Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
Sua coragem inflexível podem afrouxar.
Passa os dias e as noites a meditar.

Assim, à imagem do deboche epicurista vêm contrapor-se o ascetismo e a
firmeza de princípios estoicos. No entanto, o que vimos do Jardim e o que vere­
mos do Pórtico certamente nos levarão a recusar tais simplificações, sem, contu­
do, perdermos de vista as diferenças profundas entre ambos, afirmadas desde seu
surgimento.
Não é casual, por exemplo, que, em 155 a.c., ao enviar uma embaixada de filó­
sofos a Roma, os atenienses tivessem enviado um estoico, um platônico e um aristo­
télico e nem pensassem em mandar um epicurista. De fato, apesar de sua importância
na cena filosófica helenística, o epicurismo, única filosofia a não respeitar Sócrates,
permaneceu marginal, suspeita de ateísmo e de falta de civismo. Ao contrário, o es­
toicismo soube reorganizar as tradições religiosas e filosóficas, adaptar-se às mudan­
ças políticas e teóricas, formular ideias e um vocabulário capazes de se popularizar e
encontrar aceitação praticamente em todas as classes sociais do mundo greco-roma­
no. Sob estes aspectos podemos dizer, comJacques Brunschwig, que "o estoicismo,
muito mais do que o epicurismo, foi a filosofia dominante da época helenística".


O Pórtico ou Stoá


o estoicismo recebe seu nome do lugar onde seu fundador, Zenão de Cício,
costumava ensinar, em Atenas. Como estrangeiro que jamais solicitou a cidadania
ateniense, Zenão estava impedido de adquirir terras ou edificios na cidade. Por
esse motivo, dava lições na ágora, sob um pórtico pintado por um célebre artista,
Polignoto. Pórtico se diz stoá em grego e os seguidores de Zenão eram chamados
de "os da Stoá" ou simplesmente oi stoikói, os estoicos. Eis a descrição deixada por
Diógenes de Laércio:


Costumava dar suas lições passeando de um lado para outro no Pórtico Pintado
(poikí/e stoá), assim designado por causa das pinturas de Polignoto [ ... ]. Os que vi­
nham ouvi-lo - e eram numerosos - foram por isso chamados de estoicos (Dióge­
nes de Laércio, VII, 5).

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