O Estado de São Paulo (2020-04-13)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-8:20200413:
A8 SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Metrópole


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Fabiana Cambricoli
Paula Felix


O número de registros de
mortes por insuficiência res-
piratória e pneumonia no Bra-
sil teve um salto em março,
contrariando tendência de
queda que vinha sendo obser-
vada nos meses de janeiro e fe-
vereiro. Foram 2.239 mortes
a mais em março de 2020 do
que no mesmo período de
2019, o que levanta a suspeita
de que vítimas do coronaví-
rus podem estar entrando
nas estatísticas de outros pro-
blemas respiratórios.

Os dados são do sistema de
cartórios de registro civil e fo-
ram divulgados pela Associa-
ção dos Registradores de Pes-
soas Naturais (Arpen). De acor-
do com levantamento feito pe-
lo Estado na plataforma da en-
tidade, o número de óbitos re-
gistrados em março por esses
problemas respiratórios teve al-
ta de 8,15% no País em relação
ao mesmo mês de 2019. Em ja-
neiro e fevereiro, as ocorrên-
cias haviam recuado 2,59% e
4,19%, respectivamente, em
comparação com os mesmos pe-
ríodos do ano anterior.
Em São Paulo e no Rio, Esta-
dos mais afetados pelo surto de
coronavírus até agora, a alta de
mortes por problemas respira-
tórios foi ainda mais expressiva
do que a média nacional.
O número de mortes por insu-
ficiência respiratória e pneumo-
nia aumentou 14,66% em terri-
tório paulista em março – nos
dois primeiros meses do ano,
houve queda de 6,13% e 8,24%.
No Rio, a alta em março foi de
10,17%. A primeira morte por co-
vid-19 no Brasil foi confirmada
no dia 16 de março e, no final do
mesmo mês, o Ministério da
Saúde contabilizava 201 víti-
mas pela doença. A falta de tes-
tes e a demora para análise dos
exames coletados, porém, le-
vam a um provável cenário de
subnotificação e atraso na con-
firmação de casos e mortes.
Dados do sistema InfoGripe,
da Fiocruz, já haviam mostra al-
ta em março no número de in-
ternações por síndrome respira-


tória aguda grave (SRAG), que
também poderia encobrir os re-
gistros de covid-19. Apenas en-
tre os dias 15 e 21 de março, o
sistema estimou que cerca de
2.250 casos de pessoas foram in-

ternadas com sintomas de sín-
drome gripal forte – além de fe-
bre, tosse, e outros sintomas,
elas têm dificuldade de respi-
rar. Em 2019, houve 934 casos.
Procurado para falar sobre as

mortes, o ministério informou,
em nota, que “diante da insufi-
ciência de insumos no mundo,
nem toda a população será testa-
da”. A pasta disse ainda que a
orientação é de que seja prioriza-

da a testagem dos casos graves e
que “fará inquérito epidemioló-
gico por amostragem para con-
seguir as melhores informações
sobre a dinâmica da epidemia”.

Subnotificação. Presidente da
Sociedade Brasileira de Pneumo-
logia e Tisiologia, José Miguel
Chatkin diz que um aumento de
casos e mortes por problemas
respiratórios é esperado para o
período, em razão das tempera-
turas mais baixas, mas afirma
que o crescimento perceptível
neste ano pode estar relaciona-
do a casos do novo coronavírus
que não foram diagnosticados.
“O frio traz um aumento do
número de infecções respirató-
rias. O que deve estar acontecen-
do a mais é que existe um núme-
ro não determinado de casos de
covid-19 não diagnosticados.
Existe subnotificação porque
não há testes para todas as pes-
soas. Estamos vivendo um surto
muito grave, que tende a aumen-
tar até o início de maio para, en-
tão, ter alguma diminuição.”
A falta de testes para toda a
população também é apontada
por Margareth Dalcolmo, pneu-
mologista e pesquisadora da
Fundação Oswaldo Cruz (Fio-
cruz), para a alta de mortes em
outras doenças respiratórias.
“É possível que haja mortes,
particularmente por pneumo-
nia, que tenham relação com a
infecção causada pela covid-19,

