Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
por isso dele partimos para acolher ou repelir as coisas, segundo a norma da sensa­
ção. Fim, porque é desejado por si mesmo, o bem que dá sentido a todos os bens.
Por isso mesmo, a regra de vida que prescreve a busca do prazer simultaneamente
prescreve fugir de toda dor do corpo e de toda perturbação da alma:

Dizemos que o prazer é o começo e o fim da vida feliz. Com efeito, por um lado, o
prazer é reconhecido por nós como o bem primeiro e conforme à nossa natureza e
dele partimos para determinar o que é preciso escolher e o que é preciso rejeitar; de
outro, é sempre a ele que chegamos, pois são nossas afecções que servem de regra
para medir e apreciar todo e qualquer bem por mais complexo que seja.

Nas Máximas fundamentais, lemos:


o limite da grandeza dos prazeres é a eliminação de tudo o que provoca dor. Com
efeito, ali onde se encontra o prazer e pelo tempo que ele aí se encontrar, há ausência
de dor ou de sofrimento, ou de ambos simultaneamente.

Pónos significa pena, dor, sofrimento. Por isso, a ausência de dor ou pena no
corpo, aponía,
e ausência de perturbação na alma, ataraxía, eis o que conduz à
vida feliz, eudaimonía.

Indo na direção oposta à de Aristóteles, para quem a natureza de um ser se
manifesta no momento de sua maturação, quando alcança acabamento, Epicuro
se volta para as crianças e animais recém-nascidos para confirmar que o prazer é
conforme à nossa natureza. Não devemos olhar o adulto e sim o recém-nascido,
porque este é o "verdadeiro espelho da Natureza", pois ainda não foi adulterado
pela educação e pela existência social e sua natureza não corrompida é o único juiz:
como todo ser vivo, desde o nascimento o ser humano busca o prazer e o desfruta
e rechaça ou evita a dor tanto quanto pode. Diógenes de Laércio escreve:


Epicuro prova que o prazer é o sumo bem pelo fato de que, desde o nascimento, os
seres vivos buscam o prazer e fogem da dor por uma inclinação natural e sem racio­
cinar (Diógenes de Laércio, x, 137).

o prazer não é um estado negativo, isto é, ausência de dor, mas um estado
positivo. Epicuro fala em prazer do ventre, prazer da carne, de que dependem


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