LIVRO DIGITAL ENCONTRO SHAKESPEARE 2.1 - 2023

(Shakespeare 2.1EU1AMn) #1

mais que o amadurecimento social já tenha mudado o pensamento antigo, ainda
ocorrem inúmeros casos de machismo e, em grande parte, incluindo a violência. Os
dados de feminicídio em todo o mundo são inaceitáveis. Vejo tais traços de
machismo nos seguintes exemplos:


Hamlet :
Ó Deus, ó Deus! Como são enfadonhas, azedas ou rançosas,
Todas as práticas do mundo!
O tédio, ó nojo! Isto é um jardim abandonado,
Cheio de ervas daninhas,
Invadido só pelo veneno e o espinho
Um quintal de aberrações da natureza.
(FERNANDES, 1988, p. 12).

Traço um paralelo direto utilizando o termo “cheio de ervas daninhas”,
proferido pelo personagem Hamlet , carregado de raiva pela sua mãe, Gertrudes
(Rainha da Dinamarca), presente na cena como representação feminina, durante o
monólogo em questão e percebo, identifico, alguns termos semelhantes que eram
proferidos na década de 80, enraizados desde as décadas de 60 e 70 em Campinas,
através da fala popular do interior de São Paulo. Percebido em frases como: “Essa
mulher é brasa emcoberta”, “Ela é fruta podre”, “Toda negadinha falsa é brasa
encoberta, aquela que fica escondida nas cinzas”. “Marido traído costuma dizer da
muié que o traiu: aquela fiadaputa era uma fiaputa diuma brasa encoberta.”
Também utilizavam o termo “Essas mulheres são ervas daninhas!”. Cheguei no
ponto! Pela tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos, para o mesmo trecho da
peça Hamlet , destaco: “... ervas daninhas que crescem até dar semente...” e verifico
mais um ponto obscuro no texto. As sementes seriam os filhos? Suponho mais uma
intensão oculta: “As mulheres plantam suas sementes...” “As mulheres colocam
outras mulheres no mundo” (pensamentos difundidos naquela época). Ora a
semente – podre ou sã não vem dos homens? Quantas mulheres não foram
humilhadas no Brasil colonial por não dar à luz um filho varão, quando hoje sabemos
que o homem é o responsável direto pela definição de gênero no feto em formação.
E na própria estrutura das traduções que encontro no Brasil, tanto na de Millôr
Fernandes (1988) como na tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos Hamlet
( 1955 ), olho para a ordem dos personagens demonstrados na descrição e observo

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