O Estado de São Paulo (2020-04-09)

(Antfer) #1

Tião Oliveira


O fascínio que os carros desper-
tam sobre o homem é retrata-
do no cinema desde sempre e
remonta produções como as
protagonizadas por Buster
Keaton, nos anos 1920. Essa
atração é tamanha que fez com
que atores como Gene Hack-
man e Paul Newman se aventu-
rassem nas pistas após inter-
pretarem personagens ligados
à velocidade.
Hackman foi protagonista de
Operação França (1971), que fa-
turou cinco Oscars. Ele inter-
preta Jimmy “Popeye” Doyle,
policial que tenta desmantelar
uma rede de tráfico de drogas.
Em uma sequência com cin-
co minutos, “Popeye” perse-
gue, em um Pontiac GTO, um
trem de metrô com criminosos.
A produção limitou a área onde
a filmagem seria feita, mas o car-
ro saiu da zona de segurança –
várias manobras e colisões
aconteceram de verdade.
Hackman, que já gostava de
carros, ficou apaixonado. No
fim dos anos 1970, já era consi-
derado um dos melhores pilo-
tos em Hollywood. Ele atingiu o
auge em 1983, quando disputou
a 24 Horas de Daytona (EUA).
Já Paul Newman foi picado
pelo bichinho da velocidade em



  1. O motivo foi 500 Milhas ,
    filme que conta a história de um


piloto que sonha vencer a 500
Milhas de Indianápolis (EUA).
Ele criou sua própria equipe, a
Newman/Hass/Lanigan Racing.
Estreou como piloto profissio-
nal em 1972, em uma corrida em
Connecticut, e em 1979 disputou
a 24 Horas de Le Mans (na Fran-
ça). Ficou em segundo lugar com

o Porsche 935, ao lado do alemão
Rolf Stommelen.
Newman continuou corren-
do. E, em 1995, aos 70 anos, ao
participar da 500 Milhas de Day-
tona, tornou-se o piloto mais ve-
lho a disputar uma corrida por
um time de elite.
Outro que virou piloto e do-

no de equipe após correr nas te-
las foi James Garner. Ele inter-
pretou Graham Hill no longa
Grand Prix , de 1966. No ano se-
guinte, criou a American Inter-
national Racing.
Embora não tenha conquista-
do grandes resultados, fez uma
boa carreira nas pistas. Entre os

destaques, Garner pilotou o sa-
fety car da 500 Milhas de India-
nápolis em três ocasiões.

Rebelde adorável. James
Dean, que fez apenas sete fil-
mes, virou um ícone do cinema
e do automobilismo. Muito por
causa de sua atuação em Juven-

tude Transviada , de 1955. Ele ti-
nha um Porsche Speedster,
com o qual disputava corridas
como novato.
A Warner o proibiu de correr
até que as filmagens de Assim
Caminha a Humanidade fossem
concluídas. Ele morreu em um
acidente com seu Porsche Spy-
der 550 antes de o filme estrear.
Da, digamos, nova safra de
atores-piloto fazem parte Tom
Cruise e Patrick Dempsey. O in-
térprete de Ethan Hunt, da fran-
quia Missão Impossível , pilotou
um Fórmula 1 da Red Bull após
as filmagens de Protocolo Fantas-
ma , o quarto episódio da série
O teste ocorreu na pista de
Willow Springs, na Califórnia.
Cruise teve como padrinho o pi-
loto escocês David Coulthard.
Dempsey, que ficou famoso
com a série de TV Grey’s Ana-
tomy , tem sua própria equipe.
Ele disputou quatro vezes a 24
Horas de Le Mans, além do
Mundial de Endurance (WEC)
com um Porsche 911 RSR.

Le Mans. O caso de Steve Mc-
Queen é ainda mais emblemáti-
co. Enquanto estudava para ser
ator, o garoto de Indiana (EUA)
já participava de corridas de mo-
to nos fins de semana. Ao longo
da carreira, ele participou de 27
filmes, como Bullit (1968) e As
24 Horas de Le Mans (1971).
O primeiro tem uma das mais
celebradas sequências de perse-
guição do cinema. Ao longo de
10 minutos, o policial Frank Bul-
litt (McQueen), que está a bor-
do de um Mustang GT, perse-
gue suspeitos em um Dodge
Charger pelas ladeiras de São
Francisco. Não há trilha sonora
nem diálogos – apenas o som do
cantar de pneus em curvas.
Como curiosidade, um dos
dois Mustang de 1968 usados
nas filmagens (que ficou por
mais tempo com McQueen) foi
leiloado em fevereiro nos EUA
por US$ 3,4 milhões (na época,
uns R$ 15 milhões).
Le Mans foi filmado no circui-
to francês, entre junho e novem-
bro de 1970, durante a prova da-
quele ano. McQueen (no papel
de Michael Delaney) pretendia
competir com um Porsche 917
junto com Jackie Stewart, mas
sua inscrição não foi aceita.
Por isso, ele é retratado como
piloto de um Porsche 917 K,
guiado por Jo Siffert, Brian
Redman e Kurt Ahrens, Jr.
O Porsche 908/2, com o qual
McQueen conquistou um se-
gundo lugar na 12 Horas de Se-
bring (EUA), foi inscrito na
corrida e levava as câmeras. O
carro percorreu 282 voltas e
terminou a prova na segunda
posição da Categoria P3.0.

