O Estado de São Paulo (2020-04-13)

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 Especial H7


Hairton Ponciano


Antes que os primeiros automó-
veis começassem a ganhar as
ruas, nos anos 1880, alguns desa-
fios precisavam ser vencidos. O
primeiro deles era como colo-
car essas máquinas em movi-
mento sem au-
xílio de cava-
los. Vencida
essa etapa, a
próxima era
como fazê-la
parar com o
mínimo de se-
gurança. O ter-
ceiro obstáculo era como fazer
para mudar de direção, já que as
rédeas haviam saído de cena
juntamente com os animais.
A mudança de direção feita
por um volante circular chegou


ao automóvel depois do motor
e dos freios. Os primeiros mode-
los automotores (que se movi-
mentam por meios próprios,
sem auxílio de força animal) ti-
nham uma haste rudimentar (a-
liás, como quase tudo nos pri-
mórdios dos veículos) conecta-
da ao eixo dianteiro. Era essa
peça que estabelecia a ligação
entre homem e máquina.
Um sistema como esse foi o
responsável
por indicar a
direção a se-
guir do primei-
ro veículo mo-
torizado pa-
tenteado, que
recebeu o no-
me de Patent-
Motorwagen – exatamente pa-
ra não deixar dúvidas sobre seu
pioneirismo. Isso foi em 1886,
na Alemanha. O motor de um
cilindro gerava menos de 1 cava-
lo (0,9 cv, para ser preciso).

Sob controle. A rápida evolu-
ção da velocidade passou a exi-
gir a instalação de sistemas de
freios e de direção que acompa-
nhassem o ritmo dos motores.
Caso contrário, o carro não pa-
raria ou não faria a curva de for-
ma adequada. Ou os dois. O pri-
meiro volante circular de que se

tem notícia foi utilizado em
uma competição em 1894. A
prova, nos primórdios da histó-
ria do automóvel, reforça a te-
se de que as corridas com car-
ros começaram assim que o se-
gundo automóvel foi criado.
Foi esterçando para lá e para
cá um volante circular que o

francês Alfred Vacheron dispu-
tou a primeira corrida de auto-
móveis da história, em um per-
curso de 128 km entre Paris e
Rouen, na Normandia, França.
O Panhard com motor Daim-
ler chegou em 11º lugar, mar-
cando o início de um futuro
bastante promissor.

Apesar dessas experiências
pontuais, até a virada do século
a maioria dos carros ainda saía
das garagens onde eram feitos
com uma espécie de manivela
giratória para a realização de
manobras, ou um comando sim-
ples operado com uma das
mãos, semelhante ao utilizado
em motores de popa de barcos,
só que instalados na dianteira.
Com a chegada do novo sécu-
lo, a direção em forma de circun-
ferência tornou-se comum. Em
1900, a peça foi imediatamente
apelidada de “volant”, termo
que resiste até hoje – em portu-
guês com um “e” no final.
O sistema tornou tão intuiti-
va e simples a operação do veícu-
lo que os primeiros Mercedes,
produzidos pela Daimler, fo-
ram batizados de Simplex.
O próximo passo foi inclinar a
coluna de direção. No começo,
a barra ficava quase na vertical,
sobre o eixo, e portanto o volan-
te ficava deitado.
Embora essa posição tenha fi-
cado quase inalterada por déca-
das em caminhões, ônibus e até
em modelos como a Volkswa-
gen Kombi, por exemplo, aos
poucos a coluna foi sendo repo-
sicionada para a diagonal. Por
isso, o volante assumiu uma po-
sição mais vertical.
Outra evolução importante
ocorreu no tamanho da peça.
Sem nenhuma assistência hi-
dráulica, no começo os volan-
tes tinham de ser grandes. A ra-
zão é que, quanto maiores, me-
nor o esforço para girá-los.

Hidráulica. Isso começou a mu-
dar a partir da metade do século.
Em 1958, a Mercedes lançou a
direção com assistência hidráuli-
ca, que deixou o sistema muito
mais leve. Assim, o esforço do
motorista diminuiu, e o volante
teve o tamanho reduzido.
O passo seguinte foi o acúmu-
lo de funções, muito além da bu-
zina. No quesito segurança, a pe-
ça passou a abrigar o air bag des-
tinado a proteger o motorista
em caso de acidente. Já no que
diz respeito a conforto (e tam-
bém segurança), o volante pas-
sou a incorporar comandos do
sistema de som, hastes para mu-
danças manuais de marcha (ou-
tro sistema vindo diretamente
das pistas), teclas de telefonia
celular e controlador automáti-
co de velocidade, entre outros.

