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A2 Espaçoaberto SÁBADO, 11 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Se você faz parte do time que
só de pensar em temperar o
chocolate já desiste de fazer
ovo de Páscoa em casa, eis
uma boa notícia: basta adicio-
nar um tantinho de manteiga
de cacau em pó (também co-
nhecida por mycryo) ao choco-
late já derretido e jogar a tem-
peragem para escanteio. Só
não dá para dispensar o termô-
metro – é preciso ficar de olho
na temperatura do chocolate
durante o processo, para ga-
rantir um casca lisinha, firme e
brilhante. As dicas são do con-
feiteiro Bertrand Busquet, di-
retor da Chocolate Academy.
http://www.estadao.com.br/e/ovo
N
estes dias venho fazen-
do algumas reflexões,
que desejo comparti-
lhar com os leitores. A pri-
meira delas é a constatação
de que um simples vírus, apa-
rentemente insignificante,
pode causar tamanho trans-
torno e mudar em poucos
dias o ritmo da vida privada e
social, a economia das na-
ções e até as relações políti-
cas globais. Quem podia ima-
ginar isso? Era possível imagi-
nar Nova York e São Paulo va-
zias de gente e de carros por
dias seguidos? Escolas e uni-
versidades sem estudantes
em pleno ano letivo? Os siste-
mas de saúde à beira do co-
lapso, até mesmo em países
ricos e organizados?
O coronavírus acabou pon-
do em xeque as teorias econô-
micas que não têm por base a
justiça e a solidariedade, as
ideologias que, obcecadas pe-
la ambição do poder e das vai-
dades por ele proporciona-
das, promovem o ódio cego e
a desagregação social. Des-
mascarou as tendências cultu-
rais orientadas pelo individua-
lismo e o egoísmo, obrigando
a reconhecer que ninguém,
nenhum grupo e nenhum po-
vo consegue ser feliz sozinho,
nem resolver seus problemas
sem os outros.
Não uma bomba atômica,
mas um simples vírus nos
obriga a fazer as contas com
nossos limites e a redescobrir
que não somos deuses e que
os delírios de onipotência são
ilusões perigosas, capazes de
causar desordens e desastres
na convivência humana pio-
res ainda que o coronavírus.
Humildade e um sadio realis-
mo são necessários, mais do
que nunca.
Em poucos dias o trânsito
nas metrópoles melhorou e
os índices de poluição e de
desperdício de alimentos bai-
xaram drasticamente. As pes-
soas viram-se obrigadas a fi-
car mais atentas umas às ou-
tras. Os pais têm mais tempo
para conviver com os filhos e
as famílias conseguem culti-
var hábitos saudáveis, quase
impossíveis na loucura da vi-
da “normal”. O vírus fez re-
descobrir o valor do dinheiro,
conseguido a duras penas pa-
ra ser gasto no essencial. E le-
vou muitos a se voltarem no-
vamente para Deus, reconhe-
cendo a própria fragilidade e
insuficiência e que a vida nun-
ca está assegurada, mesmo
com as casas bem protegidas,
as melhores contas bancárias,
as mais destacadas posições
sociais, os melhores hospitais
e o plano de saúde mais caro
do mercado. Os sonhos e pro-
messas de segurança total
contra os males da vida fica-
ram duramente abalados, não
por um terremoto, mas por
um vírus minúsculo, que nem
mesmo se consegue enxergar!
Também as celebrações re-
ligiosas estão suspensas e as
igrejas seguem vazias, justa-
mente nas solenidades da Pás-
coa, momento central na li-
turgia da Igreja Católica,
quando as pessoas costumam
afluir em grande número. A
Igreja Católica, como tantas
outras expressões religiosas,
participa do esforço geral pa-
ra evitar o contágio do coro-
navírus e cuidar da saúde e da
vida das pessoas.
Contudo, se não podemos
sair de casa para frequentar
reuniões e aglomerações de
povo, tentamos cumprir nos-
sa missão religiosa de modo
diferente, sem deixar de reali-
zar aquilo que nos é tão caro.
Procuramos novas maneiras
de estar próximos das pes-
soas, não abandonando doen-
tes, pobres e aflitos.
A pandemia move à solida-
riedade e ao esforço comum
para superar a crise, que não
poupa ninguém. É hora de
abandonar oportunismos de
qualquer tipo e a tentação de
tirar vantagens individuais da
tragédia geral. É tempo de es-
quecer diferenças e interes-
ses de cada parte, para somar
esforços na busca do que é ne-
cessário e bom para todos, fo-
cando a atenção nos que mais
necessitam ser protegidos.
