LIVRO DIGITAL ENCONTRO SHAKESPEARE 2.1 - 2023

(Shakespeare 2.1EU1AMn) #1

Estamos olhando para 1974. Nascido em Campinas, interior de São Paulo,
surge nosso primeiro personagem: o autor. Esta é a primeira pausa para olharmos o
universo feminino e o masculino mais de perto. Olharmos com uma lupa ou pelo
buraco da fechadura desvendando segredos guardados por “atores” do universo
masculino (pais, tios, amigos). As referências musicais e de literatura eram
resultantes diretas do militarismo: “Marcha soldado, cabeça de papel, se não
marchar direito, vai preso pro quartel” – uma música que ganhava as escolas, ruas e
casas. O desfile a cada 7 de setembro, a obrigatoriedade do serviço militar aos 18, e
a ideia de que eu deveria respeitar as regras e seguir os padrões do meu pai, do meu
avô, e bisavô estava cada vez mais clara nessa pessoa em sua formação. Identifico
algo que nomeio “herança” de forte traço machista como algo que era apontado,
escolhido e direcionado pelos mais velhos.
Nesta pesquisa encontro os dados relatados por Leandro Tibiriçá em estudos
sobre Dido, a Rainha de Cartago: como Christopher Marlowe influenciou
Shakespeare e marcou nossa noção de gênero
em que o autor nos brinda ainda com
uma longa reflexão sobre a forma do valor no racionalismo universalista burguês,
ligado sobretudo a questões de gênero e classe, no momento em que a personagem
Dido, rainha de Cartago , subia à ribalta.” (ILARI, 2023, p. 2). A partir deste estudo
passei a identificar que tanto Enéas como Hamlet carregam traços machistas nas
suas falas, nas linhas impressas na dramaturgia das peças de teatro. A certeza veio
ao relembrar a ocasião em que interpretei esses dois personagens e proferi também
fora do palco frases muito próximas, ou até ouvi no cotidiano frases que carregavam
o mesmo teor opressor em relação às figuras femininas, e pude observar os reflexos
causados nas mulheres. Então esse é foco real desta observação.
Observo a sociedade inglesa no ano de 1564, nascimento tanto de Crhistopher
Marlowe como de William Shakespeare, e passo a observar fortes traços, indícios,
possíveis pistas da atuação machista nos dois textos teatrais, objetos deste estudo, e
comparo o período com a minha realidade vivida em 1974. Identifico a minha
criação como machista, pois carregou traços, elementos dos anos 60 e 70 que
haviam sido potencializados por uma carga intensificada pelo militarismo. Sigo
minha pesquisa até o momento em que me deparo com o processo de
interpretação, primeiramente de Hamlet (quando completei 16 anos de idade) e

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