julgar, e não o que basta para saber embaraçar; alguns
há, que fazem do conhecimento da razão uma ciência
imensa, como se fôsse necessário arte para se conhecer
o sol. O caminho da justiça (para quem tem vontade de
andar por êle) é um caminho direito, espaçoso, claro,
fácil, e aprazível; as flôres, que o bordam de uma, e
outra parte, tôdas são perpétuas, porque nunca
murcham; uma primavera constante as reverdece, e
alenta: o caminho porém das injustiças é um caminho
difícil, espantoso, e escuro; umas vêzes é por cima de
rochedos escarpados, por onde cada passo se encontra
um precipício; outras vêzes é por vales estreitos,
sinuosos, e profundos, e donde as árvores são tôdas
infecundas, têm pálidas as fôlhas, e nascendo
desordenadas, e confusas, fazem o lugar seguro, e
próprio para traições, aleivosias, furtos, assassínios; as
mesmas sombras infundem pavor, e fingem vultos
enormes; um ar caliginoso, e denso, apenas pode
alvergar aves noturnas de presságio infausto; os raios,
que ali se vêem, são negros, e têm no abismo o fundo,
apenas pode criar monstros anfíbios; o silêncio, com
que passam, os faz ainda mais fúnebres, e tristes, como
se nascessem do Estige, do Averno, ou do Cocito. Esta
figura representa o caminho da injustiça, caminho, que
não se sabe sem estudo, porque todo se compõe de
circuitos, rodeios, e desvios. Mas que infeliz estudo é
êste, em que se aprende muitas vêzes o caminho por
onde se vai ao inferno! Por isso aquêle digno
magistrado, de uma fiel jurisprudência, só quis saber, o
como se deve julgar; e não o como se pode julgar; e da
mesma sorte só quis saber, o como se devem fazer as
coisas, e não o como se podem fazer; daqui lhe
procedeu o serem justas as suas decisões, e ser o seu
voto acertado sempre; nunca teve por objeto, a justiça,
zelinux#
(Zelinux#)
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