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H6 Especial QUARTA-FEIRA, 8 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Marcelo Lima
Há cinco anos à frente do Deco-
ra , programa semanal do canal
GNT, o arquiteto Maurício Arru-
da foi surpreendido com o anún-
cio da quarentena em meio à gra-
vação da nona temporada da
atração. “Já que ia ter mesmo de
ficar em casa, imediatamente,
decidi que deveria me dedicar a
um projeto especial. Decidi, en-
tão, ler o meu livro, Decora ( lan-
çado no ano passado e já em sua
quarta edição, é um dos mais vendi-
dos do segmento ), franqueando o
conteúdo, via internet, a todos
os interessados.”
Com uma audiência fiel, e no
ar desde 2011 – antes dele, os
também arquitetos Bel Lobo e
Marcelo Rosenbaum atuaram
como âncoras –, o programa par-
te de uma fórmula simples: rede-
corar totalmente um ambiente,
a pedido de um telespectador.
“Existe todo um lado prático,
mas também um componente
emocional muito forte, que o
programa capta muito bem”,
afirma ele, que também man-
tém escritório próprio.
“Qualquer obra para ser bem
sucedida necessita planejamen-
to e hoje, mais do que nunca, é
chegada a hora de olhar com ca-
rinho para o espaço no qual vi-
vemos. Observar com cuidado,
tirar medidas, imaginar solu-
ções. É chegada a hora de nos
reapaixonarmos por nossas ca-
sas”, observa, em entrevista ao
Estado.lVivemos um momento em que
as pessoas, em função da quaren-
tena, estão voltando a ter um con-
tato maior com suas casas. Co-
mo está vendo a atual fase?
Penso que vivemos um momen-
to especial. Apesar de tudo, esta-
mos nos reapaixonando por nos-
sas casas. Não me refiro nem ao
home office, nem à cozinha
gourmet. Mas à casa que, de
uma hora para outra, tem de ser
escola, academia, ateliê de pin-tura. Estamos frente a frente
com nosso espaço doméstico e
com tempo de sobra para ver o
que, como e por que deve ser mu-
dado. Ou não. É chegada a hora
de decidir sobre o que fica, o que
só tem de mudar de lugar, o que
pode ser doado, para, só então,
decidir o que precisamos com-
prar. O desafio é mudar de casa,
dentro da nossa própria casa.
Mas, de qualquer forma, é tem-
po de observar, de planejar, não
de modificações radicais. No
máximo, pequenas reformas.lE quais seriam as mais indica-das no momento?
Claro que isso depende das prio-
ridades de cada um. Mas, de for-
ma geral, penso que é um bom
momento para mudar ou apri-
morar a decoração do quarto.
Observar com cuidado as cores,
a luz, as condições de conforto.
Trata-se de um ambiente muito
importante neste momento,
que exige de todos uma dose ex-
tra de equilíbrio. Além de local
de repouso, é para o quarto que
voltamos todos os dias para rela-
xar, ler, repensar valores, nos re-
conectar. Merece, portanto, to-
da a nossa atenção.lPor que as pessoas, hoje, se
interessam tanto por programas
voltados à decoração de interio-
res, como o Decora?
Por várias as razões, mas, essen-
cialmente, porque procuram
apresentar uma arquitetura
mais real. Ao alcance dos olhos,
do desejo, mas também do bol-
so e das mãos. Sim, das mãos,
porque somos também reflexo
do movimento “maker”, do em-
poderamento de um morador
que, de repente, se vê em condi-
ções de executar peças de mar-
cenaria, pintar quadros, mode-
lar velas. A ideia é dessacralizara decoração, mostrando que mo-
rar melhor não é algo inacessí-
vel, caro, complicado, e pode
ser feito com alegria e prazer.lAtuar no Decora mudou a for-
ma como encara seu trabalho?
