Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1

sido aluno do adversário de Zenão, o acadêmico Arcesilau e do próprio Zenão,
mas sabe-se, com certeza, que foi discípulo de Cleanto, de quem divergia constan­
temente e a quem teria dito que bastava que lhe enunciasse os dogmas que, sozi­
nho, ele próprio encontraria as demonstrações. Apesar das divergências, Cleanto
o escolheu como sucessor. Tornou-se escolarca em 229-230.
Segundo Diógenes de Laércio, dizia-se que "sem Crisipo não haveria o Pór­
tico". De fato, graças à sua personalidade forte e orgulhosa e aos seus dons de
dialético, Crisipo conseguiu reunificar a escola e reconstruir o sistema. Polemizou
contra o ceticismo da Nova Academia e sobretudo contra o hedonismo epicurista,
além de atacar os dialéticos de Megara. Polemista dogmático e dialético sutil,
suscitou a afirmação de que "se houver uma dialética entre os deuses, é a de Crisi­
po" (Diógenes de Laércio, VII, 180). De acordo com Diógenes de Laércio, era hábil
construtor de paradoxos, como, por exemplo, o seguinte: quem revela os misté­
rios aos não iniciados é ímpio; ora o hierofante revela mistérios aos não iniciados,
logo, o hierofante é ímpio. Ou então este outro, famoso: se falas de alguma coisa,
essa coisa sai pela tua boca; se dizes carro, um carro sai pela tua boca.
Era um trabalhador incansável: a crermos em Diógenes de Laércio, escrevia
quinhentas linhas por dia e deixou setecentos e cinco tratados, dos quais restam
os títulos de cento e dezenove sobre lógica e quarenta e três sobre ética.
Não frequentava festins nem as multidões, alegando que se seguisse a multi­
dão, não seria filósofo. Numa época em que os reis costumavam recorrer aos
chefes de escola como conselheiros, Crisipo manifestava desprezo pelos grandes
e recusou um convite do rei Ptolomeu.
Morreu em 210 a.C., aos setenta e três anos. Diz uma tradição que teria
morrido após beber vinho doce; segundo outra, após explodir em gargalhada ao
ver um asno comer seus figos.


A doutrina


Retomando a definição da filosofia proposta por Pitágoras, os estoicos a
concebem como amor à sabedoria. Esta é a "ciência das coisas divinas e humanas"
e a filosofia" consiste numa arte que lhe é apropriada", "exercício (askésis*) da
virtude", que não é senão a "busca da reta razão". A razão é constituída pelo
conjunto das noções impressas na alma, que, quando é um conjunto de conheci-


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