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B8 Economia QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
WASHINGTON
Na ata da mais recente reunião
de política monetária do Fede-
ral Reserve (Fed, o banco cen-
tral americano), os dirigentes
concluíram que a perspectiva
econômica de curto prazo para
os EUA “estava se deteriorando
fortemente nas últimas sema-
nas”, tornando-se ainda “pro-
fundamente incerta”, em meio
à pandemia de coronavírus.
Todos os dirigentes previram
que a atividade econômica en-
colherá no trimestre atual e o
momento da retomada econô-
mica dependerá das medidas decontenção da doença e das res-
postas de outras políticas, “in-
cluindo a política fiscal”.
O documento divulgado on-
tem é o primeiro a mostrar deta-
lhes de como as autoridades lan-
çaram um plano de resgate eco-
nômico sem precedentes em
tempo recorde conforme a pan-
demia se espalhava. Em reu-
niões emergenciais convoca-
das pelo presidente do Fed, Je-
rome Powell, em 2 e 15 de mar-ço, os membros do banco con-
cordaram em cortar a taxa de
juros para zero, ampliaram o
acesso a dólares para bancos
centrais estrangeiros e retoma-
ram a forte compra de ativos.
Ainda na ata, foram elabora-
dos dois cenários para a ativida-
de econômica. Um prevê que,
após a forte recessão, a recupe-
ração acontecerá no segundo se-
mestre de 2020. Já o outro leva
em consideração uma retoma-
da mais lenta, apenas em 2021.
“Nos dois cenários, a inflação
está projetada para enfraque-
cer, refletindo tanto a deteriora-
ção no uso de recursos quanto
quedas nos preços de energia.” /
AGÊNCIAS INTERNACIONAISl]
FERNANDO CRISSIUMA
MESQUITANada como uma necessidade
latente para mobilizar as
pessoas a saírem de sua zona
de conforto e tomar decisões
que pareciam ser inviáveisAta do Fed aponta para recessão
nos EUA já neste trimestre
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Japão aprova pacote
de quase US$ 1 trilhão
M
ais de 90% das empresas
no Brasil são empresas de
controle familiar, empre-
sas estas muito peculiares na qual os
seus sócios, membros da família,
não escolhem uns aos outros, pois
herdam um legado de seus ances-
trais empreendedores.
Pesquisas mostram que apenas
3% das empresas familiares chegam
à quarta geração da família e, tam-
bém, que essas empresas são, via de
regra, mais rentáveis do que as em-
presas de controle não familiar.
A complexidade de uma empresacontrolada por uma família passa pelo
desafio de navegar por três sistemas:
os sistemas de governança familiar, so-
cietário e corporativo. São sistemas in-
terdependentes e, muitas vezes, anta-
gônicos, nos quais as pessoas têm pa-
péis, ambições e expectativas nem
sempre alinhados.
Apenas como exemplo rápido, en-
quanto do sistema familiar se espera
buscar a harmonia da família, a realiza-
ção pessoal de seus membros e a cons-
trução de um legado de valores, do sis-
tema corporativo, ligado ao negócio, se
espera a máxima geração de riqueza pa-
ra seus públicos envolvidos e, cada vez
mais, metas sociais e ambientais que
contribuam para um mundo melhor.
Cada sistema, por ter propósitos dis-
tintos, exige elementos distintos para
bem desempenhar os seus papéis: es-
truturas, processos, regras, pessoas,
cultura, comportamentos e capacita-
ções específicas são necessários. Um
dos maiores desafios? Muitas vezes,
as mesmas pessoas atuam nos três sis-
temas, exigindo flexibilidade de capa-
citações e comportamentos adequa-dos a cada sistema. Primos que são
também sócios e colegas na gestão;
pais e filhos desempenhando também
vários papéis. Cada vez mais, até três
gerações de membros da família
atuando no sistema. Bem-vindo à rea-
lidade da família empresária!
Uma vez que a família e o negócio
têm suas necessidades específicas, o
antagonismo dos sistemas pode se
exacerbar de forma crítica nos tem-
pos de crise, podendo pôr em risco
ambos os sistemas.