Bem observou o papa Francis-
co, peregrino solitário diante
da basílica vaticana e da Pra-
ça de São Pedro deserta, no
dia 27 de março passado: esta-
mos todos juntos, navegando
em mar agitado pela tempes-
tade; está em jogo o nosso
destino comum.
A atual crise sanitária passa-
rá, como outras no passado.
Oxalá, porém, a vida não vol-
te ao seu normal sem que te-
nhamos assimilado as lições
deixadas pelo coronavírus.
Tantas vezes as crises ajudam
a perceber melhor a vanta-
gem de somar esforços, em
vez de dispersar energias; de
ter metas básicas na vida co-
mum, a serem postas acima
dos interesses particulares;
de abraçar e defender valores
irrenunciáveis, como a digni-
dade e a vida das pessoas, a
provimento das necessidades
básicas do povo, como ali-
mento, saúde, moradia, sanea-
mento básico e oportunida-
des para ganhar o sustento de
maneira digna.
Crises podem propiciar
criatividade e inventividade
e, com certeza, haverá muita
novidade no mundo da ciên-
cia e da técnica voltada para a
medicina e a saúde. Mas seria
uma pena se esta crise não
nos ajudasse a repensar tam-
bém a convivência social, os
costumes, a cultura e a arte
de viver.
Nem tudo é comerciável,
nem tudo pode ser decidido
na base do lucro e da vanta-
gem pessoal. Há valores que
devem orientar a vida co-
mum, aos quais não devemos
renunciar para não expor nos-
so frágil barco a tempestades
ameaçadoras. Que a angústia,
o sofrimento e o preço da vi-
da de tantas pessoas, em con-
sequência da pandemia do co-
ronavírus, nos recordem es-
sas e outras importantes li-
ções de vida.
]
CARDEAL-ARCEBISPO
DE SÃO PAULO
Dúvidas podem ser tiradas
pela Central 111 de atendi-
mento telefônico da Caixa.
http://www.estadao.com.br/e/auxilio
PALADAR
Como fazer ovo de Páscoa em casa
Poeta começou a escrever
cedo, mas só foi publicada
aos 75 anos. Antes disso, ela
vendeu linguiça, banha, do-
ce e livro para viver.
http://www.estadao.com.br/e/cora
l“Presidente da República, um militar, pregando desobediência civil é
novidade na história da humanidade.”
MARCELO LUIZ
l“É um direito constitucional. Para mudar, tem que mudar a lei!”
CIDINEY FICHER
l“Correto presidente. Não se deixe abater e não nos abandone. O Bra-
sil precisa do senhor para continuar de pé.”
MARIA ANGELA GOLDMANN
l“Pagar de corajoso indo a padaria e farmácia é fácil. Quero ver ir a
uma unidade de saúde ver como está a situação e perguntar aos pro-
fissionais o que eles estão precisando.”
WANDA JUCHA
COMENTÁRIOS
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA
Fascínio por carros fez com
que atores como Steve Mc-
Queen e Paul Newman levas-
sem uma vida dupla entre as
telas e as pistas.
http://www.estadao.com.br/e/velocidade
Espaço Aberto
Q
uando o anjo da mor-
te se abateu sobre o
Egito, os hebreus re-
ceberam a ordem de
se refugiar nas suas casas,
pois quem saísse morreria, e
quem ficasse no seu lar parti-
ria no dia seguinte em dire-
ção à liberdade.
Em Pessach/Páscoa festeja-
mos o início de uma traves-
sia em direção à liberdade.
Liberdade sempre relati-
va, fugidia, impossível de de-
finir, mas que redescobri-
mos cada vez que nos enfren-
tamos com situações de
opressão.
Não vivemos em tempos
bíblicos e nossa travessia de-
pois da epidemia será outra.
Não haverá desígnio divino
nem a liderança de Moisés
para nos guiar. E não deixará
a lembrança de povos em
confronto, mas a do conjun-
to da humanidade enfrentan-
do um inimigo comum.
O “milagre do coronaví-
rus” é que, pela primeira vez
na História humana, cada
morte, em qualquer lugar no
mundo, nos coloca diante de
um espelho no qual vemos
nossos rostos e de seres que-
ridos. Não importa onde, reli-
gião, raça ou posição social,
todos nos sentimos parte da
mesma comunidade humana
e da mesma batalha, em cuja
frente não estão exércitos, e
sim médicos, enfermeiros e
cientistas.
A 2.ª Guerra Mundial le-
vou à Declaração dos Direi-
tos Humanos. Podemos la-
mentar que a humanidade
precise de grandes tragédias
para avançar. Assim foi e as-
sim será. Para que a atual tra-
gédia não seja em vão, cada
um deverá perguntar-se o
que aprendeu nos tempos do
coronavírus.
