MAT1AS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA
nuvens, do vento, da chuva, dois raios, e terremotos, e
de outros muitos efeitos naturais, a química não só
ensina como se produzem, mas também os imita; e isto
sem ser necessário saber se o silogismo está em
Barbara, ou em Celarent. Um alambique, uma
eolípila, uma máquina pneumática, e a mistura de
vários corpos, explicam mais em uma hora, do que um
professor de filosofia em muito tempo; o entendimento
percebe melhor sendo ajudado pelos olhos, do que só
por si. Nas mais ciências também têm havido fortunas,
e desgraças; tôdas encontraram um tempo feliz, e outro
infausto: a vaidade dos primeiros mestres, continuada
em seus sucessores como herança, foi a fonte em que
nasceram as ciências; destas a monarquia principal, é a
Europa; na maior parte do mundo, o desprêzo das
ciências passou à religião; assim devia ser porque a
vaidade, que resulta das ciências, é vaidade de homens
livres, e êstes só os há na Europa: o despotismo
reduziu as outras partes à escravidão. Que vaidade
pode haver em um escravo? Êste, ou seja valoroso ou
sábio, nada disso é seu: o valor e a sabedoria também
entram na escravidão; a vaidade que o escravo pode
ter, também pertence ao senhor: o edifício, a carroça
triunfal, o alfanje, a pêndula, são instrumentos
incapazes de vaidade em si; da bondade deles só o
senhor se desvanece: assim são os escravos; se há
autômatos no mundo, são êles.
(127) A vaidade das letras é maior do que a vaidade
das armas; estas sim têm ocasiões de maior pompa, de
maior grandeza e de maior admiração; mas tudo nas
armas é semelhante ao raio, cuja luz e estré-