BECO

(Leonam Victor) #1

As batalhas de rima em Igarassu


Na cidade de Igarassu, a quase 25 km da
capital pernambucana, grupos de jovens
amantes da cultura do rap se organizam em
batalhas de rima parecidas com o filme. Ge-
ralmente nos finais de semana, nos finais de
tarde, os grupos, cheios de energia, promo-
vem duelos com rimas sagazes, inteligentes
e com forte teor político, onde a destreza
lírica é destaque. Somente com alguns beats
e microfones em mãos, esses jovens artistas
chamam a atenção de quem passa, desper-
tando o interesse de pessoas de todas as
faixas etárias.


O evento desse tipo mais famoso na região é
a Batalha Do Sítio Histórico (BDSH), que
acontece no centro da cidade desde 2017 e
vem conquistando cada vez mais seguidores.
Fara, de 28 anos, é um dos organizadores e
acompanha o coletivo desde o início.


Segundo ele, a BDSH é uma das referências
mais fortes na cena do rap fora da capital, e
isso por causa da representatividade e pega-
da política.


“A gente não esconde [o discurso politizado],
no sentido de que é sobretudo sobre disputar
um espaço que nos é negado historicamen-
te, secularmente”, diz. Ele explica que o sítio
histórico de Igarassu é repleto de símbolos
da invasão realizada pelos colonizadores –
como a Igreja de Santos Cosme e Damião e
o Convento de Santo Antônio – como uma
forma de imposição de poder do opressor
estrangeiro.

Outra batalha muito expressiva no município
é a Batalha Da Cruz (BDC), que acontece
sempre na área de lazer do bairro de Cruz
de Rebouças. Raxta, começou participando
apenas como MC e com o tempo conquistou
seu espaço na direção do grupo. O jovem de
19 anos, explica que a BDC foi fundada em
27 de abril de 2019, sendo a primeira vez que
o bairro sediou uma batalha própria.

“Eu via rolando as batalhas na praça, mas
nunca tive a oportunidade de estar colando.
Sempre acompanhei diretamente a cultura
do hip-hop, sempre ouvi. Desde pequeno, fui
criado ouvindo Racionais, NSC, o que toca
na favela realmente, tá ligado? Então já era

Enquanto o povo oprimido
puder se reunir, falar e contar
a narrativa a partir da nossa
ótica, das nossas vivências,
através do hip hop, é um pro-
cesso de resstência que a gen-
te vai sempre deixar nítido pra
todo mundo que frequenta [as
batalhas]”
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