Adega - Edição 174 (2020-04)

(Antfer) #1

Edição 174 >> ADEGA 17


de cada biótipo. Quando forem colhidas
juntas, teremos complexidade e diversidade,
o que chamamos de grandeza no vinhedo.

E quanto à presença de flores e outras culturas no
vinhedo?
Biodiversidade é um dos conceitos funda-
mentais que estamos buscando. Percebemos
que nas nossas vinhas estavam faltando inse-
tos para fazer a polinização, porque em ge-
ral, nos vinhedos, as vinhas se sobrepõem a
todas as outras espécies que habitam o mes-
mo meio ambiente. Quando isso acontece,
os insetos não mais encontram nutrientes.
Uma abelha ou um inseto que não encontra
flores, não consegue encontrar nutrientes e
não consegue espalhar sementes em volta
para perpetuar o crescimento das mesmas
flores. Junto com dois botânicos com os
quais trabalhamos, fizemos uma seleção de
diferentes flores que reintroduzimos nos vi-
nhedos para atrair muitos insetos diferentes
que queremos em nossas vinhas. Insetos são
fundamentais porque eles realizam essa fun-
ção de polinização e também porque garan-
tem o equilíbrio daquele ambiente. Então,
o conceito principal é manter o equilíbrio
em nossos vinhedos. O conceito de biodi-
versidade é fundamental. Diferentes bióti-
pos de vinhas, diferentes flores, diferentes
tipos de grama.

estamos trabalhando com um professor da
Universidade de Pisa, na Itália, que tem nos
ensinado novas formas de combater essas no-
vas pragas sem usar químicos (pesticidas) ou
danificar o solo. Foi ele quem nos introduziu o
conceito de “confusão sexual” para combater
um mosquito que ataca a uva.

Há algum trabalho voltado especificamente para a
melhoria da Nebbiolo, base dos grandes vinhos de Gaja?
Estamos com um geneticista, que sempre
trabalhou com pomares. Desde 2003, faze-
mos nossa própria seleção massal. Quando
temos que replantar uma vinha de Nebbio-
lo, pegamos uma muda do nosso próprio
berçário. Selecionamos nossas melhores
vinhas velhas e replicamos o seu DNA, por-
que temos seu background genético. Assim
começamos com San Lorenzo, Costa Russi,
Sperss, Conteisa e iniciamos um processo
de seleção manual que demorou três anos.
Pouco antes da colheita, verificamos a pro-
dução, o espaçamento dos cachos. No in-
verno, se elas têm vírus e assim por diante.
Baseados nesses parâmetros, selecionamos
as vinhas que vamos usar. O primeiro crité-
rio é a idade: 45 anos. E a cada visita anual
descartamos algumas, ou porque são muito
jovens ou por terem alguma doença. Outras
são simplesmente acompanhadas, porque
podem ter problemas menores, mas no hori-
zonte de três anos podemos avaliar se serão
capazes de superar esses problemas. Se elas
conseguirem, serão fundamentais, porque
isso significa que, em seu DNA, elas têm o
gene para combater aquela doença específi-
ca. Ao final desse processo, conseguimos 50
ou 60 biótipos diferentes de Nebbiolo, que
são as melhores vinhas que temos. E serão
acrescentadas à seleção que já temos. Qual
é a riqueza dessa abordagem? Quando te-
mos que replantar uma vinha, selecionamos
um desses biótipos. Um que é mais produti-
vo, outro que é menos produtivo; outro que
é mais resistente a pragas; outro que tem ca-
chos mais espalhados e os replantamos jun-
tos em nosso vinhedo. Usando esse método,
teremos 60 biótipos diferentes e 300 plantas


“Nosso estilo é ditado pela
Nebbiolo. Tentamos aplicar o
mesmo conceito que usamos
para a Nebbiolo às demais
variedades com as quais
trabalhamos”
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