MILA: Existe um conceito
de vandalismo que a socie-
dade acredita e um conceito
que a cultura hip hop vivên-
cia. Se você for perguntar o
que é vandalismo pra qual-
quer pichador ou grafiteiro,
a gente vai falar da ação po-
licial, da ação governamen-
tal... Todo mundo é vândalo
com a gente. O movimento
chegou assim no Brasil para
denunciar a Ditadura Militar
através do piche. O que é que
era mais vandalismo: escre-
ver “abaixo à Ditadura” num
muro de um militar ou eu ter
meu corpo e minha liberda-
de privados?
Que mensagem vocês que-
rem de deixar com a arte de
vocês?
LALESCA: Eu queria que a
sociedade visse o movimen-
to como oportunidade de
salvar vidas. Porque a arte
em si, não só o grafite ou do
movimento hip hop, salva
vidas. Ela tira vários jovens
de lugares que, se não fosse
pela arte, eles estariam muito
piores. É uma oportunidade
de crescimento pessoal.
MILA: Queria deixar uma
mensagem para essa nova
geração de mulheres e meni-
nas, que elas não se deixem
desestimular ou enfraquecer
por qualquer ideia machis-
ta que possa chegar sobre
elas, sobre a arte delas e vida
delas. A gente vive numa
sociedade que se diz muito
o que uma mulher deve ou
não ser, e quase sempre sem
escutá-las. Então, procurem
ocupar os espaços e procu-
rem a gente, se precisarem
de qualquer ajuda. Vamos te
dar esse apoio! Para a socie-
dade geral, que acolha e apr-
enda a valorizar a arte como
uma ferramenta de mudança
e transformação social, e dar
a ela o lugar de importância
que ela merece. b
Pra mim, vandalis-
mo no sentido pejo-
rativo é você morar
num beco, sem es-
goto, sem sanea-
mento básico, sem
uma renda mínima.
É ter filhos e não ter
o que dar de comer
a eles, um brinque-
do. Vandalismo é o
governo roubando
nossos impostos pro
bolso deles e dando
iniciativa pra quem
já é rico ficar mais
rico. Isso é vandalis-
mo e afeta realmen-
te a sociedade, não
um picho”.