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H6 Especial SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
O desafio duplo de fazer a roda girar em tempos de crise
RECALCULANDO
A ROTA
Leticia Ginak
Como a maioria dos empreen-
dedores, Adriana Barbosa pre-
cisou recalcular a rota em tem-
pos de novo coronavírus. O de-
safio é que ela trafega por vá-
rios caminhos e suas escolhas
não impactam somente em
seu negócio. Criadora da Feira
Preta – evento realizado há 18
anos e considerado uma das
maiores feiras de negócios e
cultura negra da América Lati-
na – e do Preta Hub, braço de
pesquisa e capacitação que ro-
da o País, Adriana é um dos
principais nomes que ecoam e
apoiam os empreendedores
negros no Brasil.
Ao lado de outras organiza-
ções de apoio ao afroempreen-
dedorismo – Vale do Dendê
(Salvador), FA.Vela (Belo Ho-
rizonte), Instituto Afrolati-
nas (Brasília), Agência Popu-
lar Solano Trindade e Afro Bu-
siness Brasil (ambos de São
Paulo) –, Adriana já deu um
dos passos para conter os im-
pactos econômicos devastado-
res nesses negócios.
Juntos, eles formam a Coali-
zão Éditodos e acabam de criar
um fundo emergencial para
apoiar financeiramente os negó-
cios que participam de suas re-
des. Com apoio de Itaú Uniban-
co, Assaí Atacadista e Instituto
C&A, cerca de 500 empreende-
dores receberão até R$ 2 mil pa-
ra enfrentar o período de isola-
mento social. A prioridade é
apoiar mulheres negras, com
uma linha de apoio focada ape-
nas em empreendedoras com
idade acima de 60 anos.
O canal para que os empreen-
dedores possam se inscrever
ainda não está disponível e de-
ve ficar pronto nas próximas se-
manas. Acompanhe o site da
Coalizão Éditodos (fundoedito-
dos.com.br) para mais informa-
ções sobre o processo seletivo.
Em entrevista ao Estado ,
Adriana conta que adiou a
abertura do espaço físico Pre-
ta Hub na cidade de São Pau-
lo, programada para este mês
de abril, e diz que as iniciati-
vas público e privadas para
ajudar os nano e microem-
preendedores ainda não estão
organizadas estrategicamente
para funcionar de forma sistê-
mica, ou seja, apoiar todas os
agentes das redes de fomento
ao pequenos negócios. Confi-
ra a conversa abaixo.
lComo foi a criação desse fundo
emergencial da Éditodos?
Em janeiro deste ano começa-
mos a fazer o planejamento da
coalizão para construir a teoria
da mudança com foco no im-
pacto econômico na população
negra e periférica. Quando tu-
do mudou por conta da covid-
19, a gente decidiu criar um fun-
do de emergência para apoiar
nanos e microempreendedores
que nos procuram por conta
dos nossos programas de for-
mação e aceleração, cada uma
das organizações tem relação
com muitos empreendedores
em território nacional.lNão serão todos que poderão
receber o apoio financeiro. Quais
são os critérios para a seleção
dos empreendedores?
A gente tem olhar prioritário
em mulheres negras empreen-
dedoras porque elas estão na
base da pirâmide. A gente tam-
bém vai ter uma linha focada
em mulheres acima de 60 anos,
recebemos um aporte para fo-car especificamente nesse pú-
blico. Fizemos uma pesquisa
com os empreendedores e
muitos estão dentro das áreas
de moda, gastronomia, setor
de serviços, principalmente
estética e beleza, e economia
criativa.lEspecificamente sobre a rede
de empreendedores da Feira Pre-
ta, quais são as principais neces-
sidades deles nesse momento?
Percebi três principais deman-
das das pessoas que nos acio-
nam. A primeira é a financeira –
‘como é que eu pago as minhas
contas?’. A segunda está em
uma dimensão mais subjetiva,
ligada à saúde mental. Muitos
relatam que estão em desequilí-
brio, que precisam de ajuda pa-
ra lidar com essa situação. E a
terceira é a digitalização dos ne-
gócios. Em uma pesquisa para
o fundo da coalizão Éditodos agente viu que boa parte dos em-
preendedores está na área de
gastronomia. Perguntamos
quem usava as plataformas de
delivery e mais de 70% não usa
nenhum tipo de aplicativo.lE de que forma você está
conseguindo ajudá-los?
Estou fazendo mentorias de for-
ma individualizada, buscando
caminhos junto com o em-
preendedor de uma forma efeti-
va. O que dá certo para você?
Às vezes não é montar um e-
commerce, porque tem que ge-
rar estoque e entender como
faz a gestão de um negócio do
tipo. Mas pode ser, por exem-
plo, entender ao máximo co-
mo funcionam as ferramentas
de venda do Instagram, trazer
parceiros de entrega, entre ou-
tras coisas.lQual será a pior consequênciado coronavírus no ecossistema
empreendedor?
