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B4 Economia QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA
A crise econômica decorrente
do enfrentamento da pande-
mia do novo coronavírus já re-
duziu o faturamento de nove
em cada dez pequenos negó-
cios brasileiros. Com boa parte
do comércio e praticamente to-
dos os serviços paralisados co-
mo forma de conter a propaga-
ção da covid-19, as menores fir-
mas têm tido dificuldades em
fechar as contas.
De acordo com pesquisa reali-
zada no fim de março pelo Servi-
ço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae)
em parceria com a Fundação
Getúlio Vargas (FGV), 89,2%
dos 17,2 milhões de pequenos
negócios do País apresentaram
redução nos valores vendidos
durante a crise.
Decretos estaduais e munici-
pais têm restringido a atividade
econômica, mantendo o funcio-
namento apenas de setores es-
senciais, como farmácias, pada-
rias, mercados e oficinas mecâ-
nicas. Restaurantes e lanchone-
tes têm funcionado apenas para
entregas. As medidas são critica-
das pelo presidente Jair Bolso-
naro, mas recomendadas pelo
Ministério da Saúde e pela Orga-
nização Mundial da Saúde(OMS) como a melhor maneira
de evitar a propagação da doen-
ça no País.
Com menos movimento das
ruas e shoppings, a queda no fa-
turamento dos pequenos negó-
cios tem sido brutal. De acordo
com a pesquisa do Sebrae, a re-
dução média das vendas em
uma semana com medidas de
isolamento social é de 69,3%
em relação uma semana normal
de funcionamento. Dois terços
das menores empresas têm fatu-
rado menos da metade dos valo-
res a que estão acostumados.
A pesquisa mostra que ape-
nas 3,2% das menores firmas do
País não sentiram mudança per-
ceptível no trabalho e somente
2,5% dos microempresários ou-
vidos registram aumento do
movimento no período. Para es-
sa minoria que percebeu um
crescimento na demanda du-
rante a crise, o aumento médio
no faturamento foi de 21,1%.Participação. Com menor ca-
pacidade para atravessarem a
crise, as micro e pequenas em-presas (MPEs) podem perder
participação no Produto Inter-
no Bruto (PIB) brasileiro. De
acordo com o Sebrae, o segmen-to das menores companhias já é
responsável por mais de 30%
dos bens e serviços produzidos
no País desde 2017. “O Sebraeestá procurando amparar o
máximo possível as micro e pe-
quenas empresas, estimulando
o comércio de bairro, o comér-
cio local. Querendo ou não,
30% da riqueza do Brasil está
nesse time”, afirma o presiden-
te da entidade, Carlos Melles.
Segundo o dirigente, o Se-
brae tem negociado com gran-
des cadeias de fornecedores e
de logística para obter mais pra-
zos de pagamento para os pe-
quenos negócios. “Muitos dis-
tribuidores já estão dando de
90 a 180 dias para pagar nessa
travessia da crise. Vamos ver se
passamos esse temor até o fim
de maio para as coisas voltarem
ao normal”, completa.
Melles lembra que as micro e
pequenas empresas concen-
tram 66% dos empregos no co-
mércio, 48% nos serviços e 43%
na indústria. “Quando o gover-
no soltava dados de recupera-
ção dos empregos até o ano pas-
sado, 80% a 85% vinham das pe-
quenas empresas. Como o negó-
cio é pequeno, empregado é de
confiança, normalmente do seu
círculo de intimidade. Isso cria
um vínculo de segurança. Fica
difícil para dispensar esse em-
pregado”, avalia.ENTREVISTA
Aline Bronzati
Com a pandemia do novo coro-
navírus, a demanda por crédi-
to no Bradesco aumentou dez
vezes, passando de cerca de R$
2 bilhões de pedidos para R$
20 bilhões por dia. Foram três
dias de loucura, conforme resu-
me o presidente do banco, Oc-
tavio de Lazari, com as gran-
des empresas demandando li-
quidez para enfrentar a crise
como as pessoas estavam em
busca de álcool gel. “Optamos
por distribuir isso (a liquidez)
ao longo do tempo porque não
podemos atender somente as
grandes empresas, temos de
atender as pequenas.” O presi-
dente do Bradesco vê a econo-
mia encolhendo até 4% neste
ano, pior até que a estimativa
do próprio banco, de queda de
1%, e diz que o impacto fiscal
terá de ser resolvido a partir
de 2021. Do lado dos bancos, a
inadimplência tende a ser
mais severa que em outras cri-
ses, mas garante que o sistema
está bem capitalizado. Lazari
diz que está enfrentando a pan-
demia de coronavírus “viven-
do um dia de cada vez”. “Va-
mos em frente. Vai passar”,
afirma o executivo, que com-
pletou no mês passado dois
anos na presidência do Brades-
co.
lA injeção de liquidez de mais
de R$ 1 trilhão por meio de medi-
das do Banco Central está che-
gando na ponta? O que os ban-
cos estão fazendo com essa liqui-
dez?