Sem dúvida. Passados uns cinco
ou seis episódios, percebi que
eu tinha vícios de projeto. Perce-
bi que o que interessava, no ca-
so, era o novo, o inédito, não exa-
tamente a minha linguagem. Co-
mecei a ser mais investigativo e
curioso. Hoje procuro aplicar es-
se olhar a todos meus projetos.
Aprendi que é válido trabalhar
focado na história das pessoas,
e menos no meu vocabulário.lMuitos sonham em viver em
ambientes atraentes como os do
programa. O que sugere para
conseguir bons resultados?
A primeira coisa a se evitar é o
medo. Este é um enorme empeci-
lho. As pessoas, em geral, têm me-
do de errar e, principalmente, de
gastar inutilmente. Mas é preci-
so experimentar. Sem isso, ja-
mais terá uma casa que reflita
quem você é. Não precisa com-
prar um sofá rosa, supercaro.
Mas, se achar que a cor deve ser
incorporada à sala, pode pintar
uma parede. O gasto é muito me-
nor e pode ser revertido facil-
mente, caso não fique do seu
agrado.lPor onde começar e como não
errar nas escolhas?
Vale a pena experimentar novas
posições para os móveis, trocar
quadros, rearrumar estantes, e
isso não custa nada. A casa tem
de acompanhar sua vida, suas
viagens, seus movimentos.
Tem de ser viva, não estática.
Por último, um dado prático:
medidas. É preciso preservar as
condições de circulação, seja
qual for o ambiente. Na dúvida,
marque o tamanho com fita cre-
pe no chão, avalie o resultado e,
só então, parta para a compra.casa
N
a Páscoa da quarentena, pensar
em harmonização para o almo-
ço de domingo é partir para as
receitas e os vinhos disponíveis online.
No meu caso, mais os vinhos que combi-
nam com o bacalhau e o cordeiro. A esta
lista dos símbolos gastronômicos da
Páscoa incluí um pescado para aqueles
que, como eu, se assustaram com o pre-
ço do bacalhau. A harmonização tem
regras básicas, que ajudam nesta esco-
lha. A primeira está no que chamamos
de “peso”, facilmente explicado com o
exemplo de peixes, que são mais leves,
e vão com vinhos brancos, e carnes ver-melhas, mais suculentas, com tintos.
Bacalhau é peixe? Os portugueses di-
zem que bacalhau é bacalhau, o que per-
mite combiná-lo também com tintos.
Mas, em geral, o tanino do vinho, que
traz aquela adstringência na boca, em
contato com o pescado, tende a deixar
um gosto metálico na boca. Assim, se
for de tinto, escolha um com pouco ta-
nino. A pinot noir é o melhor exemplo
de uvas com poucos taninos.
A segunda regra é escolher pratos e
vinhos por similaridade ou por con-
traste, seja nos aromas e nos sabores,
seja na textura, teor alcoólico e acidez.Na primeira, se a receita é cítrica, com
um molho de limão, por exemplo, esco-
lha um vinho de aromas cítricos. No
contraste é aquela máxima que os
opostos se atraem. Dá para brincar
com o contraste do doce com o salga-
do, como os queijos tipo Roquefort
com os vinhos de colheita tardia. E lem-
bre-se: são regras, não obrigações; e o
gosto pessoal também é importante.
