Adega - Edição 174 (2020-04)

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da curva, excepcional. De 1991 não tenho muitas
lembranças, pois foi quando comecei a estudar,
mas aquela safra ficou na história e, pelo que co-
mento com o pessoal do interior, eles fazem uma
correlação com 1991. Depois de 30 anos, uma safra
que fica na história de novo. Naquela época, não ti-
nha os vinhedos preparados como hoje, nem tantas
vinícolas e tecnologia. Agora temos uma qualidade
excepcional em um momento de produção dife-
rente”, contextualiza Daniel Dalla Valle.
“Nos últimos 36 anos (desde que moro no Bra-
sil) nunca tinha visto essa qualidade e sanidade.
Vai ser uma grande safra para os tintos, com muito
corpo, estrutura, cor, tanino. Nunca vi colher uva
com tanto tempo no vinhedo. Houve grandes safras
como 1991, 1999, mas como esta, nunca”, comen-
ta Carlos Abarzúa.

Os destaques
Diante de tanta qualidade, seria possível destacar
algo? “Todas as variedades vieram com alta quali-
dade. Na Serra, destacaria a Pinot Noir, tanto para

base de espumante como para tinto, e a Sauvig-
non Blanc, sensacional, além de Chardonnay e
Merlot. De Campos de Cima, Sauvignon Gris e
Albariño, esta última estava especial. Na Campa-
nha, Pinot, Gewürztraminer, Tempranillo e Tan-
nat. A variedade mais constante em todo lugar foi
a Merlot”, resume Alejandro Cardoso, para quem,
cada vez mais poderemos ver safras desse nível no
Brasil: “O clima está mudando. Temos a sorte de
estar onde estamos, temos água, temos um bom
diferencial térmico, devido à altitude. Este ano
é fora da curva, mas acho que isso pode ser uma
tendência para os próximos. Vamos começar a ter
condições de mudanças climáticas reais”.
“Esmagamos Pinot com 19 graus Babo, que é
muito alto, e é uma variedade que tem dificuldade
de maturação na Serra. O que mais surpreende é
a Merlot, que tem uma expressão mesmo com o
vinho ainda não finalizado. E sabemos que é uma
casta que tem intolerância a climas mais úmidos”,
afirmou Flávio Zilio.
“Para nosso Merlot, que provém de vinhedos de
Encruzilhada do Sul, as uvas estavam surpreenden-
tes, não só pela maturação enológica, mas princi-
palmente pela fenólica. Esta variedade nos propor-
cionou um vinho com 14,8% de álcool potencial
sem nenhum tipo de intervenção. Fantástico. Es-
tamos ansiosos para ver os resultados”, conta Deise
Tem Pass.
“O Merlot do Vale dos Vinhedos é uma coisa de
outro mundo, com 23 graus Babo, maturação fenó-
lica perfeita. De uma maneira geral, os Chardon-
nay amadureceram bem, em Encruzilhada tem a
Viognier e a Pinot... foi um ano de excelência. Este
ano vai ter que se esforçar bastante para fazer vinho
ruim, mesmo com quarentena – devido à epide-
mia de coronavírus. Psode deixar o vinho na adega
e, quando voltar, ele vai estar bom”, brinca Dalla
Valle, que complementa: “Uva excelente, madura,
taninos maduros, carga de cor, é uma safra que abre
um leque para poder lançar novos produtos”.

“Acho que a safra
2020 vai se equiparar
com 1991. Teve outras
safras excelentes, mas
essa foi fora da curva,
excepcional”, Daniel
Dalla Valle

Estima-se que a produção
total da safra de uva no
Rio Grande do Sul seja
um pouco inferior a 2019
(que foi de 614 milhões),
ficando entre 550 a 590
milhões de quilos. A
qualidade, contudo, foi
excepcional

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