mesmo incapaz de vaidade, e ainda cheia de simpli-
cidade virginal: infelices os discursos, pois nascendo
em nós nascem de um limo pecador, e por isso terra
ingrata, impura, e adulterada.
(132) Só Deus governa só. Os potentados não podem
governar, sem terem várias hierarquias, ou ordens de
magistrados; nestes delegam o poder; os magistrados
subdelegam aquêle mesmo poder em outros, e êstes o
tornam a subdelegar: assim se forma um corpo vasto,
composto de muitos membros, e todos animados por
um mesmo, e único poder: êste visto, e tomado na sua
primeira origem, é justo, pio, verdadeiro, generoso,
legítimo, protetor, paterno; é um poder, em que parece
está depositado, ou delegado o poder de Deus: depois
que sai daquele centro para dividir-se, ou repartir-se,
logo se altera: enquanto está no trono, é puro; se se
afasta dêle, degenera; é como uma árvore, que se
transplanta para um terreno impróprio: as águas são
limpas quando nascem; depois fazem-se imundas,
segundo os lugares por onde correm: o espírito não
anima as partes, que estão fora do seu corpo, e a alma
que parece, que habita em os membros todos, foge, e
se retira, dos que foram separados: a claridade da luz
não se comunica bem, se a distância em que está é ex-
cessiva; o fogo não tem calor, senão dentro da esfera
da sua mesma atividade; as coisas postas fora da sua
região, tomam uma natureza contrária, e ficam outras.
Que coisa pode haver, que pareça estar mais fora da
sua região, da sua esfera, e do seu centro, do que o
exercício do poder, e da justiça na mão dos sábios?
Êstes são pródigos daqueles atributos, usam dêles
como coisa empresta-