Valor - Eu & Fim de Semana - Edição 1009 (2020-04-09 e 10)

(Antfer) #1

22 | Valor| Quintaesexta-feira,9e10deabrilde2020


GALERIA
ARQUIVO PESSOAL

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Em 2018, comcriançaque é atendidapor um templono Camboja

Em Paris com Muhammad Yunus, que ganhou o Nobel da Paz de 2006

Hertze Devry Boughnerem 2018, em Davos, em entrevista a CNBC

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Na Turquia, em 2019, em técnicade plantaçãocomrefugiadassírias

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escondidinhode calabresa. O preçoincluiu
suco de abacaxie café.
O CampoLimpo, ondefuncionaoTia Ni-
ce, fica na zonasul de São Paulo,perto de re-
giõesnobrescomoMorumbi.É um bairro
misto,com condomíniosde classemédiae
favela. Hertzfez questãode marcara entre-
vista ali para que maispessoasconheçame
cruzemapontedasclassessociais.“Simboli-
camente,noRiodeJaneiro,agentefalaemir
do asfaltopara o morro.EmSão Paulo esse
movimentoécruzaraponte.Somosnós,que
temostodasas oportunidadese vivemos
numlugarprivilegiado, que precisamosvir
aqui,vivenciaresseespaçoebaterpapo.”
Seusolhosazuisbemclarossesobressaem
no rostolevementebronzeadoecom abar-
baporfazer.Acorvemdosolmatinalqueto-
mava todosos dias bemcedona praiade
Ipanema,no Rio, ondevive atualmente.An-
tes de ficarao terraço,às6h já estava na
areia,fazendoexercícios.De voltapara casa,
às7h,meditavadurante30minutosantesde
tomaro café da manhãe começara traba-
lhar. Quandoviajava tambémlevava elásti-
cos para se exercitar.Atualmentenão bebe.
Bebia.“Desdeagostoestouabstêmio, já fui
vegetariano.Nadaparamimédefinitivo.”
Aviabilizaçãoda Gastromotivatem mui-
to a ver com suas idas ao FórumEconômico
Mundial,ondeesteveporquatroanossegui-
dos, buscandoparceirosinternacionais. Co-
zinhava em panelõesnumaigrejaàentrada
docentrodeconferências.“A genteserviade
200 a300 pessoas.”Foi lá que conheceuNi-
cola Gryczka,hoje CEO da Gastromotivae,
segundoele,quemfaztudoacontecer.
EmDavos,eleesuaequipe,comcozinhei-
ros da Marée do ChapéuMangueira, duas
comunidadesdo Rio, prepararamumare-
feiçãona nevecontratadospela rede de te-
levisãoCNBC.Foichamada de “umadas seis
coisasque você perdeuem Davos”.No ano
seguinte, quando oFórum Econômico
Mundial da AméricaLatinateve comosede
São Paulo, Hertze seu núcleocolheramre-
sultados:fizeramumalmoçocomsobrasde
comidaparaos chefesde Estadopresentes
no hotelGrandHyatt. Oobjetivoera cha-
mar atençãopara ofato de que um terçoda
comidamundialé desperdiçado, o que re-
presenta1,3bilhãodetoneladasporano.
A iniciativavingoue, no ano passado, a
marcaGastronomiaSocialfechouuma par-
ceriacom o World Food Programme, agên-
cia da ONUcontraafome,que é a maior
agência humanitáriado mundoe fornece
alimentos para90 milhões de pessoasem
80países.“NesteanonãopreciseiiraDavos.
Aprendino movimentoque trabalharem
colaboraçãoaumentadez vezesa velocida-

de de soluçãodas coisas”,afirma.“A gente
está trazendoesse projetopara oBrasil,te-
cendoumarede paraexecutarprojetosde
educação eestamoscomoanfitriões.Há
cincopessoasno Brasileseis ao redordo
mundomontandoessemovimento.”
Davos serviucomochancelado conceito
que Hertzqueriadesenvolvere funcionou
comoaberturadeportasparaempresas,go-
vernosefundações. Foi lá que encontroua
Wise,fundaçãofilantrópica de milionários,
que o apoia.Entreas multinacionaisque o
ajudaramestãoCoca-Cola, Cargill,Carre-
four,DSM,USB,Marriotteváriasoutras.Mas
o mundo mudou.“Nãohá maisrecursosli-
vres”, afirma.“Você não encontramaisuma
empresapara quemvocê ofereçaum proje-
to e ela te dê R$ 160 mil paraformar 200
pessoasna cozinhae depois você envia um
relatóriode empregabilidade. Isso acabou.
A captaçãode recursostem que ser estraté-
gica.” Elecontaqueestátentandoconseguir
R$ 56 mil paraformar24 mulheresonde
funcionao restauranteda Tia Nice,mas não
consegue.“Nãotem.Eolha que custaum
décimodeumvídeodepublicidade.”
Oorçamentoanualda Gastromotiva eda
Gastronomia Social varia de R$ 6milhões a
R$7milhões—paraesteanojáforamobtidos
60%.São 50 funcionários envolvidos em vá-
rios projetos e umaequipede captação. A
maiorvitrine da ONGé o Refettorio Gastro-
motiva,nobairrodaLapa,noRio,inaugurado
para a Olimpíadade 2016,que servia 90 refei-
çõesgratuitasdiariamentecominsumosdoa-
dos pela Benassi. Fechadonestemomento, o
Refettorio se tornouum centro para doação
de alimentos que redistribui oque recebe pa-
ra 13 organizações parceiras, que vão de con-
ventoseigrejasaONGsdecomunidades.
Aconcretizaçãodo Refettoriosó foi pos-
sívelgraçasaos recursosda ONGFood for
Soul,do italianoMassimoBottura,proprie-
tárioechef da OsteriaFrancescana,em Mo-
dena,restaurantecom três estrelasMiche-
lin e que, em 2016,foi oprimeirocolocado
na lista 50 Best Restaurants.Até o iníciodo
mês passado, oespaçofuncionava como
restaurante-escola,ondejovensvoluntários
e chefsconvidadoscozinhavam parapes-
soasemsituaçãoderua.
A sobrevivênciados projetossociais,para
Hertz,dependedadiversificação.Eledizque
há até doaçõessingelasde indivíduosque
oferecemR$ 20 e cita um casalde Curitiba
bem-sucedidocom uma empresade tecno-
logia,que adoragastronomiae émantene-
dor de um projeto. Bancametadede quatro
turmasem Curitiba,cujo gastoanualrepre-
sentaR$160mil.“Ébarato.Comessedinhei-
ro você forma200 pessoas.Eaempregabili-
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