O Banco Central vem toman-
do uma série de medidas ao
longo do tempo para poder in-
jetar mais liquidez na econo-
mia. Foram medidas muito
boas e tempestivas. Logo que
todo esse problema começou,
os bancos privados, Bradesco,
Itaú e Santander, já saíram
com a condição de o cliente po-
der prorrogar sua dívida por
60 dias. Até ontem, só o Bra-
desco já contava com 993 mil
pedidos de prorrogação. To-
dos, sem exceção, estão sendo
implementados com a mesma
taxa de contrato, independen-
temente se o cliente está com
restrição. Não nos interessa.
Todos que estão pedindo, nós
estamos prorrogandolOs 60 dias de carência serão
suficientes diante da duração
dessa crise?
Nós, do Bradesco, imaginamos
que os 60 dias não serão o sufi-
ciente. É muito provável que
esse prazo se estenda. Já esta-
mos pensando em como va-
mos fazer daqui a 30, 60 dias,
para prorrogar por mais 60
dias, que talvez seja o prazo
mais adequado.lEssa é uma iniciativa do banco
ou uma orientação do BC?
Não é nem uma iniciativa. É
um pensamento do banco. Já
conversei com o Cândido ( Bra-
cher, presidente do Itaú Uniban-
co) e o ( Sergio ) Rial ( presidente
do Santander ). Já estamos pen-
sando nisso para que as pes-
soas possam ficar tranquilas.lO Bradesco foi o primeiro a
anunciar o crédito para folhas de
pagamento. Quantas empresas
já acessaram esta linha?
Nós levamos essa proposta ao
Banco Central e rapidamente
implementamos. Temos já
aprovado 54 mil empresas
clientes do Bradesco que estão
com seus limites aprovados.
São 92% das empresas que pa-
gam suas folhas pelo Bradesco
com faturamento entre R$ 360
mil e R$ 10 milhões. Dessas,
4,7 mil empresas já tomaram
crédito.lO Bradesco está mais otimista
( que a média do mercado ) e proje-
ta queda de apenas 1% no Produ-
to Interno Bruto (PIB) deste ano.
O efeito atual será limitado ou a
recuperação será muito forte?
Respeito a opinião do nosso
economista, Fernando Hono-
rato, ele até vai me perdoar.
Mas, pelo que estamos vendo
e a extensão do que ocorreu
na Itália, Espanha e até nos Es-
tados Unidos, que é (um país)
riquíssimo, eu diria que esta-
mos indo muito mais para um
PIB negativo de 3% a 4%. Não
sabemos ainda a extensão des-
se problema. Também acho
que, se a gente conseguir pas-
sar por esse momento, achatar
a curva e não ter um caos na
saúde, não é que a economia
vai se recuperar em ‘V’, mas
pode ter uma recuperação me-
lhor, porque é muito pulveriza-
da. Vamos passar um aperto
muito grande de perda de em-
prego, fechamento de empre-
sas. Isso está dado e não tem
como evitar. Portanto, vamos
ter uma perda de PIB conside-
rável.lO governo assumiu com um
discurso de recuperação da eco-
nomia. A demora em ceder em
torno de medidas que vão afetaro fiscal, mas são necessárias por
conta da pandemia, pode custar
um preço ainda mais alto para o
País?
Estamos falando que governo
demorou para agir. Agora, fa-
çam um comparativo das medi-
das que o governo tomou. Para
R$ 600 em três parcelas para
mais de 50 milhões de pessoas
que sequer são bancarizadas, é
diferente de fazer isso na Euro-
pa. Só ontem a Caixa registrou
mais de dez milhões (de regis-
tros). Nós, bancos privados,
pedimos para ajudar a pagar es-
sas pessoas. Imediatamente,
abriram a possibilidade de o
cliente escolher o banco e a
conta. A Caixa está mandando
isso para nós. Vamos fazer o
crédito. Se essas pessoas tive-
rem dívida conosco, cheque es-
pecial ou atraso, não tem pro-
blema algum, esse dinheiro es-
tará preservado. Não vamos co-
brar nada. Estamos fazendo is-
so para ajudar a população bra-
sileira e o sistema financeiro.lQual a diferença da crise de
2008 para essa?
Não temos um problema finan-ceiro, diferente do que aconte-
ceu em 2008. Aliás, de vários
problemas financeiros que
aconteceram nas últimas déca-
da. Nós temos, agora, um pro-
blema de saúde, de vida, de so-
brevivência. Não importa se
eu sou rico ou se eu sou pobre.
