Nas páginas da obra mais intrigante de seu conterrâneo Guimarães Rosa está a metáfora que permeia
as decisões da moça cientista. A palavra “margem”, no sentido daquilo que não se vê, que está esquecido,
inspira a vontade de transformação, de ser rio.
Na adolescência veio a paixão pela ciência, ainda na escola, que ganhou correnteza com o programa
de vocação científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e virou leito potente com a graduação em
Farmácia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O olhar para a margem ia se aperfeiçoando. Com o doutorado em Química pela University of
California, San Francisco, nos Estados Unidos, e o pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP),
voltou sua pesquisa para a elaboração de medicamentos para doenças negligenciadas. São aquelas
associadas à pobreza, ao subdesenvolvimento e a condições de vida e saúde precárias. Enfermidades não
raras, mas que recebem pouco investimento científico, econômico e governamental. Que estão à margem.
Os esforços da cientista que coordena o Laboratório de Modelagem Molecular e Planejamento de
Fármacos na UFMG foram reconhecidos com diversas premiações como o Para Mulheres na Ciência e o
For Women in Science International Rising Talent, da L’Oréal-Unesco.
“A terceira margem do rio” é a via criada como escape, rompimento de limites. Maneira única de
lidar com o incompreensível da vida.
Rafaela Salgado Ferreira