BECO

(Leonam Victor) #1
mais recente grande conflito
datado de 2016, quando o
então prefeito João Dória
(PSDB) cobriu alguns murais
da cidade de cinza, durante o
desenvolvimento do projeto
Cidade Linda.

Tal postura colocou em
evidência o desejo dos
poderosos de definir o que
é considerado ou não aceitá-
vel, de acordo com Tito. Essa
atitude perdurou durante
toda a história da arte, e hoje
em dia é responsável por
colocar a arte urbana em um
patamar mais baixo do que a
chamada “arte clássica”.

Existe até mesmo um termo
jurídico para o ato: é a cha-
mada criminologia cultural.
Nessa vertente, o significado
por trás do crime tem muito
mais importância do que o
seu próprio autor ou vítima.

Ainda de acordo com o

pesquisador, os constantes
embates encabeçados pela
prefeitura de São Paulo
contra a pixação mostram
também um caráter altamen-
te racista das autoridades.
Caráter esse que anda de
mãos dadas inclusive com a
violência policial. Por outro
lado, justamente por ser me-
nos agressivo e mais colori-
do, o grafite foi sendo cada
vez mais aceito como arte.

Quem diz o que é arte?

O filósofo Umberto Eco
cunhou um termo até hoje
muito usado no ramo da
arte: a “obra aberta”. Em seu
livro de mesmo nome, o
estudioso diz que uma peça
artística não está fechada
em si só, e sim, que ela está
sujeita a receber infinitas
interpretações por parte do
espectador. Segundo Tito,
“isso faz com que a inter-
pretação dessa obra de arte
seja variada e distinta. Pode
ser que eu interprete aquilo
como belo, lindo, ou como
algo feio, ruim”.

Um dos mais importantes
acontecimentos para deli-
mitar o espaço da arte foi
a obra “Roda de Bicicleta”
ou a “Fonte”. Assinadas
por Marcel Duchamp, elas
pertencem ao conceito do
ready made; no qual objetos
cotidianos e utilitários são
recontextualizados. Du-

champ trazia a provocação
de se alguém de fato acharia
as obras citadas bonitas ou
se elas, por causarem estra-
nheza, eram reprovadas pela
crítica.

A principal diferença visual
entre a pichação e o grafite é
que a primeira está ligada à
escrita, fundamentalmente,
enquanto a segunda à ima-
gem, à forma. Então, por
que uma é criminalizada e a
outra não? Crítico, Tito en-
tende que isso se dá pelo fato
de que o grafite se deixou
“domesticar” por meio do
muralismo. “A questão é que
alguns grafiteiros se adequa-
ram aos interesses do poder
público e privado e por isso
que tem essa aceitação”,
comenta

A utopia do pixo

O grafite deixou de ser
considerado crime com a Lei
12.408, de 2011, que dita que
a expressão é legal desde que
ocorra com o consentimen-
to do proprietário, e com
“o objetivo de valorizar o
patrimônio público ou priva-
do mediante manifestação
artística”.

No Recife há o programa
Colorindo o Recife, que, de
acordo com a prefeitura, tem
como intuito promover a
requalificação dos espaços
urbanos através da valori-

Existe uma constru-


ção social no mundo,


então, há quem de-


tém o poder das leis,


que define o que é


belo e o que não é” ,


conta Tito.

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