Antologia Grêmio Cultural
em casa com a filha, não tinha dinheiro. Como era
difícil ser mãe! Mas Vânia adorava esse papel,
Carolina era sua razão de viver. Apesar de tudo a
que ela havia renunciado por esse amor, ela se
sentia realizada a cada sorriso de Carolina.
Vânia pensou em como essa menina
amorosa havia se transformado em uma
adolescente arredia. Só o que importava para ela
era o ballet, os ensaios, a perfeição. Nada do que a
mãe dizia tinha valor, ela se sentia imperfeita e
incapaz. Se ao menos a mãe tivesse prestado mais
atenção...
Dobrava cada peça com muito carinho e
esmero. Antes as cheirava, para ter certeza que
estavam limpas, e em cada uma sentia o cheiro da
filha. O mesmo cheiro daquela menininha que vinha
chorando com os joelhos ralados, ou rindo com as
mãos sujas de amoras comidas no pé, ou ainda,
feliz para lhe dar um beijo quando chegava da
escola. Certificava-se de que todas estavam bem
conservadas e então as colocava na mala,
embrulhadas gentilmente em papel de seda branco.
Aos poucos, a mala foi se enchendo, e Vânia se
esvaziando.