Todos nós queremos vol-
tar à nossa vida normal. Al-
guns, esperemos que não
muitos, procurarão esquecer
o acontecido. Outros, cada
um à sua maneira, usarão a
oportunidade para mudar
sua conduta, na sua vida pes-
soal e coletiva.
Cada um terá sua lista de
mudanças a fazer. Só posso
propor a minha, certamente
limitada, que deverá ser enri-
quecida nas mais diversas for-
mas por cada um, na vida pes-
soal e na ação coletiva.
Vivemos numa sociedade
que não nos permite distin-
guir entre o essencial e o se-
cundário. Hoje descobrimos
que poucas coisas são essen-
ciais para viver, que nossa
principal preocupação é o
bem-estar básico de nossos
seres queridos e que ele de-
pende do bem-estar do con-
junto da comunidade nacio-
nal e da humanidade.
Que o humor é fundamen-
tal para manter nossa norma-
lidade. A capacidade de rir-
mos de nós mesmos e da si-
tuação em que nos encontra-
mos é a melhor defesa para
manter distância de nossos
medos e não cair na depres-
são e na histeria. Só os fanáti-
cos, que se alimentam de
ódio, não suportam que as
pessoas possam olhar para a
vida com um pouco de ironia
e um sorriso.
O Estado é imprescindível
para proteger seus cidadãos.
Sem Estado não há socieda-
de. E o Estado é constituído,
sobretudo, por todos os fun-
cionários públicos e cientis-
tas que, dia após dia, velam
para que a vida em comum
seja possível. Certamente de-
vemos melhorar cada vez
mais a qualidade de nossas
instituições, mas a ilusão in-
dividualista que se orienta
pelo princípio de cada um
por si e o mercado por todos
não só ofende tudo o que as
religiões e o humanismo ilu-
minista nos ensinaram, co-
mo empurra a sociedade pa-
ra o abismo. Aprendemos
que a medida última de um lí-
der político é sua capacidade
de agir como estadista e dar
o exemplo em momentos de
crise nacional.
Fica claro que fora da ciên-
cia existem crenças espiri-
tuais que devem ser respeita-
das, mas em temas munda-
nos a alternativa à ciência é
o charlatanismo. Não que
cientistas não possam errar.
Eles erram, até porque o er-
ro é parte constitutiva da
pesquisa científica. E não
que devamos tomar a pala-
vra de cada cientista como
sendo verdadeira, mesmo
porque na ciência não há
dogmas e a divergência é o
coração da vida acadêmica.
Mas é com base nela e a par-
tir dela que podemos tomar
decisões.
Neste momento difícil qua-
se ninguém procura informa-
ção fora dos meios de comu-
nicação confiáveis. A indús-
tria de fake news, que dissemi-
na desinformação e ódio, no
momento está desesperada.
Em situações de risco real
evitamos ouvir mentiras que
têm por objetivo alimentar
preconceitos, ou ler mensa-
gens de ódio, porque senti-
mos que estamos todos jun-
tos no mesmo barco e deve-
mos ser solidários e amoro-
sos. Mas as fake news, assim
que puderem, voltarão a ata-
car. Porque a agenda política
de quem as produz se susten-
ta na demonização das elites
científicas e culturais e dos
meios de informação, no des-
respeito ao debate informa-
do de ideias e à diversidade
de opiniões. Tomara que dei-
xemos de divulgar mensa-
gens do mal.
Se estes tempos difíceis,
com seu rasto de angústia e
dor, nos ajudarem a refletir e
a mudar na direção de ser-
mos melhores, como indiví-
duos e sociedade, poderemos
celebrar, no lugar de procu-
rar esquecer, que fomos par-
te de uma experiência única,
que produziu muito sofri-
mento, mas também permi-
tiu sermos parte de uma no-
va travessia, que terá início
no dia em que pudermos sair
de nossas casas.
]
SOCIÓLOGO
PUBLICADO DESDE 1875
LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)
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LITERATURA
35 anos sem a poeta
Cora Coralina
Atores que viraram
pilotos de verdade
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MUSEU CASA DE CORA CORALINA ACERVO/ESTADÃO
]
Bernardo Sorj
Tema do dia
O novo coronavírus propi-
ciou uma importante refle-
xão sobre a mobilidade.
http://www.estadao.com.br/e/mobilidade
Pessach/Páscoa,
a travessia
‘Milagre do coronavírus’
é todos nos sentimos
parte da mesma
comunidade humana
Lições do
coronavírus
Seria uma pena se esta
crise não nos ajudasse a
repensar a convivência
social, a arte de viver
AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
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Bolsonaro passeia em
Brasília e diz que não
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Presidente contraria novamente
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