Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
de corpúsculos que vem do objeto e penetra em nossos ouvidos; a da visão, são os
simulacros (eídola) ou réplicas, finas películas emitidas sem cessar pela superfície
das coisas, cuja forma é assim reproduzida, e que se deslocam numa velocidade
insuperável até alcançar nossos olhos (da mesma maneira, com réplicas mais sutis
e mais velozes, as coisas atingem diretamente a alma na fantasia e no sonho). Ao
se deslocar em grande velocidade, a disposição dos átomos no simulacro ou répli­
ca pode diferir da posição que tinham no corpo emissor e por isso a imagem per­
cebida pode ser confusa, distorcida e causar os erros de percepção, dos quais pro­
cedem os erros de opinião (o mesmo deve ser dito para o caso da audição). Na
Carta a Heródoto, lemos:

É preciso admitir que vemos as fo rmas e pensamos por que algo das coisas exterio­
res penetra em nós. Pois as coisas exteriores não conseguiriam, por meio do ar,
imprimir em nós as cores e formas que possuem em si mesmas, nem nos deixar
apreendê-las pelos raios ou por uma corrente natural qualquer indo de nós a eles
[ ... ] é preciso admitir que réplicas destacadas das coisas e reproduzindo suas for­
mas e suas cores entram, sob grandezas proporcionalmente reduzidas, em nossos
olhos e em nossa alma.

o pensamento é uma sensação mediata: nasce das sensações, mas é capaz de
combiná-las, distingui-las, unificá-las em noções gerais, desligar seus conteúdos
das condições de tempo e lugar e contemplar o intemporal. É sobretudo nessa
parte racional da alma que opera o quarto elemento ou o elemento sem nome.
O ato voluntário, como vimos, é uma operação da alma em tudo idêntica à
operação dos átomos na declinação, é uma força interior que nos permite não ser­
mos completamente passivos ou inteiramente submetidos por nossas sensações.


A ÉTICA


o prazer (hedoné *)


A ética epicurista é um hedonismo. Na Carta a Meneceu, onde se encontram as
principais ideias éticas de Epicuro, este afirma que o prazer (hedoné) é o princípio e a
finalidade da vida feliz. Princípio, porque é o primeiro bem conforme à natureza e


(^105)

Free download pdf