LIVRO DIGITAL ENCONTRO SHAKESPEARE 2.1 - 2023

(Shakespeare 2.1EU1AMn) #1

OFÉLIA VIVA, UMA JORNADA EM BUSCA DA VIDA


Weslaine Gomes^1

Resumo: O presente trabalho propõe apresentar o processo criativo entorno da construção
do curta-metragem Ofélia Viva , realizado pela atriz e pesquisadora Weslaine Gomes – Wes
Gomes. O curta foi realizado em 2021 com recursos da Lei Aldir Blanc de Emergência Cultural
de Minas Gerais e coloca em cena a personagem Ofélia, da peça Hamlet, de William
Shakespeare. Ofélia é frequentemente representada como louca e/ou morta. O curta se
contrapõe à esta representação e reflete sobre o imaginário social que possibilita a
emergência destas representações. Em Ofélia Viva, a personagem demonstra sua força,
resiliência e vivacidade no enfrentamento às situações de abuso e violência.


Por que Ofélia Viva?
Desde o início a ideia era que a personagem Ofélia se apresentasse aos olhos do público
como uma mulher pulsante, forte, viva, apesar dos vários episódios na peça em que a
personagem recebe um tratamento nada cuidadoso por parte daqueles que, em teoria,
deveriam protegê-la, amá-la e cuidá-la, como seu pai, Polônio, seu irmão Laertes, seu amante,
Hamlet, o rei Cláudio e a rainha Gertrudes. Poucas foram as vezes em que tais personagens
consideraram Ofélia em seus dilemas, suas vulnerabilidades e necessidades. As personagens
da peça estavam quase sempre ocupadas calculando os benefícios que poderiam obter em
cada relação no reino e agindo para manter suas posições e privilégios. Ofélia estava
desamparada e longe da preocupação de todos a maior parte do tempo.
No entanto, embora Ofélia estivesse desamparada, a personagem demonstrou força
diante de toda a adversidade. A suposta loucura não é vista aqui como fraqueza, mas como
uma resposta sã e urgente à situações enormemente dolorosas, como a partida e mudança
de seu irmão, o assassinato de seu pai por Hamlet e a fúria do próprio protagonista contra ela.


1
Weslaine Gomes é atriz, produtora, gestora cultural, cientista política e professora. Formou-se em no curso
Técnico de Formação de Atores do Teatro Universitário (UFMG), fez graduação em Ciências Sociais e mestrado
em Ciência Política, ambos também na UFMG. Possui especialização em Políticas Culturais de Base Comunitária
pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO). Leciona na Escola Livre de Artes Arena da Cultura
de Belo Horizonte. Membro-fundadora da Tríade Cia de Teatro e do Coletivo de Produção Cultural La Noche é
Cênica. Concebeu e coordena o projeto Shakespeare 2.1, que busca um diálogo entre as obras do escritor e a
contemporaneidade.

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