já que estamos testando. Avalia-
ções feitas por epidemiologistas
estimam que, para cada caso no-
tificado, temos 15 outros desco-
nhecidos. Não temos controle
da velocidade de transmissão e a
epidemia cresce de forma desor-
denada. A mortalidade pode não
ser rigorosamente real, porque
não ocorreu testagem em todos
esses óbitos, por falta de testes.”
Segundo ela, a notificação é im-
portante para que sejam estabe-
lecidas estratégias de controle
da doença e para entender como
o vírus se comporta. “É funda-
mental para sabermos o cami-
nho que a transmissão tomou e
toma, a perspectiva de como vai
se disseminar e a proporção de
casos. A imprecisão da magnitu-
de da epidemia atrapalha o enten-
dimento do futuro imediato e do
comportamento da demanda de
serviços. A indefinição de dados
já é altamente prejudicial à comu-
nidade médica e à sociedade.”

Ana Paula Niederauer


O Brasil registrou 99 novas mor-
tes provocadas pela covid-19 e
mais 1.442 casos da doença (7%
de incremento) nas últimas 24
horas, segundo informações do
Ministério da Saúde. Com isso,
em todo o País, o número de
mortes de pessoas contamina-
das pelo novo coronavírus che-
gou a 1.223 (5,5% de letalidade)
com um total de 22.169 regis-
tros. No dia anterior, eram
20.727 casos confirmados.
O Estado de São Paulo conti-
nua sendo o mais afetado pela
pandemia, com 8.755 casos e


588 óbitos, seguido por Rio de
Janeiro (2.855 e 170 pessoas
mortas), Ceará (1.676 e 74) e
Amazonas (1.206 e 62). Esses
são os Estados que mais preocu-
pam o Ministério da Saúde nes-
se momento da pandemia,
acrescido do Distrito Federal.
De acordo com a Secretaria
Estadual de Saúde de São Pau-
lo, foram registradas ontem 28
novas mortes no Estado. Já são
162 cidades com pelo menos
um caso, um crescimento de

63,6% em uma semana. Os óbi-
tos já atingem 63 municípios de
São Paulo. Segundo a pasta, um
a cada quatro municípios pau-
lista tem pelo menos um caso
confirmado da doença. Isso po-
de explicar a preocupação do go-
vernador João Doria de insistir
diariamente na tese de isola-
mento social como uma das for-
mas mais importantes para con-
ter a transmissão do vírus.
Entre as vítimas fatais do Es-
tado, estão 339 homens e 249
mulheres. Os óbitos conti-
nuam concentrados em pacien-
tes com 60 anos ou mais, todos
pertencentes ao grupo de risco,
totalizando 73,4% das mortes.

Pacaembu. O Hospital de
Campanha do Pacaembu, zona
oeste de São Paulo, registrou on-
tem a primeira morte pelo novo
coronavírus, segundo infor-
mou a Secretaria Municipal de
Saúde (SMS). De acordo com a
pasta, um homem de 36 anos,
portador de doença de Chagas,
apresentou piora clínica e mor-
reu no local. Até as 15h de on-
tem, os dois hospitais de campa-
nha da cidade de São Paulo (Pa-
caembu e Anhembi) registra-
vam 74 pacientes internados.
O Hospital Municipal de

Campanha do Pacaembu está
com 61 leitos ocupados. Deste
total, 55 pacientes estão em lei-
tos de baixa complexidade e
seis pessoas ocupam alas mais
graves na sala de estabilização.
Segundo a SMS, três pacien-

tes tiveram alta e vão seguir o
tratamento em domicílio. Infor-
mações da pasta davam conta
de que ainda ontem outras 19
pessoas seriam admitidas no lo-
cal. O Pacaembu foi erguido pa-
ra abrigar até 200 pessoas.

O Hospital de Campanha do
Anhembi, com 326 leitos pron-
tos para a operação e que rece-
beu anteontem o primeiro pa-
ciente contaminado pelo vírus,
tem 13 pessoas internadas em
leitos de baixa e média comple-
xidade. Desses, 12 estão em lei-
tos de enfermaria e um na sala
de estabilização.

