BECO

(Leonam Victor) #1

Como a Pixegirls ajudou a melhorar a vivência de mulheres
nesse meio?
MILA: Hoje, depois de muita ideia, os caras tão começando
a escutar a gente, estão tentando melhorar algumas condutas,
sabe? Recife [em eventos] é visto como um exemplo da cena
feminina, um lugar que a gente foi tomando. Sempre existiu
mulher dentro da cultura hip hop, mas sempre foram invisi-
bilizadas.[...] Eu vejo muito o crescimento da crew nesse lugar
de “a gente troca como aliados”, entendendo que estamos
fazendo crescer e evoluir uma mesma cultura, não um contra
o outro. É a gente contra um sistema.


Como vocês veem a representatividade feminina dentro da
cena da cultura hip hop?
LALESCA: Na nossa crew, a gente se preocupa muito com
mulheres mães, mulheres negras, mulheres trans... Tem que
abraçar essa diversidade, sem isso não faria sentido. [...] Ain-
da rola muito de mano chegar nos mutirões de grafite com as
suas companheiras e elas ficarem de canto só olhando e não
rolar nem um convite, tipo, “ó, e aí, vamos pintar também?”.
Você tem que partir de algum lugar, você tem que ter algum
tipo de incentivo. A gente acaba chegando junto e chamando
pra pintar também.


Como é ser uma mulher dentro da arte urbana?
MILA: Uma mulher pintando o muro é um movimento
político. É um movimento de mudança, porque essa liberda-


de e autonomia foi negada
para corpos femininos e
outros corpos durante mui-
tos anos. [...] Quando a gente
tá pintando, quase sempre
alguém para pra conversar
e fala “é uma mulher que tá
pintando”. O grafite é essa
movimentação de direito
à cidade, e quando você vê
uma mulher pautando isso
você imagina que ali, além
de levar o corpo dela para
aquele lugar, ela tá levando
várias pautas: o assédio, o
estupro, o feminicídio.

LALESCA: Aconteceu de
uma vez a gente estar na
Mascarenhas de Moraes
pintando — eu, Tábata e a
minha irmã — e parou dois
policiais numa moto. A
gente achou que ia ter uma
apreensão e tal, que ia dar al-
gum tipo de problema. Mas
os caras pararam pra tirar
onda. “Ah, vocês são grafi-
teiras”... E a gente achando
estranho eles estarem sendo
amigáveis. No final, eles fala-
ram tipo “olhe, se preocupe
não que a gente tá fazendo
a segurança de vocês aí... se
quiser pegar o telefone da
gente, vocês ligam”. Era um
assédio por parte dos própri-
os policiais. E tipo, a gente
já tava com medo de estar
numa avenida, de madruga-
da, e chega os caras pra tirar
onda, parar nosso trampo
pra falar merda. É surreal.

Eu acho que sem mulher não existe cultura
hip hop. Sem mulher não existe muito do
que se é construído, principalmente muitas
dessas mudanças. O movimento hip hop é
um movimento contracultura, e que cultu-
ra é essa? É uma cultura que a sociedade
construiu de machismo, de violência contra
corpos, homofobia, racismo”. diz Mila
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