Adega - Edição 174 (2020-04)

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16 ADEGA >> Edição^174


Como é trabalhar numa empresa familiar?
Numa empresa familiar, não tem regras. Você
não tem presidente nem CEO. Mas todo
mundo deve ser capaz de fazer um pouco de
tudo. Todo mundo tem que ser flexível, mas,
claro, dedico mais tempo a certos aspectos do
negócio.

Quais?
Estou começando a dividir as viagens com
minha irmã Gaia. Então, estou mais ligado
à promoção dos vinhos. Mas tento fazer um
pouco de tudo. Como estudei Economia,
ainda estou desenvolvendo meus conheci-
mentos sobre viticultura e enologia. Devo
admitir que estou fascinado pelas questões
ligadas à viticultura, porque é incrível como
você pode se comunicar com as plantas. A
beleza da agricultura é que você pode fazer
qualquer mudança nos vinhedos. Pode levar
tempo para ver, mas sempre vai ter um resul-
tado, que pode ser positivo ou negativo. Ho-
nestamente, é um trabalho lindo, porque me
permite ter um pé na natureza, nas vinhas,
na viticultura e outro no lado comercial. Via-
jar para novos países e conhecer pessoas. Não
posso me queixar.

Poderia nos contar um pouco mais sobre o trabalho que
consultores, a exemplo de botânicos, vêm fazendo na
Gaja?

Para entrar nessa questão, é preciso falar na
mudança climática. Considero a mudança
climática um desafio, porque, nos últimos 20
anos (não sei se vocês sentem o mesmo aqui
no Brasil), o clima realmente está mudan-
do. Os invernos estão ficando mais curtos e
menos rigorosos e os verões mais quentes e
longos. Então, para proteger as características
de nossas vinhas e de nossos vinhos, tivemos
que buscar novas formas de enfrentar a mu-
dança climática. Por isso, começamos a tra-
balhar com diferentes consultorias. Eles não
são experts em vinhas, mas em outros campos,
porque nos vinhedos temos mais de 150 anos
de experiência e não precisamos de ninguém
para nos dizer o que fazer. Trabalhamos com
dois botânicos, um geólogo, um geneticista,
dois entomologistas e temos professores vin-
dos de diferentes universidades na Itália que
todo dia nos informam sobre novas maneiras
de combater os efeitos da mudança climática.

Quais são os principais efeitos que vocês identificam?
Primeiro, as pragas estão se tornando um pro-
blema maior, porque, no inverno, com condi-
ções mais favoráveis, elas já não morrem. Sim-
plesmente ficam dormentes e despertam na
primavera ainda mais agressivas do que antes.
Então, estamos enfrentando pragas que nun-
ca tivemos antes e as que já tínhamos estão
ficando mais agressivas. Para dar um exemplo,

Nosso foco é


incrementar a


biodiversidade


em nossos


vinhedos,


enriquecendo


o meio


ambiente com


microrganismos


que estimulam


a autodefesa


das plantas

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