Fórmula 1. O ponto máximo
da tecnologia aplicada em um
volante está nos carros de Fór-
mula 1. A peça concentra todos
os ajustes e controles do carros.
Por meio de botões é possível
acessar vários comandos, como
preparar o carro para a largada
com a máxima potência possí-
vel, selecionar “ponto morto”,
limitar a velocidade para entrar
nos boxes, avisar a equipe sobre
uma parada, conversar com o
engenheiro, balancear os freios
entre a frente e a traseira, etc.

Futuro incerto. O próximo
grande passo do volante na es-
cala da evolução deverá ser seu
desaparecimento. Mas para is-
so será preciso que os carros
cheguem ao nível máximo de
automação, na qual não será
mais necessária a presença de
um motorista. Vai demorar.

VOLANTE

JornaldoCarro


FAZ O MEIO DE CAMPO ENTRE


HOMEM E MÁQUINA HÁ 120 ANOS


Principal ponto de contato do motorista com o carro, peça evoluiu, mas deve desaparecer no veículo autônomo


E


, no meio da pandemia, a El-
la, minha cachorra sharpei,
ficou doente. Não eram seis
da manhã quando fui acordada pe-
lo seu vulto. Sem latidos (ela nun-
ca late), sem choro, apenas seu
olhar fixo em mim. Sei que havia
algo errado. Vou por eliminatória:
será dor de barriga? Descemos pa-
ra ver as necessidades e tudo nor-
mal. Ainda assim, dou remedinhos
paliativos como dipirona para dor,
Buscopan para cólica e Luftal para
gases. Obviamente, com o aval do
veterinário, com quem acabo de fa-
lar pelo WhatApp. Aguardo. Nada;
ela segue agitada e me olhando.
Ao meio-dia, a levo para o hospi-
tal veterinário. Coloco Ella no seu
carrinho, pois ela tem as patinhas

tortas por uma má formação congêni-
ta e não caminha em solos “áridos”.
Tomo todo o cuidado: uso luva, másca-
ra, tenho álcool em gel no bolso e man-
tenho distância das demais pessoas.
Logo descubro o que já sabia e te-
mia: mais um quadro da febre do shar-
pei, uma doença comum da raça. À noi-
te, o quadro piora e preciso retornar
ao hospital. Não tenho carro e nem a
opção de ir caminhando. Não quero
chamar um por aplicativo – nem sei se
teria tão tarde em meio à quarentena.
Lembro de um serviço chamado Moo-
ving Pet (transporte para humanos e
cães), ligo para eles e, meia hora depois,
o Paulo vem nos buscar. Ele acompanha
a consulta e nos traz de volta. Naquele
momento de fragilidade, não queria ser
rejeitada em uma corrida de aplicativo –

que acontece com frequência por o mo-
torista não querer transportar um pet
(seria R$ 50 ida e volta; com a espera,
ficou R$ 100). Os dias seguintes foram
difíceis, a melhora lenta, mas passou.

Agora, ao lado do telefone do veterinário,
tenho o do transporte que aceita pets.

Patas protegidas. Outra descoberta
da semana foram as botinhas de borra-

cha. Ao menos por enquanto, não há
evidências de que os cães possam pe-
gar ou transmitir o coronavírus. Mas
as patas deles podem trazer o vírus
para dentro de casa. Por isso, ao vol-
tar dos passeios é necessário fazer a
higienização. E, sim, dá trabalho.
Por conselho de uma amiga, resolvi
comprar “sapatos” para a Ella, evi-
tando a ida ao box para lavar as pati-
nhas com água e sabão.
O primeiro dia foi o caos. A Ella não
deixava eu colocar, caminhava como
um palhaço. No segundo, fugiu. No
terceiro não consegui colocar porque
não passei talco. Quase desisti. Respi-
rei fundo, comprei o talco e, de repen-
te, tudo ficou melhor. Sexta coloquei
sem grandes dramas e ela parece ca-
minhar com mais segurança. Na vol-
ta, cuido para a pata dela não encos-
tar no chão onde havia pisado com os
sapatos. Ainda é uma operação digna
de 007, mas melhorou. E vamos com
fé... ela não costuma falhar!

ELEMENTO CIRCULAR
FOI UTILIZADO PELA
PRIMEIRA VEZ EM 1894,
EM UMA CORRIDA

Guia pet friendly*


Multitarefa. Em carros como os da Porsche e da F-1 (acima), peça agrega múltiplas funções

RENAULT/DIVULGAÇÃO

Esmero. No
Mercedes
SSKL 1932,
de corrida,
peça era
bem grande

Sustos e fé


CRIS BERGER/GUIA PET FRIENDLY

CRIS BERGER
GUIAPETFRIENDLY.COM.BR

l]


PORSCHE/DIVULGAÇÃO

DAIMLER/DIVULGAÇÃO
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