BECO

(Leonam Victor) #1

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Eu não costumo sair sozinha, que é uma
coisa que é foda para quem faz arte na rua.
Já deixei muito de ir por estar sozinha.
Tenho várias limitações para sair sozinha e
as pessoas pararem e ficarem perguntando
“o que é que você tá fazendo aí?” [em tom
de desconfiança]. Já passei muito por isso,
então eu evito estar sozinha.


Para mim, é uma questão de segurança,
mas é engraçado porque para os caras, eu
não vejo ninguém perguntar. Eu dou rolê,
às vezes, com um amigo meu, e é muito
diferente, porque se eu sair
sozinha para fazer um
lambe, daqui a pouco
encosta alguém
pra perguntar o
que eu tô fazendo,
mas você com um
cara, as pessoas
olham, mas não
chegam junto para
questionar o que
você está fazendo.


Um rosto bem recorrente nos seus lambes
é o da mulher com chifres. Qual é a história
dela?
A Diabona é tipo uma persona. Todas as
minhas ilustrações se misturam, algumas se
repetem, mas a Diabona foi uma persona
que eu criei por sempre dizerem que mulhe-
res são diabas, sempre nos associam a esse
tipo de coisa, então eu criei a persona da
Diaba e ela tomou esse lugar.


Se me chamam de diaba, então eu vou ser a
“mulher-diaba”. Ela representa essa mulher
independente que é demonizada, até porque
sempre a mulher acaba sendo demonizada,
então essa representação é para bater de
frente com isso.


Você já participou de algum evento de
lambe-lambe?
Já participei de dois eventos. Esse ano mesmo
teve o “Festival Lambisgoia”, de uns meninos
que criaram lá em Goiânia um festival de
lambe, aí eles abrem chamada para a pessoa
enviar lambes e eles colam lá. Este ano já teve
uma edição em que eles iam colar os lambes
de algumas pessoas convidadas e eles me
convidaram. O evento foi em conjunto com o
“Lambes Brasil”, então uma Diabona minha
foi pra lá representar.

As pessoas que atuam nessa área são
unidas? Existe uma rede de apoio?
Olha... eu decidi sair desse ciclo,
faz muito tempo que não
participo, porque é muito
ego e é um falso “tamo
junto”. A galera fica falando
em se unir porque “a galera
do lambe não é unida”, mas
eles não querem essa união
de fato, eu não vejo isso.
Nos eventos, são sempre os
mesmos grupinhos e para você
interagir é muito complicado. É sempre isso
de “eu vou trazer os meus”.

Nos eventos é sempre a mesma cena, por
mais que a galera saiba quem tá fazendo arte
pela cidade, e sempre é treta. Eu estou meio
cansada dessas picuinhas e de ter que ficar
disputando espaço.

Qual é a mensagem que você quer passar
com o lambe?
São várias mensagens, mas acho que a princi-
pal é que o meu lambe é uma forma de dizer
“eu estou aqui”, é uma forma de resistir no
lugar, porque na arte a mulher é muito invi-
sibilizada, então acho que é uma maneira de
resistir e ocupar os espaços. b

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