les mencionados pela obra. Recebeu do livreiro a indicação de procurar Cratés, o
Cínico, cujas lições teria passado a acompanhar.
Seja como for, sabe-se com certeza que Zenão foi discípulo de Cratés, que
seguia os ensinamentos de Antístenes, socrático menor fundador da doutrina cí
nica. De acordo com os cínicos, o sábio despreza as convenções sociais, vive em
conformidade com a natureza e em sociedade consigo mesmo, nada tendo a es
conder. Depois de certo tempo, insatisfeito com os ensinamentos cínicos, Zenão
tornou-se discípulo de dois acadêmicos, Xenócrates e Pólemo; a seguir, passou a
ouvir o megárico Estilpão e o dialético Diodoro.2 Além dessas influências diretas,
leu Heráclito - de quem herdou a importância dada ao fogo originário -, os pi
tagóricos - dos quais herdou a teoria do eterno retorno - e Aristóteles - cujas
ideias iria combater. Finalmente, teria dito que havia sofrido dois naufrágios feli
zes: o primeiro perto do Pireu, o segundo ouvindo vários mestres, mas chegara a
hora de deixá-los. Começou, então, a ensinar sob o Pórtico Pintado e a polemizar
com Epicuro, o aristotélico Teofrasto, o acadêmico Arcesilau, o dialético Filo e o
megárico Alexinos.
Sua primeira obra, escrita na juventude e sob a influência de Cratés, intitula-se A república. Nela, defende não apenas as ideias cínicas e algumas suas, tidas
como escandalosas (liberdade sexual, crítica da religião, antropofagia), mas tam
bém critica Platão, à maneira dos cínicos e megáricos, negando a existência de
entidades incorpóreas (as ideias são objetos de pensamento e não realidades em
si) e afirmando a corporeidade da alma.
Embora a precariedade de fontes dificulte determinar quais ideias são suas e
quais de seus sucessores, os estudiosos tendem a considerá-lo o fundador da esco
la e a lhe atribuir os dogmas fundamentais do estoicismo. É dele a concepção da
filosofia como sistema dividido em três partes (fisica, lógica e ética). Na ética, são
ideias suas: a afirmação de que a virtude é o único bem e o vício o único mal e de
que além das coisas boas e más, há coisas indiferentes e, entre estas, as preferíveis,
como a saúde; a aquisição da virtude é uma questão puramente racional; a inven
ção das ideias de dever e dever peifeito; a rejeição de todas as paixões, definidas
como erros de julgamento. Na fisica, dele vem a afirmação do fogo como elemen
to primordial e a recusa da eficácia causal de entidades incorporais. Na lógica, in
troduz a teoria do conhecimento como representação proveniente da impressão
sensorial e faz da representação apreensiva o critério do verdadeiro.
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