Adega - Edição 174 (2020-04)

(Antfer) #1

Edição 174 >> ADEGA 75


Temperaturas abaixo do normal até mudança de
cor das uvas. Da mudança de cor em diante, tudo
mudou, o ideal virou realidade: dias quentes, noites
com temperatura amena à fria. Chuva muito abai-
xo do normal para o período. Em geral, menor pro-
dutividade com excepcional qualidade”, resume
Anderson De Césaro, enólogo da Villaggio Bassetti.


Menos, mas melhor?
“A falta de chuvas de janeiro, de certa forma,
nos prejudicou em termos de quantidade, pois
fez com que as uvas sofressem para se desenvol-
ver, por conta da estiagem. Porém, em termos
de qualidade, uma super maturação que, por
consequência, nos agraciou com esta qualidade
excêntrica”, afirma Deise Tem Pass, enóloga da
Peterlongo. Ela afirma que a vinícola estima uma
safra 40% menor, mas de qualidade excepcional.
Zilio, da Aurora, revela que a empresa também
aguardava um safra menor: “Passamos dos 62 mi-
lhões de quilos. Havia uma previsão um pouco me-
nor. No início se achava que a perda ia ser maior,
mas não se refletiu”. Já Daniel Dalla Valle, enólogo
da Casa Valduga, diz: “A estimativa é que vamos fi-
car com 10% a menos, uma quebra não tão grande
quanto se pensava nas viníferas. Mas imagino que,
para as uvas americanas, houve quebra maior”. Car-
los Abarzúa, da Cave Geisse, em Pinto Bandeira,
afirma que algumas variedades podem ter tido bai-
xas de 25 a 30%.
Mauro Zanus, da Embrapa, aponta: “Estima-se
que a produção total da safra de uva no Rio Grande
do Sul seja um pouco inferior a 2019 (que foi de
614 milhões), ficando entre 550 a 590 milhões de
quilos”.


Safra histórica?
Indubitavelmente a safra 2020 no sul será lembra-
da. “Falamos da safra dos sonhos”, afirma De Cé-
saro. “Para mim e acredito que para muitos outros
enólogos, esta safra é única, excepcional, posso até
arriscar que a melhor”, entusiasma-se Deise. “Tal-
vez esta tenha sido a nossa grande safra”, apon-
ta Renato Savaris, enólogo da Maximo Boschi.
Diante de tamanha qualidade, ele revela que está
comprando grandes quantidades de uva para suas
linhas já tradicionais e também outras variedades:
“Nesta safra estamos trabalhando novas varieda-


des, além das tradicionais Merlot, Cabernet Sau-
vignon e Chardonnay, como Tannat e Marselan”.
“Foi um ano ímpar”, pondera Alejandro Car-
doso e continua: “Este ano foi totalmente diferen-
te e vai pesar muito nas regiões com três faixas de
temperatura no verão: na Campanha, muito seco e
bastante calor; na Serra, com início quente e com
chuvas esparsas; e Vacaria, que foi mais fresco e
choveu como na Serra. Vai-se notar bem essas ca-
racterísticas nos vinhos futuramente”.
“Na Serra Gaúcha, você nunca vai falar que
um ano foi ruim para brancos e espumantes, mas
numa grande safra é porque tudo foi bom, inclusive
os tintos. Os tintos no clima seco conseguiram con-
centrar muito açúcar, 23, 24, 25 grau Babo (que re-
presenta a quantidade de açúcar, em peso, existente
em 100 g de mosto), que não é normal, e também
conseguiu concentrar cor, tanino, estrutura. So-
mando tudo, tivemos uma safra das melhores”, ava-
lia Edegar Scortegagna, que afirma ainda que 2020
certamente superará a fama de 2005: “Se comparar
a qualidade da safra e somar isso à ‘maturidade’ das
vinícolas, esta realmente não tem igual”.
“Acho que a safra 2020 vai se equiparar com


  1. Teve outras safras excelentes, mas essa foi fora


“Para mim
e acredito
que para
muitos outros
enólogos,
esta safra
é única,
excepcional,
posso até
arriscar que
a melhor”,
Deise Tem
Pass
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