É um cenário bastante assusta-
dor. Uma reflexão que eu ve-
nho fazendo é que quando você
olha para esse contexto e vê as
ações que estão acontecendo,
elas ainda são polarizadas. Ou
eu apoio as grandes empresas,
por exemplo, o perfil das com-
panhias aéreas, ou eu apoio o
público Bolsa Família. Entre as
grandes e o Bolsa Família você
tem uma lacuna muito grande
de público que não está sendo
assistido por nada, por ne-
nhum tipo de programa. Outro
ponto é que se fala muito em
apoio na base, mas, para que o
dinheiro ou a cesta básica che-
gue a esse público, você precisa
das lideranças comunitárias ou
de organizações que atuam no
meio e fazem a ponte entre
quem quer doar e quem está na
ponta. E os apoios que estãoacontecendo não estão olhan-
do para isso. Pede-se para a lide-
rança mapear as necessidades,
mas a própria liderança não es-
tá conseguindo pagar as suas
contas. As coisas não estão
sendo feitas de forma sistêmi-
ca e estratégica. É tipo uma en-
grenagem em que cada peça
tem uma função. Se você não
fortalece o papel do interme-
diário, você enfraquece a rede
a longo prazo.lQuais as principais dificulda-
des que você, como agente
intermediária de apoio a uma
rede de empreendedores, tem
nesse período?
Quando eu olho para as linhas
de crédito, por exemplo, as do
Desenvolve SP, que são ótimas,
eu vejo critérios impeditivos pa-
ra conseguir, como não ter seu
nome negativado. Quem hoje
não vai ter nome negativado?
Não tem como usar as mesmas
regras que se usava nesse con-
texto que a gente está vivendo.
É preciso flexibilizar. Fui parti-
cipar de um edital da iniciativa
privada e a ficha de inscrição
que recebi é uma ficha padrão
de empresa que não cabe para
uma instituição de impacto so-
cial. É importante adaptar as
ferramentas. E não é um con-
texto vulnerável apenas para
um público, é vulnerável para o
sistema todo.lComo negócio, quais os princi-
pais impactos econômicos da
covid-19 na Feira Preta?
A gente tinha acabado de em-
preender em um novo negó-
cio, que é o espaço físico Preta
Hub de economia compartilha-
da. É um misto de loja, cozi-
nha e coworking em 500 me-
tros quadrados localizado no
Anhangabaú (região central de
São Paulo) e que está parado.
Que venham os meses de ju-
nho e julho, quem vai ter di-
nheiro para alugar um espaço
agora? Para este ano, eu não
consigo ver futuro para a Feira
Preta se não for seguir pela ló-
gica de investimento de doado-
res, que ajude a minha organi-
zação enquanto intermediária
a passar por essa tormenta. Da
mesma forma que eu estou
olhando o empreendedor e
quero dar suporte para ele, al-
guém vai ter que olhar para a
minha instituição e me dar su-
porte. Senão, fica incoerente
eu falar em dar dinheiro para o
empreendedor, mas nem eu es-
tou conseguindo pagar as mi-
nhas contas. Eu, sozinha, não
vou conseguir. Uma das coisas
que o Éditodos vai fazer agora
é um advocacy no mercado pa-
ra fortalecer instituições inter-
mediárias e lideranças comuni-
tárias.PME
Luiz Carlos Merten
Emília Silveira é uma diretora
que não se prende aos gêneros
para fazer seus grandes docu-
mentários. Em Silêncio no Estú-
dio, de 2017, com a cumplicida-
de da amiga Ângela Vieira e par-
ticipação de Fernanda Monte-
negro, retraçou a história de Ed-
na Savaget, ex-repórter que se
destacou como escritora e apre-sentadora de rádio e TV. Em Cal-
lado, que ainda não conseguiu
lançar, voltou-se para o escritor
Antônio Callado.
O primeiro está disponível
no Canal Brasil Play, que agora
também torna acessível a série
de Emília derivada de seu docu-
mentário Setenta, de 2014. No
filme, ela parte em busca dos mi-
litantes – homens e mulheres –
que participaram do sequestro
do embaixador suíço Giovanni
Enrico Bucher, em 1970. Emília
foi presa política. Não preten-
deu, como disse ao Estado na
época, criar um filme histórico,mas um mosaico de lembran-
ças pessoais sobre um perío-
do sombrio, que a todos mar-
cou. Os 70 foram presos e exi-
lados no Chile.
Com depoimentos colhi-
dos para Setenta, Emília fez
também Histórias de Um Tem-
po de Guerra, série com cinco
episódios em que mostra
seus (e suas) personagens re-
fletindo sobre o mundo que
sonharam e o da realidade.
