BECO

(Leonam Victor) #1

beco |^13


Quais são as dificuldades
que você enfrenta nessa
área de atuação por ser
mulher?
Ser mulher já é uma pro-
blemática, e na arte e no
lambe-lambe, até no grafite,
sempre é uma dificuldade
você ser uma mulher, por-
que a maioria dos artistas
homens não querem dividir
o espaço.


Quando eu comecei só tinha
caras fazendo lambe-lambe,
daí você vê que as meninas
não tinham espaço e eu sem-
pre achei uma certa dificul-
dade por ser mulher. Agora
eu vejo muitas meninas
fazendo, mas quando eu co-
mecei eu contava nos dedos
alguma mulher no lambe.


Você já sofreu algum pre-
conceito por ser artista
urbana?
Por ser artista urbana não,
mas querendo ou não, por
ser artista. Tem muita gente
ainda que não valoriza a
arte e quem trabalha com
arte, ainda acham que é um
hobbie ou então perguntam
o que você faz além de arte.
[A sociedade] ainda tem
aquela coisa de achar que
artista não trabalha, mas é
um trabalho da porra!


Você já teve a arte depreda-
da?
Várias vezes! Quando eu co-
mecei a colar, eles rasgavam


a assinatura. Tipo, eu botava
hoje e se no final da semana
quisesse passar lá pra tirar
uma foto, ou ele já não exis-
tia mais lá ou era rasgado
na assinatura. Passei muito
tempo tendo o lambe ras-
gado só na assinatura. Isso
foi quando comecei, mas a
depredação rola até hoje.

Às vezes, as pessoas colam
alguma coisa em cima ou até
mesmo outro lambe. Pode
ter um lambe num canto e o
resto da parede toda dispo-
nível, mas a pessoa vai lá e
cola alguma coisa em cima
ou escreve alguma coisa...
rola sempre.

Com esses anos de experi-
ência, eu já internalizei o de-
sapego, mas quando eu vejo
situações de ter muito espaço
[numa parede] e mesmo
assim vão em cima do meu
lambe, fico meio puta às
vezes, porque querendo
ou não, é tempo, material,
inspiração, é todo um tra-
balho que você faz e coloca
na cidade e vem uma pessoa
e faz isso. Mas eu costumo
dizer que só lamento, porque
vou colar mais.

Como é o seu processo
criativo e rotina quando sai
para colar os posters?
Eu uso muito caderninho de
esboço, aí pego muita refe-
rência de coisas que já tenho,
e quando quero produzir
lambe, eu meio que vejo o
que eu posso aproveitar dos
meus rascunhos.

Quando tô na vibe de pro-
dução de longa escala, como
se eu fosse uma “gráfica
humana”, eu passo o dia todo
fazendo. E a quantidade
depende do tamanho, do
formato que vou fazer, mas
geralmente eu consigo pro-
duzir muito mais de cinco. Já
nos dias de “rolês de lambe”,
eu passo uma manhã ou tar-
de inteira, depende do dia. E
quando vou colar eu marco
os rolês pra fazer, geralmente
é com meu companheiro ou
com uma galera que já faz
lambe-lambe.

beco |^13

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