BECO

(Leonam Victor) #1

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vestígios do tempo em que
atuou majoritariamente
como um artista de rua, e
sabe que até hoje muitas
pessoas também ainda carre-
gam resquícios da sua arte, e
a prova disso é o reconheci-
mento do público.


“Eu acho que eu já pisei em
todo semáforo das Zonas Sul
e Norte do Recife. Eu tinha
uns dreads atrás da cabeça e
uma costeleta grande, e até
hoje as pessoas reconhecem
a minha figura por causa do
meu trabalho com cultu-
ra popular, e, de repente,
lembram de mim se eu tiver
com a gravata borboleta ves-
tido de mágico. É muito co-
mum ter relatos de pessoas
que nunca foram ao circo, só
tinham visto pela televisão,
e é possível ver que o circo
na rua acaba sendo a quebra
do espaço entre a televisão e
o imaginário que parece tão
distante”, defende.


QUARTO ATO: O futuro


O artista, pai de família e
empreendedor, que começou
fazendo performances em
hospitais e creches do Recife,
chegou a considerar vender a
empresa que concebeu, mas
seu desejo de perpetuar uma
ideia tão bonita falou mais
alto. Wally Garrett explica
que seu desejo é deixar sua
obra para quem vai assistir
quando ele se for. “Você faz


algo e isso cria raízes e dá
frutos. A arte tem esse poder
expansivo que a gente não
consegue conter”.

O maior desejo de Wally atu-
almente é devolver a demo-
cratização do circo. Daqui
para frente, a pretensão é dar
continuidade aos projetos da
família, batalhando até con-
seguir voltar às origens do
circo tradicional, com uma
pequena lona e a estrutura
de um “circo família”.

Para ele, a elitização que vem
acometendo a arte circen-
se há vários anos, tornou a
essência do circo inacessível
para muitas pessoas. Mas
Wally não perde a esperança
e explica: “O circo é uma arte
desbravadora. Por isso, eu
quero produzir espetáculos
de qualidade com uma estru-
tura reduzida, tipo um mini
circo, e a redução que eu vou
ter para a manutenção, vai
ser refletido na bilheteria”.

Wally Garrett acredita que as
coisas vão melhorar quando
a população tiver mais dis-
cernimento para reconhecer
a importância que o artista
tem no cotidiano das pesso-
as, “ainda mais com índices
de violência cada vez mais
crescente na Região Metro-
politana do Recife, e com
essa desigualdade entre as
classes sociais cada vez mais
evidente”. b

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