Para os pratos, sugiro:Pescada amarela assada com cebo-
las e tomates. O peixe é mais leve e
ganha um misto de acidez e doçura
com o tomate. A pedida pode ser um
branco e também os rosados, tão na
moda. Gosto dos sauvignon blanc, por
seu frescor. Escolhi dois brancos, umchileno, com uvas frescas do vale de
Leyda (Leyda Sauvignon Blanc Reser-
va, R$ 99,90; grandcrucom.br), e um
mais ousado, elaborado no Alto Adige
italiano e que segue o cultivo biodinâ-
mico (Fontanasanta Manzoni Bianco,
R$ 145; vinhomix.com.br).Bacalhoada. Gosto mais dos bran-
cos, principalmente dos portugueses,
com os pescados. Há uma regrinha de
pratos regionais com vinhos locais, as-
sim, sugiro um branco do Dão, elabora-
do com a Encruzado, uma variedade
que resulta em vinhos mais encorpa-
dos e com certa cremosidade. Se quiser
ousar, vale o tinto. Minha sugestão
de branco é o Kelman Encruzado
(R$ 127,50; portuscale.com.br). De tin-to, o Cono Sur Pinot Noir Bicicleta
(R$ 45; superadega.com.br).Cordeiro assado com batatas. Os
tintos de Bordeaux, elaborados com as
uvas cabernet sauvignon e merlot, são
a harmonização clássica. Para manter
a tradição, a escolha é o Châtreau Mar-
josse Rouge, elaborado apenas com a
merlot (R$ 180; orldwine.com.br). Tin-
tos do chamado Novo Mundo tam-
bém vão bem com a carne. A escolha
preferencial são os cabernet sauvig-
non do Chile, mas há outras varieda-
des do país andino com estrutura para
casar com o cordeiro, como o Santa
Ema Amplus Carignan, elaborado no
Vale de Maule, com a variedade Carig-
nan (R$ 195; wineloves.com.br).Sem intervalo
Luiz Carlos Merten
De cara, logo na estreia, em
1991, com No Mundo da Lua ,
de Robert Mulligan, Reese
Whiterspoon foi indicada pa-
ra o Young Artist Award. Dois
anos depois, venceu o prêmio
por Dias Amargos/Jack the
Bear. Tornou-se conhecida,
uma artista popular, mas o es-
touro só veio em 2001, quan-
do ela tinha 25 anos e interpre-
tou pela primeira vez Elle
Woods. Você sabe quem é – a
Legalmente Loira. Dois anos
depois, o segundo filme do
que já era uma série confir-
mou o sucesso e Elle foi cata-
pultada a ícone pop.
Reese ganhou até o Oscar –
em 2006, por Johnny & June , a
biografia de Johnny Cash, com
Joaquin Phoenix. Impossível
não pensar nessas coisas no
dia em que a Globo apresenta,
logo após o Big Brother, De Vol-
ta para Casa. Na semana passa-
da, o paredão do programa re-
gistrou um recorde histórico,
1,5 bilhão, é, bilhão, de votan-
tes. Esta semana, o fenômeno
deve repetir-se e a Globo con-
ta com Reese, na sequência, pa-
ra segurar a audiência.
Ela faz divorciada, mãe de
duas filhas, que volta para ca-
sa. Abriga três jovens artistas,
e se envolve com um deles. A
diferença de idade não é o pro-
blema, até porque o ex-mari-
do já era infantil. Até parece
filme de Almodóvar. Todo
mundo se ajeita, uma família
moderna. A diretora é Hallie
Meyers-Shyer.ENTREVISTA
CASA
À frente do programa ‘Decora’, do GNT,
ele dá dicas para transformar seus ambientes
Os Boas Vidas/
I Vitelloni
(Itália, 1953.) Dir. de Federico Fellini com
Alberto Sordi, Franco Fabrizi, Leopoldo
Triste, Franco Interlenghi.Luiz Carlos MertenNeste começo de ano, os fil-
mes de Fellini têm ajudado
muita gente a ficar em casa,
minimizando o peso do confi-
namento. Nesta quarta, 8, dá
para rever o clássico. As vi-
das meio sem sentido de qua-
tro amigos na província italia-
na. Deles, só Moraldo conse-
guirá fugir à mediocridade.
Grandes cenas, grande elen-
co, um dos filmes mais impor-
tantes do autor.
