ou que eles gostavam, e como elas podiam estar ligadas com
o dia a dia deles.
Quando terminada a leitura da peça, a pergunta feita era “Que relações vocês
identificam entre os personagens?” Nesse momento uma grande roda de conversa se
formava, durante todo o tempo eles concordavam e discordavam, levantavam seus motivos
e muitas vezes, até usavam si próprios como exemplo para dizer se era ou não uma relação
boa ou ruim.
Aos poucos algumas situações começaram a se sobressair na roda de conversa, uma
delas é referente a peça Romeu e Julieta , havia uma indignação dos estudantes com a família
de Romeu, eles deixavam claro que incomodava o fato da família da Julieta ter tanta
interferência na história e a de Romeu não. Alguns estudantes também evidenciaram que o
contexto histórico auxiliava para que a Julieta - mulher em uma época que não tinha poder
nenhum sobre seu corpo - acabasse sendo a mais influenciada pela família.
Além disso, era perceptível pelos estudantes a total falta de autoridade vinda do
Príncipe Escalus, que como eles mesmos diziam “o príncipe não faz nada”. Essa noção trouxe
um discurso atual aos estudantes, que chegaram a compará-lo com um presidente brasileiro
que, segundo eles, também não conseguiu governar o país. Outra questão sensível na peça
foi a relação de Julieta e seu pai.
Neste momento uma das identificações mais fortes nasceu. Muitos estudantes
sentiram certo desconforto com a situação dela, pois se viam diante de situações parecidas
com a que acontecia com Julieta, como podemos ver no relato a seguir de alguns estudantes.
(^2) Lúcia: Minha mãe mesmo...tipo me chama de cadela, de filho da puta, de demônia
e mais altas coisas, grita comigo. Isso mexe com meus sentimentos.
Carla: Meu pai porque ele sempre fica me botando contra parede falando altas
coisas pra mim me fazendo me sentir um lixo.
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Os nomes usados neste trabalho são fictícios