matias

(Zelinux#) #1
MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA

sugere em si a imagem de um martírio: a inocência
oprimida sente menos a aflição, porque se desvanece
em considerar-se vítima, de que é propriedade o ser
inocente; e com efeito a constância no sofri-mento é
um justo motivo de vaidade, porque ainda na fama de
um herói não há tanta grandeza, como no silêncio de
um homem aflito; por isso a paciência nunca faz rogos
inúteis: um homem mudo da desgraça parece que força
a providência ao consolar. O merecimento desprezado
entra na vanglória de crer, que todos reparam no
descuido do prêmio: um facinoroso arrasta com
arrogância os ferros, e vai com resolução para o
suplício, a vaidade que lhe anima os passos, consiste na
mesma atrocidade do delito: a mesma pobreza costuma
fazer ostentação da miséria. A vaidade é de todo o
mundo, de todo o tempo, de tôdas as profissões, e de
todos os estados.

(65) Muitas vêzes obramos bem por vaidade, e tam-
bém por vaidade obramos mal: objeto da vaidade é que
uma ação se faça atender, e admirar, seja pelo motivo,
ou razão que fôr. Não só o que é digno de louvor, é
grande; porque também há coisas grandes pela sua
execração; é o que basta para a vaidade as seguir, e
aprovar. A maior parte das emprêsas memoráveis, não
tiveram a virtude por origem, o vício sim; e nem por
isso deixaram de atrair o espanto, e admiração dos
homens. A fama não só se compõe do que é justo, e o
raio não só se faz atendível pela luz, mas pelo estrago.
A vaidade apetece o estrondoso, sem entrar na
discussão da qualidade do estrondo: faz-nos obrar mal,
se dêste mal pode resultar um nome, um reparo, uma
me-

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