A CIÊNCIA COM ROSTO DE MULHER

(Casulo21 Produções) #1

Abriu os olhos naquela manhã de outono, num rompante. Teve


um sonho perturbado? Lembrou de uma tarefa por fazer? Não. Era


mais uma pergunta. Daquelas que a acompanham desde antes


dos primeiros passos pela casa de madeira. Daquelas que ficam


martelando, chacoalhando e que muitas vezes surgem dos lugares


mais inusitados: um pote de biscoitos, a água do riacho, de trás da


cortina, embaixo do guarda-chuva da mãe, na teia de uma aranha, no


azul do céu. Perguntas, muitas perguntas.


Eram suas melhores amigas. Conversavam por horas arrastadas


debaixo da goiabeira, por entre as latas empilhadas da mercearia, no


rancho empoeirado atrás da casa onde loucinhas de barro serviam


chá de imaginação às damas-perguntas.


A menina se divertia com tantas inquietações e até dançava com elas.


Buscava afago nas páginas gastas dos tantos inquilinos que habitavam


a biblioteca pública da cidade. Ficava maravilhada com esse local


e com as possibilidades de conhecimento, deleite e sonho que dali


podia beber. E mais ainda com a generosidade das portas abertas a


todos, indistintamente, propiciando o saber de forma legítima.


As respostas estavam na biblioteca. E também ao redor da mesa


com café e bolo na casa da avó. Pairavam no ar em forma de nuvens,


voavam com o vento, davam cambalhotas no ar. Adoçavam aquela


meninice de olhos e ouvidos atentos, que queriam sempre mais.


Porque depois de uma resposta vinha sempre outra pergunta.

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