JornaldoCarro


Luiz Carlos Merten

São conhecidas as histórias de
astros que foram apaixonados
por carros e até morreram pre-
cocemente (e tragicamente) ao
volante. Uma das mais notórias
é a do galã James Dean.
Ele adorava exibir seu Pors-
che nos intervalos da filmagem
do clássico Giant/Assim Cami-
nha a Humanidade , o que lhe va-
leu não poucas brigas com o di-

retor George Stevens. Dean ain-
da devia algumas imagens adi-
cionais à produção quando mor-
reu naquela estrada da Califór-
nia, em 1955, a caminho de uma
corrida em Salinas. Tinha ape-
nas 24 anos.
Paul Walker também era lou-
co por carros, o que faz todo sen-
tido, tendo sido astro – com Vin
Diesel – da série Velozes e Furio-
sos. Ele chegou a participar de
provas como a Redline Time At-
tack, mas a amarga ironia foi
que morreu no banco do passa-
geiro, também em um Porsche,
também na Califórnia, em 2013.
O ator tinha acabado de comple-
tar 40 anos.
Outras histórias tiveram fi-
nais mais felizes. Steve Mc-

Queen catapultou sua carreira
com o mito da velocidade – a
moto de Fugindo do Inferno , de
John Sturges, de 1963; o ultrale-
ve de Crown, o Magnífico , de Nor-
man Jewison, ao som de The
Windmills of
Your Mind , do
trio Michel Le-
grand/Allan e
Marilyn Berg-
man, que ven-
ceu o Oscar de
canção de
1968.
E, claro, a perseguição pelas
ruas de São Francisco no impe-
cável thriller Bullitt , de Peter Ya-
tes, de 1969. Dois anos depois,
McQueen protagonizou As 24
Horas de Le Mans , que era me-

nos um drama, uma aventura,
que uma reportagem esportiva
do diretor Lee H. Katzin sobre a
célebre corrida francesa.
McQueen participou de mui-
tas disputas sobre rodas. Era o
primeiro a de-
bochar de si
mesmo. Dizia
que nada en-
tendia de
freios, nem de
motores. Mor-
reu no auge,
aos 50 anos,
em 1980, mas de câncer.
Paul Newman também parti-
cipou de uma grande corrida na
tela – a de Indianápolis em 500
Milhas/Winning , de James
Goldstone, e o filme era bem

bom. Newman tomou gosto pe-
la coisa, formou a própria equi-
pe, a Newman-Hass-Lanigan
Racing, e terminou fazendo his-
tória como o mais velho piloto a
participar de verdade das 500
Milhas de Daytona, quando já
completara 70 anos.
Sabe o astro de Grey’s Ana-
tomy? Pois é. Patrick Dempsey
participou das 24 Horas de Le
Mans e continua correndo por
aí. Gene Hackman, vencedor do
Oscar por Operação França – e o
filme de William Friedkin tinha
uma corrida eletrizante nas
ruas de Nova York –, participou
da Daytona 500, em 1983.
Matt Damon e Christian Bale
correram recentemente na fic-
ção em Ford vs. Ferrari , bom fil-

me do gênero, de James Man-
gold, sobre a rivalidade de italia-
nos e norte-americanos pela su-
premacia em Le Mans.
Muito bom foi Rush – No Limi-
te da Emoção , de Ron Howard,
de 2013, com Chris Hemsworth
e Daniel Bruhl. O filme é basea-
do no célebre antagonismo dos
pilotos de Fórmula 1 James
Hunt e Niki Lauda nas pistas.
Mas o melhor filme do tipo
talvez seja Grand Prix , de John
Frankenheimer, de 1966, com
um respeitável time de pilotos
fictícios – Yves Montand, Ja-
mes Garner, Brian Bedford,
Toshiro Mifune, etc.
Garner também tomou gos-
to, fundou sua escuderia, a Ame-
rican International Racing, e
participou de disputas impor-
tantes, embora gostasse mes-
mo é das corridas off-road, co-
mo a Baja 1000, no México.

Paixão por velocidade fez e faz atores virarem pilotos de verdade


NA


O MELHOR DO GÊNERO É
‘GRAND PRIX’, COM YVES
MONTAND E JAMES
GARNER COMO PILOTOS

DAS TELAS PARA AS


PISTAS


QUARENTENA


E O OSCAR DE MELHOR FILME DE CARROS VAI PARA...


Música


João Bosco lança novo álbum PÁG. H8


PARCERIA

Do galã James Dean
a Matt Damon: filmes
que trazem histórias
apaixonantes de astros
em disputas sobre rodas

TAG HEUER/DIVULGAÇÃO

FOTOS: ARQUIVO/ESTADÃO

Grid da fama. A partir da esquerda, Dempsey criou equipe,
Newman correu até os 80 anos e Dean morreu ao volante

Mito. De Le
Mans a São
Francisco,
McQueen
fez história

%HermesFileInfo:H-1:20200409:H1 QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 (^) O ESTADO DE S. PAULO
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