14 |Valor|Quintaesexta-feira,9e10deabrilde
Equipe leva
equipamentosa
hospitais pela estação
Gare d’Austerlitz, em
Paris;presidente
francês foi umdos
lídereseuropeusque
assinou cartaa favor
deresposta“eficaze
unidaӈ criseatual
Ao ladodo espanhol Pedro Sánchez e do
francês Macron, Contemobilizoua resposta
dos defensores do “eurobond”. Ele afirmou
que os líderes europeus“nãoestavam escre-
vendoummanualdeeconomia,masumlivro
de história”er essaltou que a excepcionalida-
de provocadapela pandemia pediarespostas
inéditas,nãoosvelhosmecanismos.
Os chefespolíticosde França,Itália,Es-
panha,Irlanda, Portugal,Eslovênia,Grécia,
Luxemburgoe Bélgicaassinaramum carta
conjuntaa favor da medida:“Se queremos
que a Europade amanhãestejaà alturadas
suasinspirações históricas,devemosagir
hoje e prepararonosso futurocomum”. A
missivaevocava a necessidadede umares-
posta“eficaz e unida”.
O economista Andrea Billi,professorda
universidadeLa Sapienza, de Roma,diz que
a Europavive uma situaçãodo pontode vis-
ta econômicosemelhante adeumconflito
bélico. “É comoum guerra.Não tem como
um país se salvarsozinho.Só conseguire-
mosnossalvartodosjuntos.Casocontrário,
estaremosmortocomobloco”, afirma.
Paraele,oproblemanãoéaquedadapro-
dução, uma realidade em todosos 27 países
da UniãoEuropeia,mas sim comosustentar
ademandainternanaregião,oquesegundo
ele só será possívelrecorrendoa um débito
público comum.“Nenhumpaíseuropeu
tem hoje condiçõesde fazerum grandepla-
no, nemmesmoaAlemanha.Só podemos
contarcomalgocomoo‘eurobond’”.
As escolhas econômicas do resgatefinan-
ceiroterãoimplicações políticas, oque ex-
plicaa ausênciade umaresposta comum
até o momento. Umanovarodadade con-
versasdeveráocorrernapróximasemana.
AngelaMerkel,a principalliderançado
euro, está paradeixaro poderno próximo
ano,conformejá prometeu.Sua recusaao
“eurobond”tem uma lógicainterna,segun-
do o professor Marchetti.“O problemaéo
custopolíticodamedida.NaAlemanha,por
exemplo, optarpor esse caminhocausaria
um danopolíticograve aMerkel,que tem a
popularidadeemqueda,enquantoporou-
troladocresceaaprovaçãodadireitanacio-
nalistaalemã”, afirma.
Alógicanão éamesmaem todooconti-
nente:partidosda extrema-direita e com a
agendaxenófoba,comosão os casosda ita-
lianaLiga e do espanhol Vox, historicamen-
te eurocéticos, passaramadefenderuma
uniãoconjuntade toda aEuropapara a re-
construçãonopós-pandemia.
Avisão sombria sobre ofuturo do bloco
após ocaos provocadopelo coronavírus foi
amplificada por analistas como o estrategis-
taamericanoIanBremmer,daconsultoriade
riscopolítico Eurasia.Ele traçou um panora-
ma apocalíptico paraaEuropa, com ocresci-
mento da violência contrarefugiados e imi-
grantes, alémdo fortalecimento de grupos
políticos“nacionalistasexenófobos”.
Marchetti ressalta que a atualcrisesemis-
turaaoutrasemcursonaUniãoEuropeia,co-
mooBrexit,queeleclassificacomoum“caso
evidentedefalência”.Oprofessorafirmaque
há muitos países interessados na fragilidade
da Europa, como a Rússia,aChinae os Esta-
dos Unidos, ressaltando oapoiode Donald
TrumpàsaídadoReinoUnidodobloco.
Outraquestão em jogoé o poderda
UniãoEuropeiapara aplicarsançõescontra
seusmembros,emespecialapósamudança
promovida na Hungria,com oParlamento
aprovando poderes ilimitadosao primei-
ro-ministro ViktorOrbán,o que contraria
todosostratadosemvigornaregião.
“Esseé um problema de alguns paísesque
fizeram umarápida transição, entraram na
UniãoEuropeiade maneirarápida erenegam
desdesempreos princípios do bloco. Aconte-
ce com a Hungria etambémcom a Polônia.
Mas não podemos perder de vista que aHun-
gria não é um país central do pontode vista
políticoeeconômico”,afirmaMarchetti.
Ocoronavírus será o maior testeparaa
UniãoEuropeiadesdeofimdaSegundaGuer-
ra Mundial (1939-1945),quando o bloco co-
meçouaser esboçado. Para AndreaBilli,a
pandemia será seu verdadeiro teste, muito
maisdesafiador que a crisede2008. Ele com-
paraa zona do euroa um barcoraso, apro-
priado para navegarem um lago com águas
calmas,enãonummarcheiodeondas.“Espe-
roqueeleresistaàtempestade.”■
NATHANLAINE/BLOOMBERG