Outros Estados. Tocantins
continua sendo o único Estado
brasileiro sem mortes por co-
vid-19. A região Sudeste do País
registrou 12.799 (57,7%) dos ca-
sos até as últimas 24 horas, de
acordo com o governo. A região
Nordeste é a segunda mais in-
fectada com a doença, com
4.246 (19,2%) casos, seguida da
região Sul, com 2.159 (9,7%),
Norte, com 1.898 (8,6%), e Cen-
tro-Oeste, com 1.067 (4,8%).
Ainda segundo informações
do ministro da Saúde, Luiz Hen-
rique Mandetta, o Brasil não
atingiu seu pico de contamina-
ção e mortes, o que deve aconte-
cer na última semana deste
mês. O total de óbitos mais que
dobrou desde a semana passa-
da. Na segunda-feira, dia 6,
eram 553 mortes. O aumento
em relação ao total divulgado
ontem foi de 121%.

Cidades mantêm baixo isolamento. Pág. 9}


VICTOR MORIYAMA/NYT

l Dificuldade

Luto. Coveiros fazem enterro em cemitério em São Paulo

l Prefeito contaminado
O prefeito de Duque de Caxias,
Washington Reis, testou ontem
positivo para a covid-19. Reis es-
tá internado desde a madrugada
de anteontem no Hospital Pró-
Cardíaco, na zona sul. Outros
dois exames feitos anteriormente
tinham dado negativo.

● Primeiros casos foram registrados no fim de fevereiro

NO PAÍS

FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

CASOS MORTES

26 FEV.
2020

17 MAR. 12 ABR.

22.

1.

0

5.

10.

15.

20.

291 CASOS


MORTE

CASO

Em um mês, Brasil tem alta de 2.


mortes por problemas respiratórios


“O familiar fica fragilizado
ao ver alguém com saúde
morrer rapidamente. Fica
sem saber se também
pegou a doença. Essas
pessoas deveriam ser
avaliadas para saber se têm
ou não o vírus.”
Margareth Dalcolmo
PNEUMOLOGISTA

Nº de óbitos por insuficiência respiratória e pneumonia cresceu em março após quedas em janeiro e fevereiro, na comparação com o


mesmo período de 2019, o que levanta a suspeita de que vítimas da covid-19 estejam entrando em estatísticas de outras doenças


De acordo com o


Ministério da Saúde, País


registrou 1.442 casos de


pessoas infectadas nas


últimas 24 horas


Com mais 99 óbitos,


País chega a 1.


vítimas da covid-


Brasil

●Registros de pneumonia e insuficiência respiratória cresceram no mês passado

MORTES PELO PAÍS

FONTE: CENTRAL DE INFORMAÇÕES DO REGISTRO CIVIL - CRC NACIONAL/ARPE INFOGRÁFICO/ESTADÃO

EM NÚMERO DE CASOS PNEUMONIA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

TOTAL TOTAL

TOTAL TOTAL

TOTAL TOTAL

TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL

TOTAL TOTAL

TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL TOTAL

JAN.
2019

JAN.
2020

14.

10.

14.

10.

25.283 24.

-1,95%

-3,44%

FEV.
2019

FEV.
2020

14.

11.

14.

10.

26.118 25.

-4,72%

-3,49%

MAR.
2019

MAR.
2020

15.

11.

17.

12.

27.480 29.

10,97%

4,50%

-2,59%

-4,19%

8,15%

São Paulo
EM NÚMERO DE CASOS PNEUMONIA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

JAN.
2019

JAN.
2020

4.

3.

4.

2.

8.141 7.

-6,10%

-6,17%

FEV.
2019

FEV.
2020

5.

3.

4.

3.

8.468 7.

-9,39%

-6,50%

MAR.
2019

MAR.
2020

5.

3.

6.

3.

8.734 10.

17,71%

10,17%

-6,13% -8,24%

14,66%

Rio
EM NÚMERO DE CASOS PNEUMONIA INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

JAN.
2019

JAN.
2020

1.

1.

1.

1.

2.838 2.

1,66%

-8,21%

FEV.
2019

FEV.
2020

1.

996

1.

1.

2.573 2.

3,87%

6,63%

MAR.
2019

MAR.
2020

1.

1.

1.

1.

2.772 3.

9,65%

10,97%

-2,15% 4,94% 10,17%
Free download pdf