Adega - Edição 174 (2020-04)

(Antfer) #1

Edição 174 >> ADEGA 19


mente e usada no Sito Moresco. Essa Barbera
é especial, porque é plantada nos melhores
solos e com a melhor exposição solar. Então,
desde 2015, Sito Moresco tornou-se um corte
de, predominantemente, Nebbiolo e Barbera,
com 10% de Merlot.

Houve mudanças também
nos vinhos produzidos na Toscana?
A partir de 2015 fizemos algumas mudanças
em Ca’Marcanda, em Bolgheri. Modifica-
mos os cortes do Magari e do Ca’Marcanda.
Até 2014, os três vinhos que produzimos em
Bolgheri (Promis, Magari e Ca’Marcanda)
tinham por base a Merlot. A partir de 2015,
apenas Promis é baseado na Merlot. Magari
e Ca’Marcanda estão mudando para ter por
base Cabernet Franc, no caso do primeiro, e
Cabernet Sauvignon, no do segundo. Essa foi
uma decisão que tomamos em razão da mu-
dança climática, do aquecimento. Percebe-
mos que as duas Cabernet são variedades que
suportam melhor o calor, na verdade, adoram
o calor. Então, mudamos o Merlot para áreas
de clima mais frio em Bolgheri. Isso é fruto do
conhecimento que acumulamos em 23 anos
em Bolgheri. Nossa experiência mostrou que


nos últimos anos as Cabernet deram sempre
bons resultados em termos de qualidade.

Aparentemente, o que vocês decidiram
é que cada vinho deve ter personalidade própria...
Exatamente. Agora, os três vinhos são com-
pletamente diferentes uns dos outros. Promis
era, e continuará sendo, um corte à base de
Merlot, Syrah e Sangiovese. Magari tornou-
-se predominantemente Cabernet Franc, com
Cabernet Sauvignon e uma pequena porcen-
tagem de Petit Verdot. Ca’Marcanda passa a
ser predominantemente Cabernet Sauvignon
com Cabernet Franc.

Vocês estão eliminando a Merlot?
Mantivemos Merlot nos melhores solos que
temos, localizados em áreas mais frias. E isso
é fundamental para o Promis, que, a partir de
2015, teve um grande aumento de qualidade.
Até 2014, as melhores parcelas de Merlot iam
para o Ca’Marcanda, que é o top da vinícola.
Com essa mudança, a Merlot, plantada nos
melhores solos, nos melhores climas, nas me-
lhores áreas, vai apenas para o Promis.

Mas isso não altera o estilo dos vinhos?
Essa mudança foi benéfica para todos os vi-
nhos, mas houve uma pequena mudança no
estilo, porque, quando você tira a Merlot, está
tirando um pouco da maciez e da “redondez”
que ela aporta. Então, Magari e Ca’Marcanda
estão mudando para se tornar mais fechados,
mais tensos. São vinhos que, quando jovens,
são mais fechados, que levarão um bocado
de tempo para se abrir, mas que envelhece-
rão maravilhosamente. Assim, estamos cami-
nhando para um estilo de Cabernet Franc e
de Cabernet Sauvignon que lembra o da Neb-
biolo.

O fato de vocês estarem fazendo menos
malolática também não contribui para isso?
Sim, mas estamos fazendo menos malolática
nos brancos. Isso afeta mais os Chardonnay.
Nas primeiras safras, nos anos 1980 e 1990,
fazíamos malolática em 80% ou até 100% do
vinho. Naquela época, o clima era diferente e
tínhamos uma acidez tão alta que a malolática

Meu pai
não é uma
pessoa a quem
você chega
e diz “agora
mudamos” e
ele responde
“claro, vá em
frente”. Isso foi
um processo
de ganhar
confiança
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