Fui conhecer tia Anita e vovô João.
Lembro-o sentado... óculos escuros e boné.
- Bença, vovô! Abençoou-me sem pegar na mão.
Era cego mas no peito ele trazia fé.
Desde aquele passeio sem regresso,
Quando à tia minha me confiou,
Ela foi feliz, tive sucesso,
Pois só me destes dedicação e amor.
Na dupla orfandade, como te demos trabalho!
Ficou em mim morando a palavra gratidão.
Esta palavra divido em pequeninos retalhos
E a ti entrego os retalhos: cada um de um irmão.
Hoje recordando as cinzas do passado,
Lembro minha mãe me entregando a ti:
- Dorme com ela pois a viagem é cedo...
Olha, não vais dar trabalho a tia Vivi.
Com seus conselhos, viajei sem medo,
Ela abraçou-me antes de partir...
- Beija-me, filhinha, disse-me chorando...
Foi uma despedida, nunca mais a vi.