Adega - Edição 174 (2020-04)

(Antfer) #1

68 ADEGA >> Edição^174


bioatividade da flor, nomeadamente a atividade
antioxidante e antimicrobiana, dois requisitos es-
senciais no desenvolvimento de um conservante
eficaz. Com esse conhecimento, foi possível veri-
ficar que este ingrediente apresenta uma bioati-
vidade promissora, a qual está relacionada com a
presença de moléculas bioativas, nomeadamente
elagitaninos hidrolisáveis, sendo o majoritário o
trigaloil-hexa-hidroxidifenoil-glucósido. Este in-
grediente foi posteriormente aplicado em vinhos
com o objetivo de ser uma alternativa à adição
de sulfitos”, explica a pesquisadora Lillian Barros.
A pesquisa foi realizada na Quinta da Palmi-
rinha, localizada no vale do Sousa (região dos
Vinhos Verdes), e conduzida pelos investigadores
do CIMO responsáveis pelo desenvolvimento do
produto, juntamente com o enólogo Fernando
Paiva, de orientação biodinâmica. “Em fevereiro
de 2015, num programa de rádio, ouvi o depoi-
mento de uma professora do Instituto Politécnico
de Bragança (IPB), que relatava uma experiência
de fazer a proteção de queijo com flor de casta-
nheiro. A certa altura, disse que a eficácia da flor
estava numa substância com propriedades antio-
xidantes. Para mim, que andava há muito tempo
preocupado em encontrar um substituto aos sulfi-

tos para proteger os meus vinhos, esta informação
foi uma bênção que caiu do céu”, recorda Paiva.
“Nessa mesma manhã, procurei o contato do
IPB e agendamos uma reunião. Mostrei o meu
interesse em fazer uma experiência com vinho e
eles aceitaram o desafio. Nesse mesmo ano, na
safra de setembro, fiz o meu primeiro vinho com
flor de castanheiro, 100 litros. A coisa não correu
nada mal, mas era preciso fazer alguma corre-
ção na dosagem. No ano seguinte, 2016, fiz 350
litros de vinho branco e 700 litros de tinto. Foi
o melhor tinto de toda a minha vida. Em 2017,
fiz 3000 litros e, a partir de 2018, todos os meus
vinhos estão protegidos com flor de castanheiro.
Não quero outro conservante”, garante.

Pó de flor
“A flor de castanheiro é colhida após o período de
fertilização, ou seja, não comprometendo o de-
senvolvimento da castanha. Normalmente, após
esse período, a flor cai ao chão e é então colhida”,
afirma o produtor. Após as flores caírem do casta-
nheiro, elas são recolhidas, secas e trituradas para
futuramente adicionar ao mosto 45 gramas para
cada hectolitro antes de iniciar a fermentação, ou
seja, a substância é aplicada ao mesmo tempo em

A flor de


castanheiro


apresenta


propriedades


antioxidante e


antimicrobiana


O primeiro decreto
oficial de uso do
dióxido de enxofre
como conservante no
vinho é de 1487, na
Alemanha
Free download pdf