Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
da física epicurista afastou essa possibilidade e é dele que decorre o princípio da
racionalidade do atomismo.
Além dessas duas funções, o atomismo possui uma terceira, decisiva no pla­
no do conhecimento e da ação humana: a explicação da origem das qualidades
sensíveis e de sua imensa variedade. Como para Demócrito, para Epicuro, no ní­
vel atôrníco propriamente dito, não há qualidades -um átomo é uma quantidade
(forma, peso e grandeza), um sólido imutável. As qualidades surgem no nível
macroscópico ou dos corpos compostos: são efeitos das propriedades dos átomos
e das modalidades de suas associações.

A fisica atomista


o átomo é uma realidade indivisível, sólida, compacta, sem vazio e sem in­


tervalo, imutável ou eterna, de maneira que somente os corpos compostos so­
frem mudanças, em decorrência de modificações nas posições de suas partes. Os
átomos não são apenas os componentes das coisas, mas também suas sementes
(spérmata) e por isso as propriedades das coisas decorrem mais da forma ou figu­
ra deles do que de sua composição. As formas ou figuras dos átomos não são
apenas as geométricas, mas de todo tipo e sua diferença é quantitativa, e não qua­
litativa - depende da grandeza e do peso.
Há, além dos átomos, outra realidade que Epicuro denomina de intangível
(aphês) e invisível (adela), e para a qual usa três termos diferentes, conforme a
função realizada por ela: denomina-se vazio (kénon) quando não ocupada; lugar
(tópos), quando ocupada por um corpo; e espaço (chóra
) quando atravessada por
corpos em movimento. Graças a essa realidade intangível e invisível, os corpos
possuem um lugar e podem mover-se.
Todo átomo é constituído por forma, grandeza e peso. A fo rma ou figura
atôrníca é específica (ou seja, há espécies distintas de átomos que, embora inume­
ráveis, são finitas) e dela provém a diversidade dos compostos. A grandeza é uma
variação entre um mínimo e um máximo de magnitude invisível. Um mínimo
porque, do contrário, se diminuíssem sem cessar, depois de certo limiar se dissol­
veriam no nada - o que é absurdo; um máximo porque, do contrário, se aumen­
tassem sem cessar, depois de ultrapassar certo limiar, tornar-se-iam visíveis - o
que é impossível. O peso (ou a gravidade) é responsável pelo movimento direcio­
nal único de queda, ou do alto para baixo, de maneira que a causa do movimento


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