Se eu tiver coronavírus e não ti-
ver respirador, eu posso ser
um bilionário ou morar em
uma comunidade carente, o
meu risco é exatamente o mes-
mo, exatamente igual. As medi-
das do BC e do governo pare-
cem que são prolongadas e de-
moradas, mas faça um compa-
rativo com outros países do
mundo. Para a estrutura que o
Brasil tem, as medidas foram
tomadas em uma velocidade
muito boa. Eu sei que as pes-
soas têm fome, precisam de di-
nheiro, ninguém mais do que
nós estamos brigando, falando
com o Banco Central para que
exista rapidez nesse processo
todo. Acho que estamos fazen-
do as coisas corretas.lQual será o caminho para rea-
ver o processo de aperto fiscal
depois desse gasto feito?O fiscal não tem jeito. O gover-
no vai ter de gastar e depois
ver como fica. Provavelmente,
a partir de 2021 vamos ter de
entrar em novo ciclo para ver
como recupera tudo isso. Tal-
vez, algumas empresas vão ter
de pagar mais imposto, as gran-
des empresas. Pode ser um ca-
minho. Talvez, a gente tenha
de dar essa contribuição e será
feito. Não dá para tirar da pes-
soa que está desempregada,
das pessoas mais pobres. En-
tão, vai ter de ser feito um ajus-
te. Quem tem mais, vai ter de
dar uma contribuição maior.
Não só os bancos. Todas as
grandes empresas, os grandes
investidores. Ao longo do tem-
po, com a economia se recupe-
rando e o governo arrecadan-
do mais, é que vamos conse-
guir resolver o fiscal. Então, va-
mos empurrar esse problema
para 2021, 2022, 2023, no lon-
go prazo. Temos de pensar no
agora, foco, achatar curva, di-
minuir o problema de contá-
gio e de morte no País. O foco
agora é a vida humana. A vida
financeira a gente vai resolver
ao longo do tempo.PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
l Perda de empregoSegmento pede
menos impostos
l PreocupaçãoFaturamento de 9 em 10 micro e pequenos negócios já caiu
http://www.embraesp.com.brSolicite orçamento também para avaliações patrimoniais e ativos industriais.AVALIAÇÕES
Valores de mercado (venda ou locação) de imóveis urbanos e rurais de todo o País.
Credibilidade e experiência conquistadas por mais de 40 anos de independência, sigilo e isenção[email protected]‘Talvez as grandes
empresas tenham de
pagar mais tributos’
Teles reagem à medida que impede corte de sinal. Pág.B5 }
“Vamos passar um
aperto muito grande de
perda de emprego,
fechamento de empresas.
Isso está dado e não
tem como evitar.”B RASÍLIAEnquanto as pequenas e mé-
dias empresas terão R$ 40 bi-
lhões em crédito para a folha de
pagamento por dois meses, o
Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas
(Sebrae) aposta na criação pelo
Congresso de uma linha de R$
13,9 bilhões para os menores ne-
gócios atravessarem a crise.
Pesquisa do Sebrae em parce-
ria com a FGV mostra que a me-
dida mais demandada foi a redu-
ção de impostos (40,1%), segui-
da por subsídio para salários
(37,8%) e descontos nas tarifas
de águas e luz (31,9%).O presidente do Sebrae, Car-
los Melles, lembra que o gover-
no federal já adiou por seis me-
ses a cobrança das próximas
três parcelas mensais do Sim-
ples e que Estados e municípios
toparam adiar por três meses a
cobrança de tributos para o seg-
mento. Companhias de luz e
água também têm oferecido
condições especiais de paga-
mento de contas.WILTON JUNIOR / ESTADÃO“Muitos distribuidores já
estão dando de 90 a 180
dias para pagar nessa
travessia da crise.”“Estamos procurando
amparar o máximo possível
as micro e pequenas
empresas (...). Querendo ou
não, 30% da riqueza do
Brasil está nesse time.”
Carlos Melles
PRESIDENTE DO SEBRAEPortas fechadas. Pequeno negócio tem mais dificuldadesSegundo pesquisa do
Sebrae, redução média
de vendas em uma
semana de isolamento
social foi de 69,3%
VALERIA GONCALVEZ/ESTADÃO - 25/9/‘Vai passar’. Octavio de Lazari diz que hoje, com a crise, está vivendo um dia de cada vezPresidente do Bradesco
projeta queda de até 4%
do PIB e diz que será
preciso novo esforço
fiscal a partir de 2021
Octavio de Lazari, presidente do Bradesco
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