BECO

(Leonam Victor) #1

apaixonado também por batalha de rima
e decidi participar no comecinho de 2020,
antes da pandemia [de Covid-19]”, relata o
Raxta, que acrescenta que no começo não
tinham tantas pessoas acompanhando, mas
que hoje o cenário é diferente.


“No começo, o hip hop não era tão acolhido
ainda em Cruz de Rebouças, tá ligado? Na
época da pandemia, a gente ficou guarda-
dinho em casa, se protegendo, mas quando
a gente começou a tomar as vacinas, deu
uma amenizada [nos índices de contágio por
coronavírus], e a prefeitura começou a libe-
rar a volta de alguns eventos, a gente conse-
guiu fazer com um público legal... Hoje a
gente consegue colocar 50 pessoas num do-
mingo aqui, ou até mais, porque a gente não
tem uma contagem exata de pessoas, mas a
gente sempre consegue trazer um público de
adolescentes, adultos e crianças”, relata.


Ambos os grupos são administrados por
quatro pessoas que trabalham para promo-
ver as batalhas, com pouca ou nenhuma hie-
rarquia. Todos nas diretorias trabalham de
forma igualitária, distribuindo as tarefas de
acordo com a disponibilidade de cada um.
Já a divulgação é feita através do WhatsApp
e perfis no Instagram (@batalhadositiohisto-
rico e @batalhadacrvz). A Batalha Do Sítio
Histórico também possui contas no Twitter e
Twitch. Além disso, boa parte da divulgação
acontece no boca a boca das ruas, entre os
engajados nas batalhas.


A cor do rap


O rap nasce das periferias e uma de suas ca-
racterísticas mais fortes é o fato dele retratar
as experiências das populações periféricas
de forma crua e crítica. Dados de 2022, do
Instituto Data Favela, em parceria com a
Central Única das Favelas (Cufa) e o Insti-


tuto Locomotiva, 67% da população peri-
férica no Brasil é formada por negros. Logo
pode-se entender que o rap, apesar de poder
ser feito e reproduzido por todos, tem uma
marcação racial muito clara. Nesse sentido,
o racismo é um dos principais fatores que
explicam a desvalorização e criminalização
do movimento. Por isso, MC’s usam a arte
da rima para denunciar preconceitos e con-
tar histórias de vivências da favela.

Na música “Racistas Otários”, lançada em
1993 por Racionais MC’s, composta pelo
rapper Mano Brown, é possível encontrar a
mensagem: “O sistema é racista, cruel / Le-
vam cada vez mais / Irmãos aos bancos dos
réus / Os sociólogos preferem ser imparciais
/ E dizem ser financeiro o nosso dilema /
Mas se analizarmos bem mais você descobre
/ Que negro e branco pobre se parecem /
Mas não são iguais”.

Em Igarassu não é diferente. Tanto a Batalha
da Cruz como a Batalha do Sítio Histórico
são organizadas e têm o público majoritari-
amente negro, e ambas já tiveram que lidar
com tentativas de repressão.
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