entendido, a razão - e, em particular, a capacidade para fazer inferências - tem
um papel central ali onde se trata de construir a estrutura do conhecimento sobre
a base dos dados perceptivos. Em fisica, o Pórtico proclamava um materialismo
extremo e um determinismo sem exceção: o universo é contínuo, sem nenhum
espaço vazio, e todos os seres nele estão ligados uns aos outros por vínculos cau
sais que constituem o destino. Em moral, a única coisa que conta é a virtude e
tudo o que fazemos - mesmo nossas ações mais banais -pode e deve ser fe ito de
maneira virtuosa; quanto à saúde, a riqueza, as honras, tudo isso é sem qualquer
valor moral (mas tem-se razão de preferir a saúde à doença, a riqueza à pobreza ... )
(Barnes e Gourinat, 2009, pp. 8-9).Finalmente, é preciso mencionar que a longa duração do estoicismo, que
perdurou por cinco séculos, também foi responsável pela pluralidade de dou
trinas. Tradicionalmente, distinguem-se, no correr dos quinhentos anos da es
cola, três fases ou épocas: a antiga, em Atenas, entre o final do século IV a.C. e
durante todo o século I1I, corresponde à fundação da escola e à atividade de
seus três primeiros escolarcas (Zenão, Cleanto e Crisipo); a média, entre os sé
culos I e 11 a.C., com centro principalmente em Rodes (os nomes principais
sendo os de Panécio e Posidônio); e a imperial, em Roma, a partir do século I
d.C. (quando se destacam os nomes de Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca). Em
cada uma dessas épocas, as circunstâncias sociais e políticas, assim como o es
tado dos conhecimentos e a vida religiosa foram muito distintos e tais diferen
ças exerceram influência sobre a doutrina estoica, ainda que esta tenha manti
do o "nervo do sistema".
b) Os textos originais
Tudo quanto sabemos do ensino dos três grandes nomes do estoicismo anti
go - Zenão, Crisipo e Cleanto -nos chegou de maneira indireta. Nada restou
dos tratados de Zenão e dos setecentos e cinco tratados de Crisipo restaram al
guns pequenos fragmentos e os títulos, enumerados por Diógenes de Laércio. De
Cleanto, temos apenas o "Hino a Zeus". As únicas obras originais que nos chega
ram são as do estoicismo imperial (Epicteto, Marco Aurélio e Sêneca), escritas
quatro séculos depois da fundação da escola.
O problema se agrava porque praticamente tudo quanto sabemos do estoi
cismo antigo, exceção feita à doxografia de Dióge�es de Laércio, provém de fontes
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