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A6 Política QUINTA-FEIRA, 9 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Jussara Soares / BRASÍLIA
Pré-candidato a prefeito de São
Paulo pelo MDB, o apresenta-
dor José Luiz Datena afirmou
que, mais uma vez, pode desis-
tir de uma disputa eleitoral. O
motivo agora, segundo ele, é a
pandemia do coronavírus. O
apresentador disse que, diante
das mortes e da crise econômi-
ca, a eleição não é mais sua prio-
ridade e que seu papel como jor-
nalista tem sido mais importan-
te para ajudar as pessoas.
“Eu já estava em dúvida, mas,
agora, (a eleição) não é minha
prioridade. Eu não sei o que te
dizer, o que te responder. Estou
vendo tanta gente morrer, tan-
ta gente passando fome, que
não é minha prioridade. Estou
vendo que meu papel como jor-
nalista está sendo importante
para ajudar as pessoas. Eu não
sei se seria o momento de parar
agora”, disse o apresentador ao
Estado , por telefone.
Desde o aumento de casos da
covid-19, seus programas na rá-
dio e na TV Bandeirantes têm
recebido autoridades do gover-
no para falar sobre a pandemia.
O presidente Jair Bolsonaro
concedeu quatro entrevistas a
Datena: uma no programa de rá-
dio e outras três no programa
de TV Brasil Urgente – a última
foi ontem à noite. O presidente
sonhava em ver o jornalista co-
mo seu candidato à Prefeitura
de São Paulo, mas, em entrevis-
ta ao Estado em fevereiro, Date-
na declarou que tinha liberadoBolsonaro de apoiá-lo e que não
precisava estar alinhado politi-
camente a ele.
Para disputar as eleições mu-
nicipais, Datena tem de deixar
os programas até 30 de junho.
Na cobertura do coronavírus,
ele tem ficado até seis horas no
ar. “Acho que estou ajudando
com meu papel de jornalista le-
vando a informação. Nem faço
mais cobertura policial. É só po-
lítica e a cobertura do coronaví-
rus”, disse, acrescentando que
não mantém contato com o pre-
sidente fora do ar.
O apresentador admitiu ain-
da que pode adiar a entrada na
vida política para concorrer ao
Senado em 2022, que era sua
pretensão inicial ao se filiar ao
MDB. “Hoje não me faria falta a
eleição. Sei lá, talvez eu aguarde
mais tarde para o Senado, o que
eu sempre quis”, afirmou.
Apesar disso, o jornalista dis-se não ter tomado uma decisão
sobre a Prefeitura. Por causa da
pandemia, afirmou, todas as
conversas sobre possíveis alian-
ças estão suspensas. A possibili-
dade de sair como vice na chapa
do prefeito Bruno Covas
(PSDB) também não avançou.
“Nós não falamos mais sobre is-
so. Ninguém falou comigo so-
bre aliança. Se eu tiver que sair
(candidato) , sairia a prefeitomesmo pelo MDB. Mas não es-
tou pensando nisso. E tenho a
impressão de que o prefeito (Co-
vas) também não, porque ele es-
tá enfrentando uma pande-
mia”, disse o apresentador.Fundo. Datena defendeu a
transferência do valor do fundo
eleitoral, cerca de R$ 2 bilhões,
para ajudar no enfrentamento
ao coronavírus. “Os políticos
deveriam pensar em abrir mão
do fundo eleitoral. Reduz para
R$ 1 bilhão ou o mínimo possí-
vel. Se for ter eleição, eu sou fa-
vorável de o cara fazer a campa-
nha com telefone celular. Não
dá para gastar um dinheirão
com eleição num país que com
certeza ficará com cicatrizes de-
pois dessa pandemia.”
O apresentador tem um his-
tórico de desistências de candi-
daturas. Em 2016, então filiado
pelo PP, desistiu de concorrer à
Prefeitura de São Paulo. Em
2018, voltou atrás após se lan-
çar ao Senado pelo DEM. Ao as-
sinar a ficha de ingresso no
MDB, em 4 de março, em Brasí-
lia, disse que dificilmente não
sairia candidato.Caio Sartori / RIO
Enquanto prefeitos e governa-
dores têm criticado a postura
do presidente Jair Bolsonaro
diante da pandemia do corona-
vírus, o prefeito do Rio, Marce-
lo Crivella (Republicanos), ace-
na cada vez mais ao mandatá-
rio. Com baixos índices de po-
pularidade, ele tenta ganhar for-
ça para a disputa eleitoral com a
filiação de filhos do presidente
ao seu partido.