Em tempos solidários de co-
vid-19, um outro olhar sobre
esses filmes pode ser muito
bem-vindo.Sem intervalo
WERTHER SANTANA/ESTADÃO–19/11/2019Entrevista*
David Friedlander
O Itaú Unibanco vai doar R$ 1
bilhão para o combate ao novo
coronavírus. O dinheiro será
transferido para a Fundação Itaú
Social e será administrado por
um grupo de profissionais da
área de saúde liderado pelo médi-
co Paulo Chapchap, diretor geral
do Hospital Sírio-Libanês.
“O dinheiro vai todo para a
área de saúde. Fico feliz com o
apoio unânime dos controlado-
res e do conselho para que o ban-
co pudesse fazer essa contribui-
ção importante no combate ao
coronavírus”, disse ao Estado
Roberto Setúbal, copresidente
do conselho do Itaú, junto com
Pedro Moreira Salles.
“Nessa hora, de verdadeira cri-
se humanitária, achamos que es-
sa iniciativa é um dever”, afirmaMoreira Salles. “Ao reunir conhe-
cimento específico excepcional,
capacidade de gestão e recursos
financeiros, a gente espera estar
à altura do momento.” É a maior
iniciativa filantrópica conhecida
no País. A decisão, antecipada pe-
lo colunista Elio Gaspari nos jor-
nais O Globo e Folha de S. Paulo ,
foi tomada há cerca de dez dias
pelo conselho de administração
do banco e deve ser anunciada
oficialmente nesta segunda.
Os recursos serão usados para
equipar hospitais e podem tam-
bém financiar a produção de re-
médios e materiais como másca-
ras. Este ano, a fundação do Itaú
já havia feito uma primeira doa-
ção para combater a pandemia,
de R$ 150 milhões. Esses recur-
sos estão sendo direcionados avárias ONGs, que distribuem ces-
tas básicas, material médico e
equipamentos para hospitais.Outras iniciativas. Empresas
de todos os tamanhos estão aju-
dando com doações em dinheiroou com equipamentos e mate-
riais de limpeza. É possível acom-
panhar essas ações pelo site mo-
nitordasdoacoes.org.br, uma ini-
ciativa da Associação Brasileira
de Captadores de Recursos. O
Governo Federal criou a platafor-ma Todos Por Todos para regis-
trar as doações.
O Grupo Votorantim revelou
que doaria, por meio de seu insti-
tuto, R$ 50 milhões para entida-
des públicas e privadas para com-
pra de kits de teste, respiradores
e outros equipamentos. A Ameri-
canas.com anunciou que está in-
vestindo R$ 45 milhões em con-
junto com as empresas Rede
D’Or, Bradesco Seguros, Banco
Safra e Instituto Brasileiro de Pe-
tróleo, Gás e Biocombustíveis,
para a construção de um hospital
de campanha dedicado ao atendi-
mento de pacientes do SUS no
Rio de Janeiro. Já a Unilever reve-
lou que doaria cerca de 2 milhões
de produtos, entre sabão, sabo-
nete e desinfetantes, somando
R$ 3 milhões em doações.O Rio das Almas Perdidas /
River of No Return
(EUA, 1954.) Dir. de Otto Preminger, roteiro
de Louis Lanz e Frank Fenton, com Robert
Mitchum, Marilyn Monroe, Rory Calhoun.O clássico neo-realista Ladrões
de Bicicletas refeito como wes-
tern. Ex-presidiário que tenta
recomeçar com o filho acolhe
jogador e a amante, mas o cara
rouba seu cavalo (e o revólver).
Mitchum, Marilyn e o garoto en-
frentam índios e a natureza, até
o confronto final. O formato ci-
nemascope é muito bem usado,
os exteriores são gloriosos, a es-
trela canta. No limite, a paz inte-
rior, reconquistada, leva à liber-
dade. / L.C.M.
TEL. CULT, 22 H. COLORIDO, 91 MIN.Adriana Barbosa, criadora da Feira PretaITAÚ VAI DOAR R$ 1 BI PARA COMBATER CORONAVÍRUS
l DeverDinheiro será usado para
equipar hospitais e
financiar a produção de
remédios e materiais,
como máscaras
Meta. Setúbal, do Itaú: ‘O dinheiro vai todo para a saúde’O olhar
documental
de Emília
Silveira
DESTAQUE
DIVLUGAÇÃOFilmes na TV
“Nessa hora, de verdadeira
crise humanitária,
achamos que essa
iniciativa é um dever.
A gente espera estar
à altura do momento”
Pedro Moreira Salles
COPRESIDENTE DO CONSELHO DO ITAÚDIVULGAÇÃOIARA MORSELLI/ESTADÃO