matias

(Zelinux#) #1
MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA

não sabe a economia dos seus mesmos movimentos, e
julga que sabe o como se move o Universo; finalmente
não se conhecendo a si, presume que tudo o mais
conhece. A vaidade do saber parece que arrebata o
homem, e que em espírito o faz circular os orbes
celestes; lá conta o número dos cristalinos, vê a esfera
do fogo, e mede a distância, o giro, e grandeza dos
planetas; porém assim que torna a si, nada do que tem
em si sabe, nem conhece: vê um corpo sàbiamente
organizado, e nêle acha vontade, inteligência, ira,
aversão, vaidade, desejo, esperança, amor; acha um
sangue que se move, e um calor que o anima; tudo
distingue com nomes dife-rentes; paixões, sístole,
diástole, espírito vitais, úmido radical; êstes são os
nomes, a que erradamente chamam das coisas, não
sendo senão nomes dos efeitos; o que se conhece, ou
sabe, é o efeito das coisas pela distinção dos nomes;
mas o conhecer o nome, não é conhecer a coisa. Todos
sentimos a impressão do ardor, mas ninguém sabe, o
como essa impressão se faz; e desta sorte o que
conhecemos, é o efeito do frio; e não o frio; vemos a
determinação da vontade, mas não sabemos o como a
vontade se determina. Quem é que sabe de donde vem
o agrado da harmonia, nem o desagrado da disso-
nância? Uma voz suave nos encanta, um som áspero, e
agudo nos molesta; mas quem há de dizer o donde
procede no som a suavidade ou a aspereza? Os efeitos
mais sensíveis, e mais certos, são os da dor, e também
do gôsto; mas quem é o que conhece, de que se origina
o gôsto, nem de que se forma a dor? Ainda os efeitos
das coisas conhecemos mal, só os sentimos; parece que
só temos sensibilidade, e não conhecimento; aquilo que
conhecemos, é porque o sentimos; do nosso sentir
resulta o nosso modo de conhecer. Os primeiros
princípios, e os

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