SHAKESPEARE E AS TEMPESTADES LATINO-AMERCANAS: REPENSANDO E
DESLOCANDO IDENTIDADES
Warley Alves Gomes
Doutor em HistóriaI − Introdução
O texto a seguir foi escrito a partir de um grande desafio: falar sobre o dramaturgo mais
conhecido da história ocidental. A princípio, o excesso de fontes disponíveis poderia
levar a pensar que a tarefa não seria tão árdua, pois bastaria ao autor fazer um recorte
temático e trabalhar a partir dele. No entanto, esse artifício, indispensável a toda
pesquisa, quando se trata de William Shakespeare (1564 – 1616), parece ser ainda mais
insuficiente, pois sua obra perpassa por tantos meandros da condição humana que não
importa a seleção de fontes que se faça, muitas outras são deixadas de lado.
É a partir disso que desejo introduzir o artigo: a ideia inicial seria pensar as repercussões
das obras de Shakespeare na América Latina, mas o tema se mostrou excessivamente
amplo, o que inevitavelmente me conduziria a escrever algo sem substância em um
espaço de poucas páginas. Ou seja, como perpassar pelas apropriações das obras do
bardo feitas na América Latina, quando muitas destas referências – como ocorre com
todo autor cuja imagem e histórias se difundiram de tal forma pelo imaginário popular
- estão tão diluídas que a menção a elas sequer são explícitas? Só para pensar o caso
mexicano, a obra La mujer domada , de Mariano Azuela, é uma clara referência,
enquanto em La sombra del Caudillo , de Martín Luis Guzmán, a semelhança com Júlio
César apenas pode ser inferida a partir das estruturas narrativas de ambas as obras.
Estender a análise ara toda a região seria uma tarefa impossível, neste ou em qualquer
outro espaço.
A decisão tomada então foi a de analisar apenas algumas apropriações de uma única
obra de Shakespeare, sem dúvidas a mais importante para a história latino-americana,
pois vem sendo fundamental para pensar a identidade da região. Refiro-me aqui à A
tempestade , escrita provavelmente por volta de 1610 - 1611 e considerada a última do