Qual a prioridade neste momento de
crise? A família e seus acionistas ou a
empresa e todo o seu ecossistema? De-
vemos priorizar a total harmonia fami-
liar ou a decisão, mesmo que por maio-
ria, dos sócios do negócio?
Independentemente da decisão to-
mada, um processo decisório colegia-
do tende a ser mais legítimo e gerar
confiança e união das pessoas.
Também cuidado com as não deci-
sões. Em momentos de crise, não deci-
dir pode ser potencialmente mais pe-
rigoso do que decidir e correr os ris-
cos ou colher os benefícios de umadeterminada decisão.
A única questão que tenho ouvido de
forma unânime é que a crise um dia vai
passar. Cabe a nós sabermos atraves-
sá-la e, principalmente, aproveitá-la pa-
ra fortalecer a nossa família e o nosso
negócio familiar (ou não).
Evoluir na crise é muito mais comple-
xo do que evoluir fora dela, por outro
lado, nada como uma necessidade la-
tente para mobilizar as pessoas a saí-
rem de sua zona de conforto e tomar
decisões que há pouco tempo pare-
ciam ser inviáveis.
Conceitualmente, estamos falando
em ajustar alguns elementos dos siste-
mas de decisão da família, da sua socie-
dade e de seus negócios. Podemos fa-
zer ajustes nas estruturas da governan-
ça (conselhos e comitês), nos seus pro-
cessos (reuniões), nas suas pessoas,
nas suas crenças e comportamentos e,
principalmente, na agenda da gover-
nança (o que é importante e crítico
agora).
Seria um exemplo claro de um siste-
ma evolutivo funcional, flexível e aber-
to, ajustando-se às mudanças do am-biente externo e se adaptando para so-
breviver em novos tempos.
O que acredito que costuma funcio-
nar mais do que nunca neste momen-
to de crise? Muito diálogo, confiança
mútua, união e otimismo.
Cada família e empresa familiar tem
a sua realidade e seus desafios, mas
todas têm algumas características em
comum: nasceram de um sonho de
um empreendedor, possuem valores
familiares fortes e peculiares, são par-
te extremamente relevante da socie-
dade e da economia do Brasil.
Nesse sentido, cabe às famílias em-
presárias deixarem um legado para o
Brasil neste momento tão desafiador,
dando um exemplo de coragem, de em-
patia, de solidariedade e de superação,
atributos que sempre estiveram pre-
sentes no DNA empreendedor das fa-
mílias empresárias brasileiras.]
CONSELHEIRO PROFISSIONAL,
CONSULTOR DE GOVERNANÇA E MENTOR.
E-MAIL: FERNANDO.MESQUITA@FCMASSES-
SORIA.COM.BRSem liquidez, empresas vão quebrar, diz presidente da GM América do Sul. Pág. B10}
O gabinete do Japão aprovou
na terça-feira, um pacote eco-
nômico de 108 trilhões de ie-
nes (US$ 988,83 bilhões) para
lidar com os efeitos adversos
da pandemia de coronavírus.
Como se esperava, o governo
japonês também declarou esta-
do de emergência por um mês
em função da covid-19, como é
conhecida a doença causada pe-
lo vírus.
O pacote inclui gastos fiscais
de 39,5 trilhões de ienes e repas-ses de 300 mil ienes a famílias
que tenham sofrido forte perda
e renda por causa do coronaví-
rus. Além disso, o governo japo-
nês pretende oferecer até 2 mi-
lhões de ienes a pequenas em-
presas afetadas pela pandemia
e aliviar parte dos impostos pa-
gos por firmas desse segmento.
O primeiro-ministro do Ja-
pão, Shinzo Abe, também decla-
rou estado de emergência por
um mês em Tóquio e seis outras
áreas. / AGÊNCIAS INTERNACIONAISPossível legado das famílias empresárias brasileiras na crise da covid-19
Opinião
Documento do banco
central americano fala
em ‘forte’ deterioração
da economia do país
no curto prazo
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