A ida para o Republicanos do
vereador Carlos Bolsonaro, do
senador Flávio Bolsonaro e da
ex-mulher do presidente, Rogé-
ria, envolveu negociações so-
bre candidaturas em 2020. Re-
presentantes do Aliança pelo
Brasil, legenda que Bolsonaro
pretende criar, usarão a sigla de
Crivella como abrigo temporá-
rio enquanto o partido não sai
do papel. Essa união eleitoral
envolve, por exemplo, o apoio
dos Bolsonaros a Crivella em
troca de protagonismo de pes-
soas ligadas ao Aliança em ou-
tras cidades do Estado do Rio.
Alguns deputados estaduais,
como Dr. Serginho (Cabo Frio)
e Alana Passos (Queimados),
ambos do PSL, reivindicam en-
cabeçar a chapa em seus municí-pios. O acordo também passa
pela eleição de 2022, quando o
prefeito e o bolsonarismo volta-
riam a estar juntos.
Com queda nos índices de po-
pularidade, Crivella busca
apoio para sua tentativa de ree-
leição. Na mais recente pesqui-
sa Datafolha, publicada em de-
zembro, ele era rejeitado por
72% dos cariocas. Interlocuto-
res do prefeito resistem a falar
sobre a indicação do vice para a
chapa, mas a tendência é de que
a família Bolsonaro tenha po-
der para escolher o nome.
No início da semana, Crivella
elogiou a condução da crise por
Bolsonaro. “Nunca tivemos um
presidente tão ciente de suas
magnas responsabilidades”,
afirmou, na segunda-feira, du-rante transmissão ao vivo feita
na sua página pessoal.
Entre os aliados de Crivella,
há a convicção de que a chegada
da família Bolsonaro ao Republi-
canos ajuda a legenda a acabar
com o rótulo de “partido da Igre-
ja Universal”, sempre associa-
da ao bispo Edir Macedo. Apoia-
dor do presidente, ele é funda-
dor e líder da igreja, além de tio
do prefeito do Rio.Redes. A máquina digital dos
bolsonaristas também é um ati-
vo com o qual Crivella pretende
contar na eleição. Conhecido
pela atuação nas mídias sociais
da Presidência da República,
mesmo sendo vereador, Carlos
Bolsonaro teria um papel im-
portante nesse ponto.Sites conhecidos por publi-
car textos favoráveis ao presi-
dente já começaram a citar posi-
tivamente o prefeito. Um deles,
que chegou a ter um link sobre a
hidroxicloroquina compartilha-
do por Bolsonaro, publicou no
início da semana: “Enquanto
Crivella anuncia que doará o
próprio salário para combater a
covid-19, a imprensa se cala”.
A aproximação entre Crivella
e o presidente não vem de hoje.Em outubro do ano passado, a
prefeitura nomeou para a Secre-
taria de Ordem Pública o ex-
árbitro de futebol Gutemberg
Fonseca, ligado a Flávio Bolso-
naro. Ele chegou a ser secretá-
rio de Governo na gestão de Wil-
son Witzel (PSC), ex-aliado e
atualmente um dos adversários
do presidente.
Em meio à pandemia do coro-
navírus, contudo, o prefeito se
equilibra entre a aliança políti-
ca com a família presidencial e o
compromisso com as medidas
restritivas para evitar a prolife-
ração da doença. Chegou a ven-
tilar uma reabertura do comér-
cio, mas a ideia não foi colocada
no papel. O mesmo ocorreu
com as escolas municipais. Cin-
co secretários do prefeito, inclu-
indo a responsável pela Saúde,
receberam diagnóstico de co-
vid-19. Crivella fez o teste rápi-
do da doença, que deu negativo.Leonardo Augusto
ESPECIAL PARA O ESTADO
BELO HORIZONTE
Um embate político entre o
governador de Minas Gerais,
Romeu Zema (Novo), e o pre-
feito de Belo Horizonte, Ale-
xandre Kalil (PSD), impediu
a construção de um hospital
de campanha, com capacida-
de para cerca de 500 leitos,
destinado ao tratamento de
pacientes com covid-19. Até
ontem, Minas tinha 14 mor-
tes confirmadas por coronaví-
rus e outros 97 óbitos sob in-
vestigação. Ao todo, foram
614 casos confirmados para a
doença, de acordo com infor-
mações da Secretaria Esta-
dual de Saúde.
O hospital seria construído
na esplanada do estádio Minei-
rão. A estrutura seria bancada
pela prefeitura em parceria
com empresa do setor de mine-
ração. A concessionária que ad-
ministra o estádio já havia auto-
rizado a obra e, segundo o pre-
feito, foi acertado com Zema.