TEL. CULT, 20H. P&B, 107 MIN.Filmes na TV
Le Vin Filosofia
NOVA, MAS
SEM MUDAR
DE CASA
Suzana Barellil]
Reese
Witherspoon
para curtir
após o BBB
Fique em casa
O canal fechado Discovery apre-
senta nesta quarta, 8, às 22h, o
documentário Pandemia: Covid-
19 , que terá reapresentação no
sábado, 11, às 23h40, na TV Cul-
tura. A luta mundial contra a pan-
demia do coronavírus é mostra-
da em detalhes, incluindo as últi-
mas notícias sobre os esforços
para testar e tratar pacientes,
em uma luta contra o inimigo
invisível, que precisar ser parado,
evitando maior disseminação.
Especialistas revelam as dificul-
dades encontradas nessa bata-
lha, que tem como foco um vírus
que não era conhecido. Produção
traça a linha do tempo da epide-
mia, desde o surgimento no
Oriente, e que se alastrou por
outros países. O especial mostra
também como o surto chegou
aos Estados Unidos, desde a pri-
meira notificação.Trabalho extra
Está disponível na plataforma
Starzplay a série Mr. Mercedes ,
que é inspirada em obra de Step-
hen King. Nas três temporadas,
um verdadeiro jogo de gato e
rato entre o detetive aposentado
Bill Hodges (Brendan Gleeson) eo assassino Brady Hartsfield
(Harry Treadaway). Na trama, o
policial se aposenta, mas sem
solucionar o caso de um atrope-
lamento que deixou 16 mortos.
Lembranças aterrorizante do
crime o perseguem e pioram
quando ele passa a receber car-
tas e e-mails do assassino.Ligados pela música
Uma seresta virtual. Sim, é o que
tem feito Maida Novaes, fundado-
ra do grupo Trovadores Urbanos,
de segunda a quinta às 17h, e, às
sextas, às 20h, pelo Instagram e
Facebook do grupo. E o público
de casa pode interagir, pedindo
alguma canção especial. Na es-
trada há mais de 30 anos, o Tro-
vadores tem repertório nostálgi-
co, que inclui canções de várias
épocas, de Ary Barroso a mais
atuais, como Djavan.Histórias de vida
Dentro da programa virtual do
#MISemCasa , o museu paulista
disponibiliza conteúdo digital em
todas as suas plataformas. Nes-
ta quarta, 8, às 11h, o projeto do
MIS traz o depoimento do músi-
co Zeca Baleiro, dentro do Notas
Contemporâneas.DESTAQUE
PEG-FILMSO Último Concerto de
Rock/ The Last Waltz
(EUA, 1978.) Dir. de Martin Scorsese, com
The Band, Bob Dylan, Neill Young, Jim,
Morrison.A ideia era fazer um filme peque-
no, intimista. Scorsese foi na con-
tracorrente e fez o que seus admi-
radores consideram o maior filme
de rock. Pode não ser, mas as per-
formances são brilhantes e a edi-
ção, idem. Relembrando – Scorse-
se foi um dos montadores de
Woodstock , o filme.
TEL. CULT, 14H25. COL., 117 MIN.Eu Sei Que
Vou Te Amar
(Brasil, 1986.) Dir. e roteiro de Arnaldo Ja-
bor, fotografia de Lauro Escorel Filho, com
Fernanda Torres, Thales Pan Chacon.O fecho da trilogia entre quatro pare-
des de Jabor, após Tudo Bem e Eu
Te Amo. Um casal numa casa, discu-
tindo a relação. Não uma casa qual-
quer, pois essa foi projetada por
Niemeyer. Fernanda Torres muito
bem-vestida e dizendo os diálogos
brilhantes de Jabor foi melhor
atriz em Cannes, com 21 anos.
C. BRASIL, 1H20. COL., 104 MIN.Páscoa harmonizada
LUFE GOMESAcolhido. Maurício em sua sala no bairro de Cerqueira César, próximo à Avenida PaulistaMaurício Arruda, arquiteto e apresentador