intenta medir o ar, pesar o vento, apalpar as sombras.
(141) Mas por que razão poriam os homens no sangue
a qualidade da nobreza? Seria por ser aquela a parte de
que a vida está mais dependente? Não, porque a vida
não depende mais do sangue, que de outros muitos
líquidos do corpo. O sangue tem na côr mais elegância,
move-se, e existe em porção maior; mas disso não se
segue, que a vida dependa mais do sangue, ou tenha
dêle maior necessidade. A côr é efeito da transposição
da luz; a porção muitas vêzes faz o nosso mal; e na
formação dos mistos é menos importante aquilo, que
entra nêles em mais larga quantidade. Move-se
finalmente o sangue; mas que parte haverá no corpo,
que não tenha um movimento próprio? O que o sangue
parece tem de mais, é que não necessita da nossa
intenção para mover-se; mas isso mesmo tem o corpo
em outras partes; e a depravação do movimento de que
resulta a convulsão, procede de um movimento
involuntário. Não achamos pois o fundamento por
onde os homens quiseram, que fôsse o sangue a fonte
donde a nobreza se imprime, e donde sai. Só nos falta
ver, se será talvez por entenderem, que as sucessões se
continuam pelo sangue, e que êste derivado de uns a
outros, sucessivamente continua em uma mesma
descendência, conservando nela um caráter particular,
distinto, e determinado; e com efeito em cada árvore há
um tronco comum, de onde nascem muitos ramos,
muitas fôlhas, muitas flores, muitos frutos; êstes, ainda
quando são muitos no número, sempre conservam a
mesma ordem, e a mesma identidade na figura; a
qualidade é a mesma, e igual em todos; e todos
reconhecem uma mesma, e universal ori-