Porém, na segunda-feira pas-
sada, Kalil informou que o hos-
pital não seria mais construído
depois do que classificou de pro-
posta “imoral, indecorosa e po-
litiqueira” por parte do Estado,
que é o dono do Mineirão. A pro-
posta citada pelo prefeito foi
apresentada pelo secretário es-
tadual de Infraestrutura e Mobi-
lidade, Marco Aurélio Barcelos,
segundo a qual Kalil e Zema de-
veriam aparecer juntos em apre-
sentações públicas que envol-
vessem o hospital.
“O Estado não cedeu a espla-
nada para a prefeitura de Belo
Horizonte, infelizmente, ape-
sar de que eu já tinha combina-
do pessoalmente com o gover-
nador. E, depois, um secretário,
Marco Aurélio Barcelos, que é
um garotinho, acho que tem 39
anos, fez uma proposta imoral,
indecorosa e politiqueira para
ceder o espaço”, disse Kalil, em
entrevista coletiva na segunda-
feira. “Quero dizer a esse rapaz
que isso não é hora de promo-
ver o governador, de promover
governos. É hora de salvar vi-
das”, acrescentou.
O Estado procurou a asses-
soria de comunicação do gover-
nador, que encaminhou nota
da Secretaria de Estado de In-
fraestrutura e Mobilidade. A Se-
cretaria afirmou, em nota, que
ofereceu na semana passada o
espaço para a montagem do
hospital de campanha pela pre-
feitura “sem qualquer custo”.
Mas, “por se tratar de um equi-pamento administrado por em-
presa privada, contratada pelo
Estado de Minas Gerais, infor-
mou-se que seria necessária a
atuação conjunta de ambos os
entes para a realização do em-preendimento, tendo sido a Se-
cretaria Municipal de Saúde co-
municada de que as equipes da
Seinfra estavam de prontidão
para dar andamento a todas as
medidas jurídicas e operacio-
nais necessárias”.
A nota diz ainda que “a opor-
tunidade de atuar em conjunto
com as autoridades municipais
neste momento de crise inde-
pende de preferências ou de
qualquer contexto eleitoral”.
Kalil afirmou ter resolvido o
problema em acerto feito en-
tre as secretarias estadual e mu-
nicipal de Saúde e os hospitais
Santa Casa de Misericórdia,São Francisco e São José. Con-
forme o prefeito, houve um re-
manejamento que tornou pos-
sível oferecer mil leitos especi-
ficamente para atendimento a
pacientes acometidos pela co-
vid-19. Segundo a assessoria da
prefeitura, os leitos serão mon-
tados na medida em que for
identificada demanda pelo sis-
tema de saúde na cidade.Isolamento. Zema e Kalil já ha-
viam se estranhado no início da
adoção de medidas de isolamen-
to social como forma de reduzir
a velocidade do contágio do no-
vo coronavírus. O prefeito, nodia 18 de março, disse que o go-
vernador não havia adotado me-
didas necessárias em relação ao
comércio nas cidades.
Ao mesmo tempo, decretou o
fechamento de lojas considera-
das não essenciais e regras sani-
tárias para o funcionamento de
estabelecimentos como lancho-
netes, que não podem permitir
a entrada de clientes, e restau-
rantes, que só podem funcionar
com entregas em casa.
Zema retrucou afirmando
que essas decisões deveriam
ser tomadas pelos prefeitos e
que o momento “não era para
bate-boca”.PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Datena afirma que candidatura a
prefeito não é mais ‘prioridade’
l ‘Papel’l PandemiaCAMILA TURTELLI /ESTADÃO- 4/3/Apresentador, que se
filiou ao MDB em março,
diz que seu trabalho
como jornalista tem sido
mais importante na crise
Plano. Datena diz que pode concorrer ao Senado em 2022“Agora, (a eleição) não é
minha prioridade. Estou
vendo tanta gente morrer,
tanta gente passando fome.
Meu papel como jornalista
está sendo importante para
ajudar as pessoas.”
José Luiz Datena
APRESENTADOR DE TVCrivella filia Bolsonaros e negocia acordo para eleições
Prefeito busca aumentar
popularidade; aliados
do presidente querem
apoio para candidaturas
em cidades menores
ALEX SILVA /ESTADÃO - 18/10/Disputa
política em
Minas trava
hospital
Kalil. Prefeito cita proposta ‘politiqueira’ de secretárioPREFEITURA BH - 6/2/14
era o número de óbitos por
coronavírus confirmados até
ontem em Minas. Outros 97
estão sob investigação. No
Estado, foram confirmados
até agora 614 casos.Construção de 500 leitos é suspensa após
impasse entre governador e prefeito de BH
Zema. Secretaria estadual afirma que cedeu o espaçoNA WEB
Eleições. Os
cotados para a
disputa no Rioestadao.com.br/e/eleicoes2020rio
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