Adega - Edição 174 (2020-04)

(Antfer) #1
66 ADEGA >> Edição^174

ESCOLA DO VINHO | por^ ANDRÉ MENDES


A

credita-se que a adição de enxofre
ao vinho como forma de conserva-
ção da bebida é uma prática mui-
to antiga. Há algumas referências
sobre o uso de vapores de enxofre
para “melhorar o vinho” no “História Natural”
de Plínio. Todavia, a primeira menção explícita
do uso de enxofre na produção de vinho é um
decreto real alemão de 1487, que permitia que
os produtores de vinho queimassem pedaços de
madeira sulfurados em barris usados para arma-
zenar vinho.
Na época, encharcava-se um pedaço de ma-
deira com enxofre em pó, ervas e incenso, e o
queimava dentro de um barril que depois recebe-
ria o vinho. Logo percebeu-se que isso protegia a
bebida, evitando o escurecimento (dos famosos
vinhos brancos alemães) e retardando a deterio-
ração. Os métodos evoluíram, mas até hoje o dió-
xido de enxofre é usado como um dos principais
agentes para conservar vinhos.
No entanto, a procura por conservantes na-
turais, especialmente na produção de biodinâmi-
cos e também pelos produtores ditos “naturais”,
representa uma tendência crescente na ideia de
limitar o uso de dióxido de enxofre (SO2) des-
de o campo até o engarrafamento. A qualidade e
longevidade do vinho depende, em certa medi-

Troca de


enxofre


por flor
Cientistas pesquisam flor de castanheiro
como alternativa ao dióxido de enxofre
na conservação dos vinhos

da, das propriedades desses conservantes e, geral-
mente, a opção mais comum recai sobre os sulfi-
tos, descritos como tóxicos e alergênicos. O SO2
é tóxico em grandes quantidades, no entanto, as
concentrações usadas na produção de vinho são
mínimas. Sua intolerância é muito rara e pro-
vavelmente encontrada em pessoas com fatores
preexistentes, como a asma, por exemplo.

Castanha do queijo ao vinho
Mas existiria outra forma de conservar o vinho
sem o uso do enxofre? Essa questão é recorrente
na indústria do vinho e faz com que alternativas
sejam pesquisadas. Nesse sentido, após décadas
de estudo, o grupo BioChemCore, do Centro de
Investigação de Montanha (CIMO) do Instituto
Politécnico de Bragança, em Portugal, parece ter
encontrado uma opção.
Analisando a flor de castanheiro, foi possível
selecionar matrizes promissoras que inicialmen-
te foram incorporadas em queijos para efeito
conservante, mostrando-se eficaz. A partir daí,
pesquisadores desenvolveram um componen-
te obtido a partir da flor de castanheiro como
alternativa ao sulfito. “O estudo envolveu toda
a caracterização química, de forma a averiguar
quais os componentes presentes na flor de casta-
nheiro; e envolveu também toda a avaliação da
Free download pdf